Um encontro emocionado surpreendeu ontem a equipe médica do Hospital da Restauração, que salvou a vida da israelense Moran Bonfleck, 21 anos, baleada na noite da segunda-feira de Carnaval, em Olinda. Os pais e um tio da jovem foram agradecer o desempenho dos cirurgiões João Veiga e Edvaldo Cassemiro Filho, além dos estudantes de Medicina Mário Emery Filho e Marina Veras, que prestaram o primeiro atendimento a Moran. Ela chegou ao HR com morte aparente – parada cardíaca, respiratória e sofrimento cerebral. Os pais, Orna e Israel e o tio da estudante, Shai Bonfleck, ficaram comovidos ao ouvir detalhes de como foi o procedimento que conseguiu estancar o sangramento e fazer o coração de Moran voltar a bater. “Mesmo com parada cardíaca, resolvemos fazer a sutura. Depois, fiquei segurando o coração dela, massageando para que voltasse a funcionar. Quando conseguiu, o órgão pulou de minha mão. Foi uma grande vitória”, relatou o médico João Veiga, que disse ter tido um papel coadjuvante. “Não fomos nós quem a salvamos. Ela é uma guerreira, não queria morrer”, afirmou. Mesmo com a modéstia do cirurgião, Israel ficou feliz com a ação da equipe médica. “Se isso tinha que acontecer, ainda bem que tudo ficou sob a responsabilidade de vocês. Quando o médico disse que esteve com o coração dela nas mãos, foi algo significativo”, disse o pai. O tio completou. “Para o Judaísmo, quando alguém salva uma pessoa, é o mesmo que ter salvado o Mundo. Obrigado”. A mãe da jovem estava emocianada. “Agora, nós somos uma família só. Espero um dia poder retribuir uma gota do que vocês fizeram por minha filha naquele momento difícil”. VISITA – Para João Veiga, não há mais o que agradecer. “Só esse gesto de amizade já é grande coisa. Não esperava algo assim, porque quando a atendi, não sabia nem o nome dela. Não estamos devendo nada um ao outro”, disse. Agora, o médico quer visitar Moran, assim que ela sair da Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Esperança e for para um apartamento. “Quero falar com ela. Isso tem que valer a pena. Com certeza ela agora é uma pessoa melhor”, declarou o cirurgião. O procedimento médico adotado no intervalo de apenas um minuto foi fundamental para a recuperação de Moran, que reage bem ao tratamento. De acordo com boletim divulgado ontem, a jovem está clinicamente estável, já senta na cama e recebe uma alimentação à base de líquidos. Hoje, a estudante deve começar a fazer caminhadas, mas ainda não há previsão de quando ela deixará a UTI do Hospital Espernaça. “Ela ainda não lembra de nada. Quando nos viu, a primeira coisa que perguntou foi o que estávamos fazendo ali. Dissemos que viemos passear”, contou o pai. Entrevista | João Veiga “Temos que salvar vidas” Além de muita sorte, Moran Bonfleck contou com a rápida iniciativa dos médicos, possível graças à experiência de quem vivencia o dia-a-dia de um hospital público. Mesmo concentrando os melhores profissionais do Estado, a Emergência do Hospital da Restauração – onde a israelense foi reanimada – sofre com superlotação e más condições de atendimento. Em entrevista ao DIARIO, o cirurgião João Veiga lamentou que não seja oferecida a devida estrutura para a maior unidade de saúde do Nordeste. DIARIO PERNAMBUCO – Quais são as chances de um paciente em estado semelhante ao de Moran sobreviver? Veiga – Em casos de lesão cardíaca, 99% das vítimas morrem no local, antes mesmo de serem atendidos. Daqueles que chegam ao hospital com vida, 90% não resistem aos ferimentos. Um caso em mil. Mas se livrar das seqüelas, como ela conseguiu, acho que nem há estatísticas. DP – Quais são as maiores dificuldades enfrentadas pelos médicos que trabalham no HR? Veiga – A falta de medicamentos e material cirúrgico, com certeza. Nãopodemos fazer muita coisa por causa disso. Se tivéssemos melhores condições de trabalho, muito mais vidas seriam salvas. Mesmo assim, temos um bom hospital. DP – Como o senhor encara o fato de um estrangeiro vir até aqui agradecer a sua equipe e o mesmo não acontecer com pacientes do Estado? Sente falta do reconhecimento? Veiga – Não é objetivo do hospital que as pessoas voltem para agradecer. Talvez outros sejam gratos da mesma forma e não tiveram a oprotunidade de fazer o mesmo, por vários motivos. Nosso papel é salvar vidas, só isso. Da Assessoria de Imprensa do Cremepe. Com informações do Pernambuco.Com.
Pais de israelense baleada demonstram gratidão à equipe médica do HR
02/03/2004 | 03:00