Nenhum novo medicamento vem sendo desenvolvido para doenças que afetam os mais pobres. É o que aponta o relatório Desequilíbrio Fatal, lançado, nesta semana, pela organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras. O relatório é um levantamento das atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) dos onze maiores laboratórios farmacêuticos do mundo, cujas vendas representam aproximadamente US$ 117 bilhões. Apesar desses valores, apenas um novo medicamento destinado ao tratamento da tuberculose chegou ao mercado nos últimos cinco anos. Oito dessas empresas sequer apresentaram atividades de pesquisa destinadas ao combate de doenças fatais, que afetam quase que exclusivamente a populações pobres, tais como a doença do sono, a leishmaniose e a doença de Chagas. A carência de pesquisas em doenças não lucrativas é comprovada por dados que mostram que, das 1393 novas drogas descobertas entre 1975 e 1999, apenas 13, ou seja, 1% do total, destinavam-se às doenças tropicais. O relatório esclarece que o sistema atual funciona bem quando se propõe a desenvolver medicamentos contra enfermidades como o câncer, doenças cardíacas, ou mesmo para a calvície e a impotência sexual. E explica porque doenças que afetam pessoas com baixo poder aquisitivo não atraem investimentos da indústria privada. A responsabilidade de correção desse desequilíbrio fatal é dos governos, que precisam estar diretamente envolvidos na busca de soluções em níveis globais. O relatório também recomenda que projetos de capacitação e transferência tecnológicas devem ser buscados, de forma a aumentar o investimento em pesquisa em países subdesenvolvidos. A Médicos sem Fronteiras, por meio da ‘Iniciativa para Drogas para Doenças Negligenciadas’ (DNDi) trabalhará na associação de financiamento com novas tecnologias, promovendo a cooperação entre público e privado e fortalecendo a capacidade de pesquisa e desenvolvimento farmacêutico nos países subdesenvolvidos. O objetivo final é desenvolver novas drogas que possam ser adquiridas por aqueles que delas precisam. Como parte desse empreendimento, MSF está financiando o desenvolvimento de três projetos-piloto para medicamentos contra a malária, a leishmaniose e a doença do sono. Seus parceiros incluem cientistas do Brasil (Fundação Oswaldo Cruz/Far-Manguinhos), da Tailândia, da Malásia e de Burkina Faso.
Relatório dos Médicos Sem Fronteiras aponta que Doenças Fatais são Ignoradas
10/12/2002 | 02:00