Estudos realizados pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) revelam que 24% das pessoas que vão ao médico não sabem dizer o que lhes foi prescrito. De acordo com a pesquisa, isso é resultado do distanciamento entre o paciente e o profissional de saúde. Mas, além de não entenderem o que foi dito durante a consulta, os pacientes sofrem com outro problema: a dificuldade em entender a letra do médico no receituário. Não é à toa que, quando alguém tem a caligrafia ruim, dizem que a pessoa tem “letra de médico”. Difícil é encontrar quem nunca tenha tido problemas para decifrar o nome de um medicamento na receita. A tarefa, na maioria das vezes, sobra para farmacêuticos e balconistas, que já estão acostumados aos garranchos dos médicos. Mas até eles reclamam dos rabiscos nas prescrições. Não existe uma explicação para que a caligrafia desses profissionais de saúde seja tão difícil de entender. Há quem diga que, no passado, a “letra de médico” funcionava como um código para evitar que o paciente aprendesse o nome correto do medicamento, dificultando futuras automedicações. Outra teoria comumente defendida pelos médicos é a de que eles têm muito o que anotar, em pouco tempo, nas aulas na faculdade. Assim, desenvolvem a caligrafia ruim. O presidente do Conselho Regional de Medicina (CRM-DF), Eduardo Guerra, não acredita que algo possa justificar a ilegibilidade de uma receita. “Até acho que boa parte da população tenha a letra ruim, pois quando vemos uma letra boa sempre reparamos”, analisa. “Mas, na nossa profissão, isso não é aceitável. A caligrafia na receita tem de ser clara”, conclui. Independentemente do motivo pela qual a maioria das letras de médicos é ilegível, os pacientes são os maiores prejudicados nessa história. Tem gente que já levou remédio errado por não ter compreendido o que estava na prescrição. Em casos mais graves, pessoas já receberam dosagens incorretas de medicamentos em pleno hospital, conseqüência de os enfermeiros não entenderam os valores escritos pelos médicos nas prescrições. Poucos são cuidadosos Os pacientes do cirurgião Luiz Fernando Córdova não têm do que reclamar. Em seu consultório, todas as receitas são digitadas no computador. “Os pacientes gostam porque sempre está legível e não restam dúvidas”, orgulha-se. Mesmo antes de de usar o computador, ele garante que seus receituários eram bem-feitos. “Me considero um caso à parte. Os pacientes sempre diziam que minha letra não se parecia com a de outros médicos”, afirma. “Mas quando trabalho fora do consultório, tenho a preocupação de usar a letra de fôrma”, explica. O cirurgião não acha que a má caligrafia seja exclusividade dos médicos. “Quando uma pessoa tem tendência a escrever mal, escreverá mal sempre”, alega. Para ele, o fato de estudantes de Medicina tomarem notas rápido nas aulas não serve como desculpa para que médicos apresentem receitas incompreensíveis. “A faculdade até contribui, mas acho que tem muito a ver com falta de capricho e pressa também”, diz. Córdova acredita que as pessoas não reclamam das receitas confusas por comodismo. Acham que a letra do médico é assim e não exigem que seja diferente”, acredita. “Mas isso é falta de educação, pois a apresentação faz muita diferença”, ensina. HábitoO reumatologista Gustavo Costa assegura ser cuidadoso na hora de prescrever medicamentos. “Me preocupo em fazer as receitas com boa letra. Nunca tive problemas com prescrições ilegíveis”, assegura. Ele acha que a letra ruim tem relação com a falta do hábito de escrever. “As pessoas hoje escrevem menos. Não há exercícios de caligrafia como antigamente”, diz. Na opinião dele, escrever receitas de qualquer maneira é irresponsabilidade dos médicos. “É um absurdo, pois um remédio é algo muito importante. Todos deveriam ter o cuidado de prescrever de forma legível”, argumenta. Ele diz que não há desculpa para um receituário malfeito, nem mesmo a falta de tempo. “Todas as vezes que alguém escreve, é para que seja lido. Não adianta escrever se ninguém entende, principalmente quando se trata de uma prescrição médica”. Lei tem mais de 70 anos Embora muitos médicos insistam em entregar receitas incompreensíveis a seus pacientes, a legislação existente sobre o assunto não deixa dúvidas de que a legibilidade das prescrições