Com o objetivo de debater a interface entre a telemedicina e o Choosing Wisely com os cuidados paliativos, o webinar “Novos Rumos da Medicina Paliativa”, promovido pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) na noite do dia 8 de junho, também debateu a atuação dos médicos paliativistas na pandemia da COVID-19. “Como coordenadora da Câmara Técnica (CT) de Medicina Paliativa do CFM, tenho acompanhado a preocupação dos médicos paliativistas na construção de boas práticas que melhorem a qualidade de vida de quem queremos proteger: nossos pacientes. Neste webinar, pudemos constatar que os especialistas e Medicina Paliativa estão preocupados em oferecer as melhores alternativas a quem sofre com a pandemia”, elogiou ao final do evento a presidente do webinar, Maíra Dantas, conselheira federal suplente pela Bahia.
O evento, que foi assistido simultaneamente por mais de cem pessoas, já está disponível na página do Youtube do CFM e pode ser visto aqui.
Choosing wisely – A primeira apresentação foi da intensivista e paliativista Rachel Moritz, que falou sobre o tema “Choosing Wisely: como a medicina paliativa pode ajudar?”. Em sua apresentação, que pode ser acessada aqui, a palestrante caracterizou os cuidados paliativos e o Choosing Wisely (iniciativa da American Board of Internal Medicine Foundation surgida em 2012 para estimular o debate sobre a não indicação de procedimentos desnecessários que possam levar ao dano) e relacionou essas duas áreas de conhecimento à Bioética.
“Levando em consideração os princípios da bioética, como o respeito à autonomia do paciente, a beneficência, a não-maleficência, a justiça e, incluindo a proporcionalidade terapêutica, concluímos que a nossa abordagem deve ser sempre o bem-estar do paciente, sem submetê-lo a tratamentos desnecessários que levam ao prolongamento do morrer”, defendeu.
Sobre a COVID-19, Rachel Moritz afirmou que a doença trouxe particularidades que tornaram mais complexas as atribuições dos médicos, como a alta carga de sintomas, a falta de UTIs e a necessidade do isolamento. Nesse contexto, a telemedicina está sendo um instrumento eficaz, que permite o acompanhamento de pacientes crônicos sem a exposição ao vírus e, também, a comunicação dos pacientes isolados com seus familiares. Esta aula pode ser acessada aqui.
Telemedicina – Entusiasta do uso de tecnologias na medicina e integrante da Comissão de Telemedicina do CFM, o chefe da disciplina de Telemedicina do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP, Chao Lung Wen da Universidade de São Paulo (USP) começou sua palestra enfatizando que teleconsulta não é telemedicina “é apenas uma pequena parte das enormes potencialidades da medicina conectada”, afirmou. “Hoje falamos em telemedicina paliativa, mas minha esperança é que no futuro estejamos falando em medicina paliativa conectada”, ressaltou.
Após fazer um panorama sobre a regulamentação da telemedicina, Chao Wen identificou três situações em que este método de cuidado médico pode ser muito usado na medicina paliativa: a teleorientação, a teleinterconsulta e o telemonitoramento ou a televigilância. Esses três instrumentos, aliados à construção de diretrizes de boa prática, são importantes ferramentas auxiliares da medicina paliativa no futuro. “Eles permitirão uma interconexão rápida e multiprofissional entre os cuidadores do paciente e a família, o que é muito importante no tratamento deste tipo de paciente”, argumentou. A palestra de Chao Wen pode ser acessada aqui.
Telemedicina e Cuidados Paliativos – O último palestrante do webinar foi o presidente da Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP), Douglas Crispim, que falou sobre os impactos da COVID-19 e do uso da telemedicina nos Cuidados Paliativos. Em sua fala, Crispim abordou as “9 lições mais evidentes após a pandemia”, que pode ser acessada aqui.
Entre as lições, estão a de a pandemia evidenciou a necessidade de se usar a tecnologia para conectar e tratar os pacientes, e de que o uso da telemedicina no tratamento dos pacientes trouxe mudanças no atendimento ambulatorial, domiciliar e hospitalar prestado pelos paliativistas. Para o futuro, Crispim vislumbra a necessidade do aprofundamento de discussões éticas e o aprimoramento de documentos oficiais, além da necessidade de mais segurança para usuários e instituições. “Com a pandemia, os cuidados paliativos ganharam força e espaço e a telemedicina se estabeleceu como uma grande aliada para o bem-estar do paciente. O desafio agora é ser inovador, ao mesmo tempo em que devemos ter flexibilidade para manter a mudança. Sempre tendo em mente que temos de gerar a beneficência e a não-maleficência para nossos pacientes.”, concluiu.
Os participantes online enviaram muitas perguntas, principalmente sobre o uso da telemedicina em situações de atendimento, que foram respondidas pelos palestrantes. “Aprendi muito no dia de hoje. A realidade está mudando rapidamente e as discussões que tivemos aqui servirão de bússola para as situações que já estamos enfrentando ou que teremos de nos deparar em breve na medicina paliativa”, afirmou a paliativista e professora do faculdade de medicina da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Úrsula Guirro, moderadora do webinar.