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Especialistas em bioética de renome debateram na mesa redonda os dilemas bioéticos contemporâneos que permeiam o início e o fim da vida humana

 

A série de debates sobre “Saúde Global e Sustentabilidade: Desafios e Oportunidades”, promovida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), teve um de seus pontos altos na manhã desta terça-feira (27) com a realização da mesa-redonda “Bioética do Início e Fim de Vida”. A atividade faz parte da programação conjunta do VI Encontro Luso-Brasileiro de Bioética do CFM, do III Encontro Ibero-Americano de Bioética do CFM e do I Congresso Nacional da Sociedade Brasileira de Bioética Médica, sediados no auditório da entidade, em Brasília.

A mesa foi moderada pela conselheira federal Maíra Dantas e contou com a participação do debatedor Bruno Leandro de Souza, conselheiro federal e presidente do Conselho Regional de Medicina da Paraíba (CRM-PB). Três temas centrais foram apresentados por especialistas de renome, abordando os dilemas bioéticos contemporâneos que permeiam o início e o fim da vida humana.

A professora doutora Natália Teles, da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, abriu o debate com a exposição “Limites Bioéticos da Genética”. Com uma fala contundente, ela defendeu que avanços como a edição do genoma humano devem ser avaliados com cautela ética, principalmente no que se refere às modificações em células germinativas, cujas consequências podem atravessar gerações. “Não podemos fechar as portas para a ciência, mas é preciso manter um diálogo aberto e vigilante sobre os riscos e limites do que podemos ou não fazer”, pontuou.

Teles também ressaltou o papel do consentimento informado como pilar essencial para a condução ética da pesquisa biomédica. Segundo a professora, não basta disponibilizar folhetos explicativos: é preciso haver diálogo real com os pacientes, para que compreendam o que está em jogo. “A informação deve ser clara, honesta e completa. A bioética começa na conversa”, defendeu.

Reprodução assistida – Na sequência, o professor doutor Drauzio Oppenheimer, da Faculdade de Medicina de Itajubá, abordou “O Papel da Reprodução Assistida no Novo Modelo Social”. Oppenheimer contextualizou os avanços biomédicos — como fertilização in vitro, estudo genético de embriões e útero de substituição — diante das transformações nas estruturas familiares contemporâneas e da crescente prevalência da infertilidade, que afeta até 30% da população em algumas regiões do Brasil.

Ele destacou que a reprodução assistida se tornou uma possibilidade concreta para a constituição de novas famílias, mas que ainda enfrenta barreiras de acesso, sobretudo para as populações mais vulneráveis. “Precisamos de regulação ética supranacional, educação em bioética reprodutiva e políticas públicas que ampliem o acesso com justiça e equidade”, afirmou.

O desafio ético, segundo Oppenheimer, está em equilibrar os princípios de autonomia, beneficência, justiça e não maleficência em um cenário cada vez mais permeado pela tecnologia e pela desigualdade.

Encerrando a mesa, o médico Rodrigo Castilho, ex-presidente da Academia Nacional de Cuidados Paliativos, trouxe reflexões sobre a “Eticidade da Medicina Paliativa diante do Envelhecimento Populacional”. Castilho defendeu que o cuidado paliativo deve ser compreendido como uma ciência aplicada ao combate da violência em saúde, ao prevenir o abandono e a distanásia — intervenções desproporcionais em pacientes em final de vida.

“O cuidado paliativo não é um fim, é um recomeço da dignidade humana diante da finitude. É garantir que cada pessoa, independentemente de sua doença, possa exercer sua autonomia e viver seus últimos dias com alívio da dor e respeito à sua biografia”, declarou. O especialista também criticou a falta de formação ética e comunicacional nos cursos de saúde, que resulta em práticas desumanizadas nos hospitais e UTIs.

Por fim, o assunto foi aprofundado em debate. “Os limites da genética, os impactos da reprodução assistida do novo modelo social e a crescente demanda de comunidades paliativas em uma sociedade que envelhece rapidamente, vai exigir do médico não apenas ciência, mas consciência. E aqui é papel dos Conselhos de Medicina garantir a atuação médica pela dignidade, pela prudência e pelo compromisso ético com o ser humano em todas as suas fases. Como debatedor, proponho uma reflexão. Estamos preparando profissionais para lidar com essa complexidade moral que envolve essas decisões?”, afirmou o debatedor Bruno Leandro.

Próximos passos – O evento prossegue até amanhã (28), reunindo médicos, pesquisadores, acadêmicos e estudantes em torno de temas cruciais para a saúde contemporânea. Ao promover esse espaço de diálogo entre ciência, ética e sociedade, o CFM reafirma seu compromisso com uma medicina centrada no ser humano e nos valores que sustentam o cuidado.

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