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Conselho Federal de Medicina

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Eduardo Henrique Sampaio* Não conheci pessoalmente o colega Paulo Olivieri nem sua família, mas conheço e entendo de trânsito como poucos. E acredito que, enquanto o problema não for tratado de frente, como precisa ser, a absurda taxa de 35 mil brasileiros mortos por anos nas nossas ruas e estradas somente irá aumentar. Enquanto médicos, temos a obrigação de tratar dos pacientes que nos procuram, mas não podemos nos calar diante de uma verdadeira guerra que é travada diariamente, que mata mais por ano do que a Guerra do Vietnã matou em 15 anos, e na qual estamos engajados não como estrategistas, mas como vítimas em potencial, já que no nosso dia-a-dia somos obrigados a trabalhar em vários locais – e às vezes em várias cidades. Já que a Medicina do futuro é a da prevenção, a de se evitar que o problema aconteça, temos em nossas mãos o poder de reverter este quadro. Quando um colega morre de uma forma estúpida – recentemente um ortopedista também morreu próximo a Feira de Santana – vem à tona a questão da responsabilidade do Governo em todos os seus planos, responsabilidade esta constitucional, em prover a segurança e as condições adequadas para que o cidadão sobreviva. Nos meus plantões diários – um deles no HGE -, deparo-me com dezenas de vítimas de acidentes de trânsito. E ainda que a maioria deles tenha como causa principal o componente humano, precisamos fazer com que a sociedade enxergue que a indústria automobilística vende uma falsa imagem, pois contrói aviões sobre rodas, os enchem com uma parafernália de segurança que só funciona para velocidades inferiores a 80 km/h e cria a sensação de invulnerabilidade aos ocupantes dos veículos, quando o certo seria produzir veículos pequenos, lentos e seguros. Precisamos lutar contra a hipocrisia da indústria do álcool – responsável direto por 35% dos acidentes e presente em 70% dos acidentes com vítimas fatais -, que vende a imagem do sucesso, da alegria, que patrocina eventos festivos e desportivos, mas que somente abastece um vício, gera doenças e causa mortes. Precisamos exigir do Governo uma política de trânsito mais rígida, mais eficaz, punições mais severas, e também a manutenção de rodovias e da malha urbana em condições adequadas de tráfego e de segurança, e uma engenharia de tráfego mais inteligente. Os 5 bilhões de reais gastos anualmente com as consequências diretas e indiretas dos acidentes seriam economizados e aplicados na solução do próprio problema. Sobre nós, médicos, é depositada e cobrada a esperança em salvar vidas, em recuperar pacientes graves, em implantar membros, mas nem sempre isso é possível. Fico pensando nos pacientes vítimas de acidentes de trânsito que Paulo, cirurgião plástico, tratou, e quantos ainda poderiam ser tratados. Uma perda inexplicável, descabida, e injustificável. Que as mortes de Paulo e de sua família não sejam em vão: façamos delas um bastião e uma bandeira, e que delas surjam soluções concretas para o problema do trânsito. Que seja o início de uma luta, e não um fim. *Eduardo Henrique Sampaio é ortopedista e traumatologista

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