Foi realizada, na manhã de terça-feira (28), na sede do Conselho Federal de Medicina (CFM), a mesa redonda “Cultura e arte para o bem-estar social”. A discussão teve como moderador o conselheiro federal do estado de Sergipe, José Elêrton, e buscou destacar a importância dos valores humanísticos para a relação médico-paciente. A atividade integrou a programação conjunta dos eventos VI Encontro Luso-brasileiro de Bioética do CFM, III Encontro Ibero Americano de Bioética do CFM e I Congresso Nacional da Sociedade Brasileira de Bioética Médica.
A primeira apresentação, ministrada pelo ex-presidente do CFM Roberto Luiz d’Ávila, teve como tema a importância das humanidades para a prática da medicina. O cardiologista afirmou que a falta de empatia constitui queixa antiga dos pacientes em relação aos médicos e enfatizou que a escuta ativa, considerando a singularidade dos indivíduos, é a riqueza do exercício da medicina. “Uma coisa é a técnica, outra coisa é a relação médico-paciente. No momento em que eu só examino, mas não escuto, eu não consigo saber que demônios aquela pessoa tem dentro dela, que problema ela tem. Esse, para mim, é o maior desafio que temos”, comentou.
Roberto Luiz d’Ávila lembrou, ainda, que a técnica e a relação médico-paciente não se confundem. Afirmou que muitos dos profissionais da medicina aparentam ter mais interesse por métodos e aparelhos do que por pessoas e fez um apelo: “a tecnologia não deve levar à perda do caráter compassivo e humanizado!”.
Reforçando a importância das humanidades e, mais especificamente, da particularidade entre arte e saúde, a segunda apresentação da mesa abordou o tema “prescrição cultural”, sendo ministrada por videoconferência pela vice-reitora da Universidade do Porto, Fátima Vieira. A professora explicou que, ao prescrever atividades culturais, os médicos ajudam a promover a saúde e o bem-estar, principalmente em pacientes idosos. “O idoso, sozinho em casa, sente-se isolado do mundo. Quando ele é convidado a participar de atividades com outras pessoas, logicamente o bem-estar será melhorado, assim como a sua saúde física e a sua saúde mental”, defendeu.
Entusiasta da prescrição cultural, Fátima Vieira explicou que a Universidade do Porto vem implementando, desde o ano passado, um projeto cujo modelo integrado é único no mundo. Envolvendo profissionais das faculdades de Psicologia e Ciências da Educação, o projeto irá proporcionar, nos próximos três anos, uma formação de pelo menos cem médicos, cem psicólogos e cem artistas e mediadores culturais. “Temos um projeto de implementação em todo o Norte de Portugal, temos também um projeto de investigação com mais 14 países europeus e também com o Brasil, em parceria com a Universidade de Campinas”, explica.
Étíca e medicina legal – Ampliando os debates, o tema ética e medicina legal foi discutido pelo presidente da Academia Nacional de Medicina de Portugal, Duarte Nuno Vieira. O médico observou que esta é uma especialidade com cenários absolutamente diversos em diferentes países e lamentou que o tema da ética na medicina pericial esteja ausente nas principais revistas nacionais e internacionais do campo da medicina legal.
Gratidão – O encerramento do VI Encontro Luso-brasileiro de Bioética do CFM, III Encontro Ibero Americano de Bioética do CFM e I Congresso Nacional da Sociedade Brasileira de Bioética Médica contou com a participação do presidente do CFM, José Hiran Gallo, do diretor do Programa Doutoral em Bioética da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), Rui Nunes e da coordenadora dos eventos, Maíra Dantas. Em suas falas, os três demonstraram gratidão pelo empenho de todos para o sucesso do evento.
“Preciso agradecer a todos os participantes que, mesmo com discordância, agiram com não-maleficência e não-maledicência”, afirmou Maíra Dantas. Ela também explicou o significado da semente de gipsófila que estava no crachá dos participantes. “São flores muito pequenas e frágeis que a despeito disso florescem em todos os continentes. Que nós, defensores da bioética, tenhamos a mesma tenacidade e resiliência para semearmos as discussões que tivemos aqui em todos os campos, principalmente na medicina”, ponderou.
O professor Rui Nunes destacou a qualidade dos debates e elogiou a presença dos participantes. “Depois de dois dias de trabalho, é de se elogiar a presença de tantas pessoas nesta sala. É uma evidência de que valeu a pena”, elogiou.
O presidente do CFM, Hiran Gallo, agradeceu a presença dos palestrantes portugueses e dos participantes do evento, “que estão aqui na perspectiva de construir uma medicina mais humana”. Ele também destacou o que o CFM tem feito para melhorar a qualidade da medicina brasileira, como a luta para que os pacientes do SUS e da iniciativa privada tenham o mesmo atendimento, a defesa da lei do ato médico e o compromisso pela qualidade do ensino médico e a favor de uma prova de proficiência para os futuros estudantes de medicina. “O nosso interesse maior é a qualidade da medicina brasileira e um atendimento mais humano”, defendeu.