Sobrecarga de serviço, prevalência de três vínculos empregatícios pelo menos, perda da autonomia da atividade com precarização principalmente no setor privado e condições inadequadas de trabalho no setor público estão entre os principais problemas apontados como os mais freqüentes enfrentados pelos médicos da capital baiana. A conclusão é da pesquisa “Condições de Trabalho e Saúde dos Médicos em Salvador”, iniciada em 2002, que tem como objetivo coletar informações que possam ajudar na defesa de padrões mais qualificados e saudáveis de vida dos profissionais médicos. Encerrada a fase de agrupamento dos dados registrados em 800 questionários previamente distribuídos a médicos residentes na cidade, o resultado parcial da pesquisa foi apresentado ao Cremeb no dia 4 de abril. Coordenador do projeto, o sanitarista, professor da Uefs e doutorando pela Ufba, Carlito Lopes Sobrinho explica que as constatações deixam transparecer um modelo de subcontratação informal do trabalho, prevalente nos tempos atuais, que tem gerado um desgaste grande para os profissionais. “Além de não estarem formalmente empregados, os médicos estão precisando trabalhar muito mais, sem direito a benefícios garantidos na Constituição Federal de 1988”, diz. Esta situação, segundo ele, pode implicar até mesmo em alterações na normalidade física ou psíquica do trabalhador, o que pôde ser comprovado nas freqüentes queixas de cansaço mental, lombalgia, sonolência, sofrimento psíquico, nervosismo, insônia e dores na perna apontadas pelos médicos nos questionários. O quadro tende a ficar pior, como aponta a pesquisa, quando se observa que mais de 35% dos médicos estudados trabalham em regime de plantão. “Esse regime fala contra a própria natureza humana. O médico deixa de se alimentar bem e não tem hora para terminar o trabalho”, lamenta. Conhecedor da causa, Carlito Sobrinho lembra que também já passou por uma rotina estressante de trabalho, sendo obrigado a cumprir dois plantões por semana, na época em que atuava numa clínica particular. Com o término da pesquisa, previsto para o meio do ano, seus objetivos são promover a criação de um grupo de apoio psicológico e profissional para médicos e profissionais de saúde, iniciar a elaboração de um estudo de normas de saúde ocupacional para médicos e a elaboração de um estudo prospectivo com médicos residentes. Na pesquisa em andamento, dos 800 questionários enviados, obteve-se resposta de 307 deles, o que exigiu um maior cuidado nas interpretações. “Apesar da perda, pude contar com certa consistência científica, pois os dados obtidos se aproximaram bastante da literatura existente”, afirma Carlito Sobrinho, referindo-se sobretudo à pesquisa “Condições de Trabalho dos Médicos no Brasil” realizada pelo CFM em 1997, que resultou na publicação Perfil dos Médicos no Brasil.
Pesquisa confirma sobrecarga de trabalho entre médicos de Salvador
16/07/2003 | 03:00