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Uma das especialidades mais necessárias à Medicina, a Patologia – não é só no Brasil – enfrenta dificuldades que vão além das questões de remuneração e condições de trabalho. Historicamente ficou associada à imagem romântica do médico detentor de uma vastidão de conhecimentos, isolado num laboratório, ele e o microscópio como única companhia. O modelo não vale mais. E quem alerta aponta o porquê. São dois médicos baianos, Marco Antonio Cardoso de Almeida, presidente da Sociedade Brasileira de Patologia, e Luiz Antonio Rodrigues de Freitas, presidente da Sociedade de Patologia da Bahia e também conselheiro do Cremeb. “O patologista atua nos bastidores. É o doutor dos doutores. Atinge o paciente através de outros especialistas. Muitas vezes dá o diagnóstico complexo, mas quem comunica o resultado à família é um segundo médico. O patologista tem que mostrar mais o rosto, se apresentar, estar em contato com os colegas”, afirma Marco Antonio Cardoso de Almeida. Mudança de postura que, na sua opinião, deve se traduzir num interesse maior pelas sociedades de especialidade. “O patologista tem que sair do porão do hospital, deixar de ser um coadjuvante. Isso se reflete na sua relação com o mundo, dificultando o associativismo”, justifica Luiz Freitas, que vê no fato de o patologista costumeiramente manipular material enviado por terceiros, sendo poucos os que realizam procedimentos, uma das explicações para o problema. A falta de articulação parece ter raízes numéricas. A Sociedade Brasileira de Patologia, fundada em 1954 em Curitiba (PR), congrega 1500 sócios. País bem menor que o Brasil, a Argentina possui mais. Estado tradicionalmente respeitado pela qualidade dos especialistas que forma neste campo médico, tendo o professor Zilton Andrade como um dos símbolos, a Bahia dispõe, no máximo, de 40 patologistas. Mais da metade atua em Salvador, em hospitais onde existem serviços específicos, como Português, Aliança, Espanhol, São Rafael e Hospital da Cidade. Para atender à enorme demanda, o Estado conta apenas com o CICAN e a Fiocruz, que presta um apoio informal e pontual, e alguns laboratórios privados, diz Luiz Freitas. Fora da capital, somente Feira de Santana, Juazeiro, Vitória da Conquista, Jequié, Santo Antônio de Jesus e Itabuna. “Isso ameaça a existência da Sociedade de Patologia e uma série de iniciativas do governo. A etapa final do Programa de Prevenção do Câncer Ginecológico parou por falta de profissionais, e não é só porque o SUS paga mal”, interpreta. Distorções O presidente da Sociedade Brasileira de Patologia lembra a dificuldade que o Ministério da Saúde e o Instituto Nacional do Câncer vêm atravessando para implantar, até 2004, em rede nacional, 24 centros de atendimento do paciente com câncer devido à falta de patologistas. A baixa remuneração, que não faz jus ao investimento profissional – três anos no mínimo de Residência, cursos de Mestrado e Doutorado, compra de livros e revistas, na maioria estrangeiros – é sem dúvida um entrave. “O patologista faz todo esse esforço para receber, por uma amputação de membros, R$ 13 do SUS ou, no máximo, R$ 42, por um exame, dos convênios (SINAM). O ato de uma punção aspirativa é três vezes melhor remunerado pelo convênio do que o exame da lâmina. O retorno é irrisório para uma especialidade que trabalha para o controle de qualidade, auditoria dos convênios, prognóstico e terapêutica dos pacientes, ensino e pesquisa”, lamenta Marco Antonio Cardoso de Almeida. Preocupado em corrigir essas distorções, o médico informa que a Sociedade Brasileira de Patologia tem estado atenta e procurando, junto ao Ministério da Saúde e à Associação Médica Brasileira (AMB), melhorar o pagamento dos procedimentos de anatomia patológica, entre outros. “Muitos médicos enxergam a patologia como um exame complementar, mas trata-se de um método de diagnóstico diferente. O diagnóstico definitivo de neoplasia é do patologista. A patologia diagnóstica (anatomia patológica) não tem nada a ver com a patologia clínica (sumário de urina, hemograma). É uma interação do patologista com a lâmina, requer uma mobilização de conhecimentos que máquina nenhuma faz. O laudo do patologista é um diagnóstico em si. Aumentar o volume é aumentar a possibilidade de erro”, analisa. Médico formado há 27 anos pela Ufba, professor desde 1980, ex-chefe de departamento e coordenador de Residência Médica, Marco Antonio Cardoso de Almeida também assiste com pesar ao esvaziamento da universidade pública brasileira, outra questão de ordem financeira, e ao desprestígio da carreira acadêmica, essencial para a formação de bons patologistas, dificultando a renovação dos quadros. Reverter esta situação, acredita, passaria por uma revisão do ensino. “O papel multidisciplinar do patologista não é ensinado na universidade”, critica. Com a adoção de novas políticas de saúde no Brasil, o patologista passou a ser uma peça fundamental em programas como o PSF e campanhas de prevenção do câncer de mama e colo uterino. Na opinião do médico Luiz Freitas, o raciocínio procede. Ele acrescenta que o próprio hospital-escola da Ufba, o Hospital Universitário Professor Edgard Santos, já não desempenha mais suas funções como antigamente. “Uma prática fundamental na formação do patologista é a necrópsia, mas houve uma redução drástica ali dentro”. Mistério envolve peças cirúrgicas Qual o destino das peças e biópsias colhidas nos hospitais públicos baianos? Esta é a pergunta que se fazem os médicos Marco Antonio Cardoso de Almeida e Luiz Freitas. Normalmente de baixa renda, os pacientes da rede pública não têm como enviar o material a serviços particulares. Por outro lado, faltam patologistas no setor público, devido às demissões motivadas pelos baixos salários e más condições de trabalho e à não abertura de concurso para preenchimento das vagas. “Teoricamente todo e qualquer material retirado no ato cirúrgico deve ser submetido ao exame anátomo-patológico, mas isso não acontece. O que nos leva a crer que, nesse estado, não se faz diagnóstico de câncer precoce”, conclui Freitas. “Há pouco tempo tivemos conhecimento de que milhares de peças do estado estariam acumuladas sem terem sido examinadas e isso configura uma situação muito grave”, comenta o presidente da Sociedade de Patologia da Bahia, suspeitando que a denúncia mereça uma investigação aprofundada do Cremeb e do Ministério Público. Para piorar o problema, confirmando o que diz a lei da física, o espaço de direito que deveria ser ocupado pelo patologista vem sendo ameaçado por uma outra categoria profissional, os farmacêuticos- bioquímicos, condena o médico em tom de preocupação. “Diagnóstico anátomo-patológico só pode ser feito por um patologista. Trata-se de um ato médico. Não é uma imagem congelada, mas a interpretação de uma história particular. Existe uma singularidade todas as vezes em que se interpreta um caso”, afirma.

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