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Sessão foi presidida pelo representante do Global Network of Bioethics Medical Education na Austrália, Russell D’Souza

Educação dos profissionais de saúde foi um dos temas debatidos na sexta-feira (27) no âmbito da 16ª Conferência Mundial de Bioética, Ética Médica e Direito da Saúde, que acontece em Brasília (DF), desde a quarta-feira (24).  Presidida por Russell Franco D’Souza, do Global Network of Bioethics Medical Education (Austrália), a sessão foi aberta com apresentação de Christoph Ostgathe, professor no Hospital Universitário de Erlangen, na Alemanha, que abordou o tema “A Nova Era dos Cuidados Paliativos”. Segundo ele, essa abordagem foca no bem-estar do paciente, considerando aspectos psicológicos, sociais e espirituais no seu fim de vida.

“É o acompanhamento do processo de morte, médica e humanamente”, define. Sua palestra chamou atenção para os desafios clínicos dos cuidados paliativos e como as novas tecnologias podem ajudar a enfrenta-los, como na etapa do diagnóstico do processo de morte e na avaliação e alívio dos sintomas.

Para complementar sua reflexão, o professor recorreu a autores basilares do cuidado paliativo, como Cicely Saunders, Elisabeth Kübler-Ross e Balfour Mount. Por exemplo, Saunders acreditava que essa abordagem deveria estar mais direcionada mais às necessidades pessoais e emocionais dos pacientes e menos na tecnologia e intervenções médicas intensivas.

Para Ostgathe, manter a pessoa no “centro” é muito importante em um contexto de uma medicina cada vez mais técnica, especialmente em situações em que o uso excessivo ou inadequado de tecnologia médica impõe uma carga pesada ao paciente. “Devemos estar abertos para que as equipes clínicas sejam apoiadas por inovações técnicas e digitais, mas temos que analisar quais são as implicações éticas, legais e sociais dessa nova tecnologia”, disse.

Educação e ensino – Daniela Keidar, membro da International Chair in Bioethics, ingressou nas discussões com palestra sobre os “Princípios e Práticas da Educação em Bioética”, sublinhando a importância de se refletir sobre os objetivos de se abordar esse campo do conhecimento e como motivar os estudantes a aprendê-lo.

“Como realmente desenvolvemos a motivação nos alunos para usar a bioética, não apenas como uma questão ou algo sobre o qual penso e escrevo, algo que é apenas uma palavra, mas usando a bioética como uma linguagem?”, questiona.

Na avaliação de Keidar, uma solução está em transmitir um valor adicional ao aluno no ensino de Bioética: “antes de tudo, a relação médico e paciente é a conexão entre dois seres humanos, que realmente precisam de um abraço, de compreensão, escuta e uma resposta”.

Bioética na Índia – Por sua vez, a exposição de Mary Mathew, professora do Kasturba Medical College, em Manipal (Índia), trouxe informações sobre a educação em Bioética em seu país de origem. Ela ofereceu uma perspectiva regional, mostrando a renovação de alguns conceitos bioéticos em nível local ao longo da história e quais as instituições de ensino relacionadas ao tema presentes.

Mathew falou ainda sobre iniciativas e estratégias de ensino, incluindo programas educacionais ou iniciativas que vão além do currículo tradicional oferecido nas salas de aula universitárias. Conforme enfatizou, “devemos ser capazes de revisar um currículo ou adicionar e remover o que é antigo do programa de estudos”.

Baseada em suas experiências pessoal e profissional, Mathew defendeu que “todo professor de medicina ou na área da saúde deve ensinar ética”. Segundo ele, essa responsabilidade não deve ser apenas do eticista. “Considerando o professor de medicina, um obstetra, por exemplo, está ciente de quais são as questões éticas e legais que surgem no cuidado obstétrico, e quem melhor para ensiná-las do que ele? ”.

Comitês de Ética – Na sequência, Paula Castelo, da Universidade Federal de São Paulo, fez uma apresentação sobre “Comitês de Ética e Educação para Bioética”. Ela destacou a instituição do Comitê de Ética em Pesquisa da Unifesp (CEP-UNIFESP) e o papel fundamental dos comitês de ética nas instituições médicas e sua influência na formação e prática da bioética.

O CEP-UNIFESP, segundo ela, tem função consultiva, deliberativa e educacional cujo objetivo final é a proteção do participante da pesquisa. Conforme explicou Castelo, a estrutura é parte do sistema brasileiro CEP-CONEP, que conta com 836 CEPs locais. O CEP-UNIFESP tem 52 membros e recebe e analisa mais de 110 novos projetos/mês.

“Nossos desafios são a necessidade constante de atualização em relação a valores, conhecimentos e práticas; restrições de recursos humanos e materiais; mudanças constantes impostas pelo avanço científico; novas capacidades de pesquisa (mídias sociais, grandes conjuntos de dados, ômicas); pandemia; novas políticas e regulamentações; e garantir a pontualidade da revisão dos projetos”, ilustra.

Esforço global – A série de apresentações foi encerrada com as contribuições de Jasna Karacic Zanetti, professora na Universidade de Zagreb, na Croácia. Ao discorrer sobre o tema “Educação para Bioética como um Esforço Global”, Zanetti enfatizou que “no cenário em rápida evolução da ciência e da tecnologia de hoje, a bioética fornece o framework necessário para abordar as questões morais e éticas complexas que surgem”.

Baseada em sua experiência como Chefe da Unidade de Diplomacia em Saúde no International Council of The Patient Ombudsman e diplomata durante a Presidência Croata do Conselho da União Europeia, Jasna Zanetti destacou ainda a importância de conceber a ética médica em um contexto global.

“A globalização traz consigo uma série de questões bioéticas que transcendem as fronteiras nacionais, como a distribuição equitativa de recursos médicos durante pandemias, as implicações éticas dos ensaios clínicos internacionais e o impacto global das políticas ambientais”, disse.

Ela ainda defendeu a educação global em bioética como ferramenta essencial para abordar as complexas questões éticas do nosso mundo interconectado. “A colaboração internacional e o alinhamento com os padrões de direitos humanos são fundamentais para o sucesso desses esforços. Apesar dos desafios, o progresso feito na educação global em bioética é promissor, e esforços contínuos irão aumentar ainda mais seu impacto”, ressalta.

Para mais informações e para se manter atualizado sobre o evento, visite www.bioethicsbrasilia2024.com

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