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A redução dos serviços públicos em saúde não é apenas uma realidade brasileira, mas também se faz presente em Portugal, principalmente depois da crise internacional de 2008. Quem fez essa afirmação foi a professora catedrática da Faculdade de Direito da Universidade Clássica de Lisboa Maria João Estorninho, que deu a última conferência magna do IV Congresso Brasileiro de Direito Médico, promovido pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), em Brasília, nos dias 28 e 29 de agosto. Os trabalhos na tarde do dia 29 de agosto foram presididos pelo conselheiro do Conselho Regional de Medicina de São Paulo, Henrique Carlos Gonçalves.

Assim como no Brasil, Portugal, após uma ditadura, promulgou uma Constituição garantidora de um sistema público universal de saúde. “Esse modelo tradicional, com a saúde sendo assegurada diretamente pelo Estado, vigorou de 1977 até 1989. A partir de então, foram introduzidas novas figuras jurídicas, como as parcerias público privadas, e a transformação de hospitais em sociedades anônimas, provocando uma terceirização dos serviços”, relatou.

 Enquanto o dinheiro era farto, este modelo funcionou, mas a situação começou a deteriorar após 2008. “Agora, com o fim da bonança, a sociedade está tendo de socializar as perdas. Antes, o Estado arcava com a partilha dos riscos, agora, não pode mais. O resultado está sendo uma piora dos serviços, com o fechamento de maternidades e hospitais e a fusão de algumas instituições, tudo com o objetivo de reduzir custos”, constatou. “Pelas notícias que leio do Brasil, aqui também não é diferente”, afirmou.

Psiquiatria 

Após a conferência magna, foi realizado o painel “Responsabilidade do diagnóstico em psiquiatria forense”, que teve como mediador o conselheiro do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Norte Armando Villar de Araújo, que é neurologista e juiz de direito. Os debatedores forma a professora da Universidade de Brasília Débora Diniz e o conselheiro do Conselho Regional de Medicina do Mato Grosso do Sul e psiquiatra Juberty Antônio de Souza.

O painel começou com uma provocação feita por Armando Villar em relação ao caso da psiquiatra francesa Daniele Canarelli, que foi condenada a um ano de prisão por não ter prognosticado que seu paciente, Joel Gaillard, cometeria um crime, no caso, o assassinato de seu avô. O médico potiguar também questionou a eficácia da lei 10.216, conhecida como reforma psiquiátrica, já que os pacientes, antes internados em manicômios, hoje perambulam pelas ruas onde a reforma foi implementada, como Salvador.

Diretora do documentário “A casa dos mortos”, Débora Diniz lembrou que a psiquiatra não é a primeira profissional a ser punida por crimes praticados por pacientes e afirmou que ela não poderia prognosticar o que ocorreria, pois a psiquiatria não era uma ciência exata. Débora e criticou o atual sistema, que mantém doentes mentais internados, na maioria das vezes, pela vida toda. “O Supremo Tribunal Federal diz que ninguém pode ficar preso por mais de 30 anos. No trabalho que fiz, encontrei muitas pessoas que estavam muito mais tempo do que isso”, denunciou.

O psiquiatra Juberty Souza concordou com Débora Diniz de que os manicômios judiciários acabam por condenar o paciente à prisão perpétua, mas discordou que a solução passe dissolução desses espaços. “É bom lembrar que os primeiros manicômios foram construídos porque naquela época, década de 1950, seriam os lugares mais adequados, pois, caso contrário, os nossos doentes ou ficariam em casa amarrados, ou morriam em hospitais”, lembrou. O conselheiro argumentou, ainda, que a lei 10.216 é boa, porém tem pontos inexeqüíveis. “Ela diz que no caso de um surto psicótico, a pessoa deve ser tratada com o melhor tratamento, de acordo com suas características. No SUS, não temos esse melhor tratamento, fazemos o que é possível”, argumentou.

Avaliações

O IV Congresso Brasileiro de Direito Médico reuniu, nos seus dois dias, cerca de 350 pessoas, entre médicos, profissionais do direito e estudantes.  Na avaliação do procurador de Justiça do Maranhão Francisco das Chagas Gomes Souza, as conferências e painéis foram muito esclarecedores. “No meu dia a dia me deparo com questões como a judicialização da saúde, casos de erro médico e investigação de paternidade. Os debates aqui me permitiram ter uma visão mais ampla sobre essas questões”, elogiou.

O neurologista e advogado carioca Raimundo Santos, que participou pela primeira vez do Congresso organizado pelo CFM, elogiou os temas escolhidos, pela atualidade e polêmica. Aluno de uma pós-graduação em direito médico, Santos defendeu que a categoria se interesse mais pelo assunto. “Nós somos objeto de várias ações judiciais e temos de manejar um pouco esses conceitos, pois se mesmo conhecendo, podemos ser surpreendidos, muito pior quando desconhecemos totalmente o direito”, aconselhou.

Na avaliação do advogado João Bosco Araújo, especialista em direito médico, o próximo Congresso deveria tratar de temas mais relacionados ao dia a dia do médico. “Tratamos aqui do sigilo do prontuário, só que às vezes há dificuldade do médico para preencher toda a papelada que é obrigado a assinar”, argumentou. Ele contou que um ortopedista do SUS, no caso de um atendimento de um dedo quebrado, tem de preencher 7 relatórios. “É uma burocracia desnecessária, que acaba prejudicando o atendimento”.

Os casos de sigilo médico e segredos em torno de paternidade são situações que a ginecologista carioca Ana Maria Tabet vivencia diariamente. “Sempre venho aos Congressos de Direito Médico do CFM porque aqui podemos refletir sobre esses casos que temos no dia a dia, em que aprendo muito”, elogiou.

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