
Dilza Teresinha: saúde de fronteiras é uma missão abraçada pelo CFM
Qualidade e acesso a atendimento nortearam as discussões do III Fórum de Médicos de Fronteira do CFM
Os critérios logísticos da área militar para suporte ao atendimento em saúde na zona de fronteira e as bases da Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas foram dois dos tópicos que alimentaram debates durante o III Fórum de Médicos de Fronteira, organizado pela comissão que se dedica ao tema dentro do Conselho Federal de Medicina (CFM). Cerca de 200 profissionais, estudantes e representantes da comunidade acompanharam as discussões.
O encontro aconteceu no município de Cruzeiro do Sul, a 700 quilômetros de Rio Branco, capital do Acre, onde existem cerca de 80 comunidades indígenas. “Com esses debates esperamos contribuir para o aperfeiçoamento da assistência oferecida à população que habita regiões semelhantes. Essa é uma missão abraçada pelo CFM, que assim faz a ponte entre governo, pesquisadores, profissionais e diferentes grupos para enfrentar problemas”, disse a coordenadora do Fórum, Dilza Teresinha Ambrós, também corregedora- -adjunta do CFM.
Infraestrutura – No Brasil, 11 estados fazem fronteira com outros países: Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraná, Rio Grande do Sul, Rondônia, Roraima e Santa Catarina. Neles, 122 municípios são considerados fronteiriços. Desse total, 42 (34%) não possuem hospital geral. Nas outras 80 cidades funcionam 115 hospitais, volume próximo, por exemplo, ao que hoje existe apenas no município do Rio de Janeiro (125). Os dados são do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), coordenado pelo Ministério da Saúde. Pelos dados o ciais, também é possível verificar que os municípios da região fronteiriça somam, juntos, 5.465 leitos de internação no SUS. Das 122 cidades da área, 27 não contam com leitos de internação na rede pública, e outros 33 tiveram uma redução dessa infraestrutura no período de 2011 e 2017.
“Sabemos que muitos desses municípios não têm estrutura e nem de[1]manda para manter um hospital geral, mas é imprescindível que se ofereçam condições mínimas de atendimento em casos mais graves. Em muitos lugares, um paciente tem que esperar dois ou três dias por um transporte que possa levá-lo ao hospital mais próximo”, explicou Dilza Ribeiro. Também se apurou que as cidades que fazem fronteira possuem 654 Unidades Básicas de Saúde ou Centros de Saúde, que têm como objetivo solucionar até 80% dos problemas de saúde da população local. Esses serviços integram a rede de atenção básica.
Assistência – O enfrentamento das dificuldades na assistência à saúde na região fronteiriça atraiu a atenção de várias autoridades, que acompanharam parte das discussões. Participaram, por exemplo, o prefeito de Cruzeiro do Sul, Ilderlei Cordeiro; a deputada federal Jéssica Sales; e o professor Marcelo Siqueira, representando a reitora da Universidade Federal do Acre, Margarida Aquino.
Presidente do Conselho Regional de Medicina do Acre, Leuda Dávalos destacou que “o Acre tem uma grande particularidade, que é fazer fronteira com o Peru e a Bolívia. Além disso, dos seus 22 municípios, ao menos quatro são considerados isolados, o que dificulta ainda mais a oferta de serviços básicos, como saúde e educação. Os colegas médicos que atuam nessas localidades lidam diariamente com o desafio de fazer seu trabalho com o mínimo de recursos e, mesmo assim, estão lá atendendo a população”.