Realizada na sede do Conselho Federal de Medicina (CFM), em Brasília, a Mesa 2 do XIX Congresso de Humanidades Médicas abordou o tema “O fenômeno da exposição nas mídias sociais”. A atividade foi presidida pelo conselheiro federal Domingos Sávio Matos Dantas e moderada pelo também conselheiro federal Jeancarlo Fernandes Cavalcante. Durante o debate, médicos e especialistas discutiram os impactos da tecnologia, a compulsão por selfies e os limites éticos e jurídicos da atuação médica nas plataformas digitais.

O médico e escritor José de Jesus Peixoto Camargo abriu o debate com a palestra “O desafio de ser médico na era da tecnologia”. Ele alertou que, diante da aceleração do conhecimento e da comunicação, o maior risco é a perda do humanismo na prática médica. Ressaltou que “a anamnese não é a história de uma doença, é a história de uma pessoa que adoeceu”, e que o toque humano precisa ser valorizado tanto quanto o exame físico. Para ele, o afeto e a compaixão são elementos insubstituíveis frente aos avanços da inteligência artificial: “Um paciente que recebe um diagnóstico de câncer não vai abraçar o robô”, salientou.

Na sequência, a psiquiatra Sandra Peu apresentou a palestra “Compulsão por selfies e seus riscos”. Ela destacou que a exibição constante da autoimagem pode impactar a constituição da identidade, especialmente entre jovens. Segundo Peu, a busca ilusória pela felicidade, o consumismo, a objetificação do corpo e até a exposição a riscos de violência e pedofilia estão entre as consequências desse fenômeno. “Que valor tem esse selfie? Essa imagem compartilhada? Que valor tem a identidade desse indivíduo?”, questionou, defendendo o resgate da dignidade humana frente ao uso abusivo de filtros e à exposição excessiva nas redes.

Encerrando a mesa, o médico e advogado Alessandro Timbó apresentou, por videoconferência, a palestra “Princípio da responsabilidade no uso das redes sociais”, na qual discutiu marcos jurídicos, bioéticos e normativos que devem orientar a comunicação médica nas mídias digitais. Com base em sua pesquisa de doutorado, Timbó propôs reflexões sobre os limites da liberdade de expressão dos médicos e defendeu que a comunicação deve ser fundamentada no princípio da não-maleficência, alertando para os riscos da divulgação de informações imprecisas ou da promoção de especialidades sem a devida titulação. “O médico não deve divulgar mensagens sem base científica na rede social. Se ele não é especialista, também não deve fazer orientações sobre aquela especialidade”, afirmou.
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