é obrigatória. E nenhuma dessas leis é novidade para a categoria médica. O Decreto 20.931, de 1932, diz que é dever dos médicos “escrever as receitas por extenso, legivelmente, em vernáculo (na língua própria do País), nelas indicando o uso interno ou externo dos medicamentos, o nome e a residência do doente, bem como a própria residência ou consultório.” Em 1973, foi aprovada a Lei 5.991, que trata do comércio de medicamentos. Em seu artigo 35, ela descreve como deve ser feito um receituário médico: à tinta, em vernáculo, por extenso e de modo legível. O próprio Código de Ética Médica, no artigo 39, também condena a emissão de receitas ilegíveis. Há, ainda, o Projeto de Lei 4.104, apresentado pelo deputado federal Lincoln Portela (PSL/MG) em 2001, que sugere a padronização das receitas médicas. A proposta ainda aguarda votação na Câmara dos Deputados. Se aprovada, as receitas deverão conter o nome comercial do medicamento, a indicação do genérico (quando houver), a dosagem recomendada e a forma de usar, além do nome completo do médico e seu registro profissional. Recomenda, também, que o texto seja claro e legível. DenúnciaBaseado nas normas existentes, o paciente que se sentir prejudicado pela ilegibilidade do receituário pode denunciar o médico ao Conselho Regional de Medicina (CRM-DF). Apesar de muita gente reclamar nas farmácias por não entender o nome do medicamento ou a dosagem que deve tomar, o médico Eduardo Guerra, que preside o Conselho, garante não se lembrar de denúncias dessa natureza. Na opinião do presidente do CRM-DF, a receita legível é uma segurança, não só para o paciente, como para o próprio médico. Dependendo das conseqüências sofridas pelo paciente por causa de uma receita malfeita, uma reclamação dessas poderia até resultar na abertura de um processo ético-profissional. Eduardo Guerra recomenda que, caso o paciente tenha dúvidas sobre o nome ou a dosagem do remédio na hora de comprá-lo, ele não leve o medicamento. “Pode ser confuso mesmo. Os remédios têm nomes parecidos e os balconistas não são obrigados a entender as letras ruins”, avisa. “Na dúvida, o certo é ligar para o médico e descobrir o nome do medicamento”, ensina. Outra dica importante é sempre guardar as receitas. Cliente teme risco de troca O aposentado José Eustáquio Ferreira, 52 anos, pretendia fazer uma pesquisa de preços por telefone antes de comprar um medicamento para um empregado de sua chácara. Não conseguiu fazê-lo por não compreender a letra do médico na receita. “Desisti e fui a uma farmácia para que pudessem decifrar a prescrição”, reclama. “Acho isso um desleixo por parte dos médicos, pois os farmacêuticos não são obrigados a entender só porque eles escrevem de qualquer jeito”, critica. Eustáquio discorda que o paciente insatisfeito deva reportar-se ao CRM para denunciar a ilegibilidade dos receituários. “No CRM há um corporativismo muito grande”, acredita. “É um órgão que serve para os próprios médicos e não para os pacientes. Isso deveria ser feito em outro lugar, como na Promotoria de Saúde ou na Anvisa”, sugere. Como a culpa pela venda errada de um remédio pode ser atribuída às farmácias, o aposentado recomenda que elas reclamem de receitas difíceis de entender. “Seria uma maneira de os farmacêuticos se defenderem e evitarem punições futuras”, opina. ConfusãoNa hora de comprar um remédio de dor de ouvido para a filha, o funcionário público José de Ribamar Lemos, 51, preferiu ir até a farmácia. “É melhor assim para evitar confusão”, explicou, com uma receita praticamente ilegível nas mãos. “Mas tem horas que nem os farmacêuticos entendem e a gente fica na dúvida se leva ou não o remédio”. Na opinião dele, o garrancho dos médicos é sinal de pressa. “Há uns que nos atendem sem nem mesmo conversar, nos fazer perguntas ou olhar para a gente”, relata. “Não dá para entender por que eles estudam tanto e têm a letra assim”, questiona. Ribamar conta que um amigo seu estava com problema de coluna e comprou um remédio para aborto. “Acho que os nomes eram parecidos e o balconista não entendeu”, acredita. “Por isso, eu sempre leio a bula antes de tomar qualquer remédio. Dessa maneira, não corro o risco de ingerir o remédio errado”, previne-se o funcionário público.

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