Publicada na coluna de “Cartas” do Jornal do Commercio de 14/02/2004. Mortes I.C.A. e P.S. tiveram pouca sorte na vida, mas muito em comum, apesar de não se conhecerem. Nasceram pobres, buscaram vida e encontraram a morte no mesmo Hospital Otávio de Freitas. Ainda em comum: morte com violência. P.S. nem sequer era portadora de problema psiquiátrico. Morreu estrangulada. I.C.A., com seqüelas de encefalite, tinha uma forma de autismo. Batia a cabeça contra a parede, mas na necropsia foram detectadas mordidas no pescoço e mamilos. Esperamos que a Secretaria de Defesa Social apure com rigor essas mortes. Preliminarmente, temos uma certeza, independentemente de investigações: estamos diante de um maníaco homicida – o poder público, o Estado brasileiro! Desde o Governo Federal, que não custeia adequadamente o SUS, até o Governo do Estado, que foge do enfrentamento da questão dos recursos humanos como o diabo da cruz! Salários defasados, ridículos, a falta de reciclagem e o número insuficiente de profissionais de saúde são uma constante absoluta nesta realidade perversa. E com o beneplácito de nós todos, que, como cidadãos, permitimos que crianças morram de forma violenta dentro de um hospital público sem a presença de familiares, sem a certeza sequer de punição para os envolvidos, ficando à mercê da justiça divina e da dor na consciência de cada um de nós. Ricardo Paiva – presidente do Cremepe. Da Assessoria de Imprensa do Cremepe