A Pesquisa sobre Qualificação, Trabalho e Qualidade de Vida do Médico, cujos resultados foram reunidos no livro O médico e o seu trabalho, lançado pelo Conselho Federal de Medicina, em março deste ano, procurou trazer ao público informações sobre a vida e as orientações pessoais dos médicos brasileiros. Neste sentido, a pesquisa do Conselho Federal de Medicina procurou incorporar duas temáticas-chave para permitir melhor compreensão acerca da realidade dos médicos: os valores humanos que eles assumem como princípios que lhes guiam e sua satisfação com a vida. Valores revelados Quanto aos valores humanos apresentados pelos médicos, o modelo teórico que o suporta considera a existência de três critérios de orientação valorativa, cada um subdividido em duas funções psicossociais representadas por valores específicos, como segue: (1) valores pessoais: valores de experimentação (emoção, estimulação, prazer e sexual) e realização (autodireção, êxito, poder, prestígio e privacidade); (2) valores centrais: valores de existência (estabilidade pessoal, saúde e sobrevivência) e suprapessoais (beleza, conhecimento, justiça social e maturidade); e valores sociais: valores interacionais (afetividade, apoio social, convivência e honestidade) e normativos (obediência, ordem social, religiosidade e tradição). Percebe-se que os três valores humanos mais importantes para os médicos no Brasil foram: honestidade (97,3%), ordem social (91,9%) e afetividade (88,2%); seguidos por saúde, no quarto posto (86,7%). Os três valores menos importantes compreenderam: emoção (20,2%), poder (17%) e prestígio (12,5%). As porcentagens antes descritas variaram em função dos estados em que os médicos exercem sua profissão. Em se tratando dos valores denominados de totalmente importantes, honestidade foi considerado mais importante para aqueles de Roraima (100%) e Santa Catarina (98,8%), e menos para os do Acre (92,9%) e Sergipe (94,6%); ordem social foi mais importante para os médicos do Amapá (97,1%) e Pará (96,5%), e menos para os do Amazonas (86,4%) e Goiás (86,8%); afetividade representou o valor mais importante para os médicos de Tocantins (92,6%) e Roraima (92,3%), e menos para os do Acre (78,5%) e Piauí (84,5%). No caso dos valores definidos como nada importantes, emoção se destacou entre os médicos do Acre (26,2%) e Mato Grosso (25,3%), tendo sido menos rejeitado pelos do Amapá (11,8%) e Alagoas (14%); poder apresentou um padrão de respostas equivalente para os do Acre (21,4%) e Tocantins (21,3), sendo menos negativamente avaliado pelos médicos de Alagoas (7,6%) e Piauí (8,5%); finalmente, prestígio foi mais depreciado por aqueles de Roraima (17,9%) e Minas Gerais (16%), o que ocorreu em menor medida entre os do Pará (4,9%) e Piauí (5,4%). Satisfação com a vida Quanto ao grau de satisfação que os médicos apresentam com relação à sua vida, considerou-se a Escala de Satisfação com a Vida, composta por cinco itens breves que são respondidos em escala de 7 pontos, com os extremos: 1 = Discordo Totalmente e 7 = Concordo Totalmente (Pavot e Diener, 1993). No geral, os médicos se mostraram satisfeitos com suas vidas (66,5%); o montante de insatisfação foi consideravelmente inferior (27,4%). As porcentagens de insatisfação e satisfação variaram em função dos estados, estando mais insatisfeitos com suas vidas os médicos de Pernambuco (34,1%), Rio de Janeiro (31,3%) e Bahia (30,5%); aqueles mais satisfeitos foram os de Roraima (73,5%), Amazonas (73,3%) e Santa Catarina (73,2%). Finalmente, apesar do seu caráter unidimensional, no caso de sua utilização neste estudo, em um item específico os médicos se mostraram satisfeitos: dentro do possível, tenho conseguido as coisas importantes que quero na vida (82,6%).
Quais são as atitudes frentes à vida e os valores humanos que norteiam os médicos no Brasil?
27/04/2004 | 03:00