Arapongas * – Décadas depois de instituída, a Academia Paranaense de Medicina recebe seu primeiro “pé vermelho”. A posse foi no último dia 10, em Curitiba, após conferidos e respeitados todos os rigorosos critérios estabelecidos, sendo eleito para ocupar a cadeira de número 21 o cirurgião cardíaco Francisco Gregori Júnior ou, como é tratado pelos amigos, “Dr. Chico Gregori”. Depois de 30 anos de profissão, acumulando com sua equipe cerca de 14 mil cirurgias cardíacas – incluindo diversos transplantes de coração -, Gregori teve reconhecido seu trabalho pela mais conceituada instituição ligada à Medicina no Estado. Radicado em Londrina, mas com uma atuação mais freqüente no Hospital João de Freitas, em Arapongas, o médico vem operando, nos últimos dois anos, um número maior de pacientes oriundos do Sistema Único de Saúde (SUS). Com um acompanhamento e atualização permanente de todas técnicas e novidades do setor, Gregori diz que o atual estágio do Brasil em cirurgia cardíaca é bastante satisfatório. “Em âmbito internacional, só perdemos para os Estados Unidos, ficando em 2º lugar, junto com a Alemanha, e não devemos nada a ninguém”, revela o médico, que tem pesquisas e técnicas cirúrgicas de sua autoria, reconhecidas internacionalmente e publicadas em revistas especializadas. AVANÇOS Ele se diz admirado com o avanço da cirurgia cardíaca no País, viabilizado através da excelente parceria mantida pelo SUS e a Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular. Contudo, Gregori lembra que as estatísticas indicam que as doenças coronárias ainda são as que mais matam no Brasil. Somado a isso, ele explica que a perspectiva de vida do brasileiro subiu para 72 anos. E conclui que é de fundamental importância que “o governo federal e os homens públicos, em todos os níveis, trabalhem no sentido de ampliar cada vez mais a oferta de cirurgia cardíaca através do sistema público de saúde”. “Os ricos se viram em qualquer situação emergencial, mas é inadmissível barrar os pobres, deixando de investir e credenciar hospitais para tais procedimentos”. Cirurgião assume a cadeira 21 Francisco Gregori Júnior é o primeiro cirurgião do interior do Paraná a ser indicado para a Academia Paranaense de Medicina. Ele recebeu a indicação no final de 2001 e, após a tramitação do processo de seleção, acabou eleito pelos 50 membros da academia. Os critérios para a eleição têm como base as condutas moral e ética inabaláveis. Também é imprescindível que o médico esteja formado e clinicando há mais de 15 anos, tendo ainda em seu currículo contribuições importantes nas áreas de ensino médico, pesquisa científica, e de medicina social comunitária (atendimento da população carente). O médico, que atua em vários hospitais de Londrina e também em Arapongas, no Hospital Regional João de Freitas, assumiu a cadeira de número 21 da Academia Paranaense de Medicina, que tem como patrono o professor Heraldo de Oliveira Mello, e que antes era ocupada pelo saudoso Orlando de Oliveira Mello. RECONHECIMENTO Várias técnicas cirúrgicas criadas por Gregori, entre elas o “anel de Gregori”, tiveram reconhecimento internacional em congressos e em publicações específicas da área de cirurgia cardíaca. A repercussão de seu trabalho profissional também pesou na decisão dos membros da Academia Paranaense de Medicina. Cinco médicos foram indicados para as duas cadeiras da academia. A de número 8 que tem como patrono o professor Dr. Brasílio Vicente de Castro, passou a ser ocupada por Nelson Augusto Rosário Filho, substituindo Plínio de Matos Pessoa. Busca permanente do aperfeiçoamento Nascido em Bocaína-SP, em 1947, Francisco Gregori Júnior formou-se em 1971 pela Faculdade Paulista de Medicina. Fez residência médica em Cirurgia Geral (Hospital das Clínicas/USP); e residência em Cirurgia Cardíaca e Pulmonar (Hospital das Clínicas/USP). Em seguida, fez mestrado em Cirurgia (USP), doutorado em Cirurgia Cardiovascular na (Escola Paulista de Medicina) e ainda defendeu uma terceira tese na sua promoção de professor-adjunto para professor associado no curso de Medicina da Universidade Estadual de Londrina (UEL). O médico, atualmente com 55 anos, começou a atuar como cirurgião cardíaco em 1976, no Hospital Evangélico, em Londrina. Ao lado de sua equipe de cirurgiões, já operou cerca de 14 mil pacientes. Nos últimos anos, 70% de suas cirurgias têm sido feitas no centro cirúrgico do Hospital Regional João de Freitas, em Arapongas, através do SUS. Na UEL, Gregori ocupa a função de professor-chefe da disciplina de Cirurgia Cardiovascular, do curso de Medicina. Recebeu há alguns anos a Comenda Ouro Verde, outorgada pela Câmara Municipal de Londrina. Ocupa, a partir deste mês, a cadeira de número 21 da Academia Paranaense de Medicina. (M.B.) Improvisação salvou vida de paciente Cumprindo a Lei de Hipócrates, segundo a qual o médico deve buscar todos os recursos possíveis para salvar vidas, o médico Francisco Gregori Júnior acabou ganhando notoriedade nacional. A inusitada situação aconteceu em 1997, quando ele e sua equipe operavam no Hospital Evangélico uma paciente de 70 anos de idade, que veio enfartada de Bela Vista do Paraíso. “A paciente teve uma significativa ruptura na parede do ventrículo esquerdo, que ficou necrosada. Sem êxito, lançamos mão de todos os recursos disponíveis para tentar suturar e estancar a hemorragia, até que surgiu a idéia de usar superbonder para tentar colar o local rompido”, conta Gregori. A equipe médica já havia alertado a família que não tinha meios de salvar a paciente e que iria desligar os equipamentos que a mantinham viva. “Com a paciente entre a vida e a morte, lembrei que meu filho havia colado os dedos da mão com superbonder e resolvi tentar, apesar de reconhecer a toxidade da cola”, relata Gregori. Ele diz que um motoboy foi a um posto de gasolina buscar a cola e na hora de tentar aplicar o produto ainda houve relutância entre médicos e enfermeiros. “Isso aconteceu há cinco anos e a paciente, que tinha um coração forte, está em perfeitas condições de saúde até hoje”, revela o médico. Apesar de temer o risco de sofrer algum tipo de processo, Gregori afirma que sempre teve a consciência tranqüila, porque cumpriu a lei máxima da Medicina. Na época, o fabricante da cola manteve contato com o médico, propondo o desenvolvimento de um novo produto, mas devido à exploração sensacionalista do fato, ele descartou a parceria. Atualmente, já existe uma cola similiar à superbonder e não tóxica para uso na Medicina. *** Matéria retirada do Jornal Tribuna do Norte, de Apucarana, do dia 26 de maio de 2002, escrita por Maurício Borges.
PÉ VERMELHO NA ACADEMIA
03/06/2002 | 03:00