A contratação de médicos e de professores é sempre uma grande notícia. Acrescente-se segurança e se terá o tripé de sustentação para qualquer cidade, qualquer Estado em nosso País. Pernambuco tem uma crônica antiga em torno dessas atividades, com seus piores males passando de governo para governo, servindo de plataformas eleitorais, motivando confrontos, reacendendo brigas de grupos e partidos, e tudo permanece como se nada pudesse ser feito para melhorar. Chega em boa hora, assim, a determinação do governo do Estado de realizar concurso para mais 540 médicos e autorizar a contratação temporária de 1.129 professores para o ensino fundamental e médio. O problema é que o esforço apenas reproduz o que se fez no passado, principalmente em decorrência de ciclos de crise como o que está passando o serviço médico em todo Estado. E, porque não se trata de nada de novo, o que nos perguntamos é por quanto tempo essas medidas atenuarão o problema fundamental que é a situação caótica do atendimento público de saúde e a má qualidade do ensino público. Talvez porque a estrutura esteja sobre bases tão frágeis o os remendos sejam tão precários e para curto prazo, nunca se teve um período em que as coisas funcionassem plenamente, com o atendimento de que a população necessita. Nos dois casos em questão – segurança é outro capítulo – nos defrontamos com deformações clássicas e agravamento acelerado dos problemas. Se sempre tivemos dificuldade no atendimento da saúde quando as populações eram divididas em rural e urbana, com predominância da primeira, o processo de urbanização agravou a situação, transformando o crítico em caótico. Ninguém pode, honestamente, afirmar que o atendimento da saúde pública entre nós é aceitável. Já descemos ao fundo do poço e só nos resta saber quando e como sairemos. O concurso anunciado pelo governo é uma tentativa de mudar o quadro que vem comprometendo o perfil de uma administração fundada na promessa de melhorar o atendimento, principalmente no Grande Recife. Resta saber se a contratação de 540 médicos vai mudar esse quadro. Em nosso entendimento, não vai. Talvez atenue por algum tempo, mas o fundamental, a estrutura, continuará fraturada porque se trata de um serviço público de primeiríssima necessidade, baseado na profissionalização de alto nível, com enorme carga de estudo universitário, especialização, residência, necessidade de dedicação exclusiva, e com remuneração igual a um burocrata de atividades complementares, muito inferior a carreiras como de auditor fazendário, de procuradores, promotores de Justiça, magistrados, estes, sim, dotados de quadros com remuneração que, transposta para um hipotético quadro médico poderia, sim, levar a uma nova realidade no atendimento da saúde pública. Não dá para pensar que um profissional de saúde seja capaz de atender bem à população quando tem que saltar de um para dois, três, quatro, até cinco “bicos” para conseguir uma remuneração próxima à de um promotor ou um magistrado em começo de carreira, mal saído da faculdade. O mesmo raciocínio se pode aplicar à carreira do magistério. O ensino público é marcado pela fama da má qualidade, o que nem sempre corresponde à verdade, principalmente no nível superior. Mas o fundamental e o básico pecam, sim, pela insuficiência, o que é aferido pelas avaliações, o que deixa de ser mero preconceito. É mesmo difícil se ter também profissionais de ensino de qualidade, transferindo qualificação para seus alunos quando eles próprios carecem de qualificação e estão submetidos às mesmas necessidades de fazer “bicos” para sobreviver. Neste caso, com remuneração muito inferior à dos servidores do Ministério Público, do Judiciário ou os órgãos fazendários. Por que não se pensar, então, em ajustar as carreiras de educação, saúde e segurança aos sistemas adotados na área do Judiciário? O que há de incompatível, por exemplo, em se atribuir a um médico cirurgião o mesmo estatuto jurídico que é atribuído a um magistrado, com os mesmos direitos e as mesmas obrigações, acrescentando-se o rigor da lei para o que se omitir de prestar socorro a quem precisa? Fonte: Jornal do Commercio, em 03/02/2009.
Só mais profissionais resolve?
04/02/2009 | 02:00