Em encontro com parlamentares nesta terça-feira (2), o conselheiro federal do CFM Alcindo Cerci Neto explicou como funciona a avaliação dos egressos dos cursos de medicina em países como Estados Unidos e Canadá. “Nesses países, quem autoriza o funcionamento dos cursos, não avalia seus egressos. Semana retrasada, a professora Andrea Anderson, que é a vice-coordenadora do American Board of Physicians dos Estados Unidos, que é quem faz o teste de proficiência nos EUA, esteve em um evento do CFM e mostrou como é o funcionamento lá. Há uma segregação entre o avaliador e quem é avaliado”, explicou. No Canadá, o exame é aplicado pela Royal College of Physicians.
O conselheiro, que é professor associado da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e representante do CFM na Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM) afirmou que a intenção do CFM nunca foi invadir as competências legais do Ministério da Educação (MEC) ou da Saúde. “O CFM sempre foi aberto ao diálogo, sem abrir mão do princípio da segregação de funções. Quem abre curso de medicina, não avalia o médico. A avaliação deve ser feita pelo conselho de classe. Mas, existe, por parte do governo, uma certa necessidade de se dizer o contrário”, argumentou.
“Infelizmente, é muito frequente vermos médicos sendo julgados porque não aprenderam o que tinham de aprender na faculdade. Quando você é julgado por algo que você faz, e você tem a consciência de que aquilo não deveria ser feito, é uma coisa. Agora, quando você é julgado por algo que você não aprendeu, é desesperador do ponto de vista médico e da sociedade”, argumentou. Alcindo Cerci explicou que foi preocupado com situações como essas que o CFM resolveu abraçar o Exame Nacional de Proficiência Médica (Profimed).
Alcindo Cerci também deixou claro que o governo está criando uma cortina de fumaça ao dizer que, agora, vai se preocupar com a qualidade dos egressos dos cursos de medicina. “Os ministérios da Saúde e da Educação só se movimentaram após a aprovação da urgência do projeto de lei do deputado Zacharias Kalil. O movimento aconteceu por causa disso”, destacou. “Só que a falácia não se sustenta, pois ao mesmo tempo em que fala em fechar cursos, o governo autoriza novas vagas, como as que foram abertas recentemente em Coxim, no Mato Grosso do Sul, numa cidade de 40 mil habitantes. O SINAES (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior) existe há muitos anos e até hoje nenhuma faculdade foi fechada. Isso já poderia estar sendo feito há muito tempo”, exemplificou.
“Ao mesmo tempo, o governo fala em universalizar as vagas na residência médica. Mas a matemática não fecha. Não dá para você universalizar a residência, sem fechar vagas de graduação. E a gente já sabe onde as vagas de graduação têm que ser fechadas” afirmou.
O conselheiro do CFM também ressaltou que 90% dos estudantes de medicina são favoráveis ao exame de proficiência, quando deveria ser o contrário, já que o estudante será o principal prejudicado com uma reprovação. “O estudante quer fazer o exame porque ele quer entrar no mercado de trabalho tendo a certeza de que está capacitado. Ele não quer saber se a faculdade dele tem nota A, B ou C, mas que ele tem condições de atender um paciente. E é só o exame de proficiência, o PROFIMED, que vai gerar, tanto no médico, quanto na sociedade, a segurança do fazer”, afirmou.
“Portanto, não se trata de usurpar o Ministério da Saúde e da Educação. O que se trata é da responsabilidade que o Conselho Federal tem perante a sociedade. Perante aquele paciente que chega em sofrimento em numa unidade básica de saúde, numa UPA, num hospital, numa situação de urgência, e ter a certeza de que aquele profissional que vai atendê-lo tem a capacidade mínima para atendê-lo. Não importa se o atendimento é numa UBS, numa UPA, ou no Albert Einstein. Em todos o atendimento será qualificado”, defendeu.
Alcindo Cerci parabenizou o parlamento brasileiro por levar adianta o projeto de criação do Profimed. “Não se trata de reserva de mercado, mas de proteção da sociedade. E agora que o projeto de lei está com urgência no Senado Federal, o governo vem com o argumento de que o estudante é vítima por ter frequentado um curso ruim, que o governo deixou funcionar. Coitada é a sociedade, que vem sendo atendida por médicos mal-formados. Vocês, deputados e senadores, estão de parabéns por enfrentarem este problema de frente”, elogiou.