A prática de cuidados paliativos já é regular em alguns locais do país, mas o número exato de unidades que a adotam não é conhecido. O Hospital de Apoio de Brasília (HAB) conta com 19 leitos e recebe aproximadamente 30 pacientes por mês. Parte do Núcleo de Cuidados Paliativos da secretaria de Saúde, oferece atendimento ambulatorial, domiciliar e hospitalar a portadores de câncer. A maioria dos pacientes chega à unidade com o quadro de irreversibilidade da doença atestado. “Alguns vêm em razão de alguma intercorrência, são tratados e seguem sendo acompanhados em casa”, explica a chefe do serviço, Anelise Carvalho Pulschen. Em São Paulo, o Serviço de Cuidados Paliativos do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE) possui 10 leitos de internação e também oferece atendimento em ambulatório e em domicílio. Mas, ao contrário do que acontece em Brasília, os cuidados paliativos aplicados no hospital paulista não são exclusivos aos doentes de câncer. No entanto, os pacientes com outras doenças não passam de 10% do total. Visão integral – “Os cuidados paliativos melhoram as condições gerais do paciente. Ele se sente seguro, mesmo sabendo que não haverá alteração no quadro da doença”, diz Maria Goretti Sales Maciel. Tanto no HSPE quanto no HAB, equipamentos de suporte avançado à vida não são utilizados. Recorre-se apenas a sondas alimentares ou de drenagem, quando necessário. Cirurgias de caráter paliativo também podem acontecer e os sedativos são usados pontualmente, de modo controlado. “Aliviamos bem as dores relacionadas à doença, por isso os pacientes ficam acordados, interagem, recebem amigos”, diz a chefe do HSPE. “As equipes têm uma visão integral do paciente. Elas levam em consideração aspectos físicos, emocionais, familiares, sociais, espirituais, enfim, tudo o que cerca a pessoa”, diz a médica do HAB. Neste hospital, 18 leitos são divididos entre seis quartos. Um sétimo quarto, com um único leito, é reservado ao paciente em situação de morte iminente. Lá, tem a privacidade para receber amigos e familiares com mais conforto, sem limite de visitantes e horários. “Um dos princípios de nosso trabalho é o da aceitação da morte e da valorização da vida”, afirma Pulschen – em seu hospital são promovidos reencontros, pequenas celebrações e até casamentos. Os registros fotográficos desses momentos estão no mural da Unidade de Cuidados Paliativos. Há oficinas terapêuticas, sessões de relaxamento, musicoterapia e treinamento para que os familiares cuidem corretamente do doente. “A vida é importante até o fim. Já conseguimos localizar muitos familiares desaparecidos, que os pacientes gostariam de rever, para que houvesse um reencontro, uma reconciliação. E já houve três casamentos, com presença de padre e juiz”, relata Pulschen. “Há afeto e respeito ao paciente em nossa abordagem. Tanto eles quanto os familiares sentem-se acolhidos, dialogam, sabem o que estão vivendo”, destaca.
Terminalidade da vida: nos centros de atenção especial, o foco está na dignidade
14/06/2010 | 03:00