Os limites do uso das redes sociais na relação médico-paciente foram debatidos durante o I Encontro Nacional dos Conselhos Regionais de Medicina (I ENCM 2016), realizado de 2 a 4 de março, em Natal-RN. Para o coordenador da mesa “A ética e outros cuidados no uso de redes/mídias sociais por médicos”, o 1º Vice-Presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Mauro Luiz de Britto Ribeiro, “as abordagens foram muito enriquecedoras. Ajudaram-nos a fazer uma reflexão sobre o equilíbrio necessário entre o uso da tecnologia e a segurança e privacidade do paciente”.
Durante as discussões, quando se abordou o problema da solicitação de exames complementares substituindo a anamnese, o presidente do CFM, Carlos Vital, ressaltou a importância do equilíbrio. “Temos de ter um raciocínio dialético diante da realidade. Devemos ter prudência diante do uso da tecnologia, mas precisamos incorporar o que é bom”, ponderou.
De acordo com o editor do site Academia Médico e membro da Comissão para Integração do Médico Jovem do CFM, Fernando Carbonieri, “só percebemos o quanto a internet faz parte das nossas vidas quando ela para de funcionar. Ele disse que nenhuma tecnologia vai substituir a história clínica e o exame físico do paciente, contudo, alertou para a mudança de comportamento dos que buscam cuidados. “Com cada vez acesso às inovações, eles vão querer profissionais que respondem também por whatsapp”, provocou.
Carbonieri também mostrou aplicativos que, em sua opinião, podem facilitar a relação médico-paciente, como a criação de comunidades entre médicos, o que poderia ajudar no fechamento de diagnósticos. Defensor do uso das redes sociais, o jovem médico afirmou que a ética profissional deve ser usada como apoio para “o melhor uso da tecnologia a favor dos pacientes”.
Publicidade médica – O 3º vice-presidente do CFM e relator da resolução que trata da publicidade médica (2.125/15), Emmanuel Fortes, afirmou que tecnologia permite a troca de informações, “mas jamais vai substituir o afeto na relação médico-paciente”. Fortes esclareceu pontos da Resolução 2.125/15, como o uso de “selfies” e da propaganda do “antes e depois”. “É abuso o médico ficar colocando sua rotina, como a entrada e saída do consultório, assim como tirar fotos com o paciente. É quebra de sigilo”, argumentou. Tudo que possa ser visto e replicado é proibido, pois expõe o paciente.
Segundo ele, as críticas feitas à Resolução se devem a uma leitura apressada do texto. “Tudo que está na nossa proposta já estava previsto em outros mecanismos legais, como o decreto-lei 4.113/42, que proíbe o médico de anunciar a cura de determinadas doenças para as quais não haja tratamento próprio e a consulta pela imprensa, correspondência ou outro meio análogo”, explicou.
O médico também não deve fazer propagandas com ‘antes e depois’. “Temos de buscar o melhor para o paciente, mas não prometer algo que não temos garantia”, defendeu. Fortes esclareceu, ainda, que a Resolução 2.125/15 não interferiu na relação médico-paciente e não proíbe o uso do whatshapp, “que hoje cumpre o papel antes exercido pelo telefone”. Ao concluir sua apresentação, Fortes afirmou que a Resolução não é imutável. “Toda regra nasce defasada. Temos obrigação de rever nossas resoluções periodicamente”, adiantou. A mesa foi secretariada pelo conselheiro federal pelo Ceará, Flávio Lúcio Gonzaga, que enfatizou ser a propaganda boca a boca a forma mais sólida de um médico montar sua clientela. “A qualidade do nosso trabalho é o melhor cartão de visitas”, enfatizou.