CRM VIRTUAL

Conselho Federal de Medicina

Acesse agora

Prescrição Eletrônica

Uma solução simples, segura e gratuita para conectar médicos, pacientes e farmacêuticos.

Acesse agora

Imagine um time de futebol atacado por um surto enlouquecedor, em que os jogadores saem marcando gol desvairadamente contra a própria equipe. É isso o que o corpo faz quando acometido por doenças auto-imunes. O sistema de defesa do organismo (sistema imunológico) deixa de reconhecer o próprio corpo e, em vez de combater apenas inimigos, como vírus e bactérias, passa a atacar células ou tecidos saudáveis do organismo. Não é à toa que as doenças auto-imunes tanto assustam. De início, o paciente tem dificuldade para compreender que, além de vítima, é “autor” desse mecanismo de agressão. Já os médicos também não compreendem por que as células de defesa do corpo perdem o controle, ou seja, a causa das doenças auto-imunes, as quais também não têm cura. Mas há remédio para os sintomas, e os novos tratamentos têm dado esperança aos pacientes. A incidência da doença tem aumentado. Duplicou nos últimos 40 anos –também não se sabe por que, há quem credite isso ao aprimoramento nos diagnósticos e à precisão dos testes laboratoriais. O fato é que, só nos EUA, são 50 milhões de pessoas por ano diagnosticadas com uma doença desse tipo. Em todo o mundo, médicos e pesquisadores presumem que ela chegue a atingir de 15% a 20% da população, e as maiores vítimas são mulheres. E o que mais se sabe com certeza? Que existem, reconhecidos pela medicina, 30 tipos de doenças auto-imunes. Artrite reumatóide, lúpus e diabetes tipo 1 são algumas delas. E cada uma, com seus respectivos sintomas, atinge um órgão diferente, diz o reumatologista e imunologista do Albert Einstein Morton Scheinberg, pesquisador do assunto há mais de 20 anos. Hipóteses se atropelam Uma das hipóteses para a causa das doenças, segundo o imunologista Momtchilo Russo, presidente da Sociedade Brasileira de Imunologia, é a da higiene. “Como hoje as pessoas não desenvolvem tantas infecções, que talvez regularizassem a ação do sistema imunológico, nossas células de defesa poderiam estar superativadas”. Por outro lado, alguns estudos revelam que as doenças infecciosas é que afetariam o funcionamento do sistema imunológico. “Na febre reumática, sabe-se que o organismo ataca células do coração, pois as confunde com um aminoácido presente na bactéria estreptococo”, diz a imunologista Myrthes Toledo Barros, do Serviço de Imunologia Clínica e Alergia do Hospital das Clínicas (SP). Hipóteses à parte, sabe-se que, para desenvolver uma doença auto-imune, são necessárias três condições, explica Scheinberg. A primeira é ter predisposição genética para a doença. Outro requisito é o problema ser desencadeado por um fator do ambiente externo, como exposição ao sol no caso do lúpus ou situação estressante na psoríase. E a terceira, e óbvia, é o desequilíbrio das células do sistema imunológico. “Além disso, quem tem uma doença auto-imune tem maior chance de desenvolver outras do mesmo gênero”, afirma o imunologista Luiz Vicente Rizzo, do Incor. Descoberta precoce Virar expert na doença é uma marca dos portadores. O estudante de medicina Tiago Bitar Barros, 22, convive com artrite reumatóide desde os sete anos. “Ele foi diagnosticado quando teve uma febre que não passava”, lembra a mãe, Cristina Barros. Com a evolução dos medicamentos, hoje ele vive como qualquer outro jovem da idade. “Tive a sorte de ser diagnosticado cedo. Ninguém acha que eu tenho a doença.” A bancária Vânia Mello Suruagy, 45, é outra sortuda. Descobriu ter lúpus antes mesmo de sentir os sintomas. “O exame de sangue periódico feito pelo banco constatou que minhas plaquetas estavam baixíssimas. Se não fosse por isso, talvez não tivesse descoberto”, conta. Como ocorre com a maioria dos portadores, o resultado assustou. “Não tinha ouvido falar sobre isso. Fui direto para a internet”, conta ela, que já virou especialista na doença. Influência emocional “Existe uma relação direta entre o estado emocional das pessoas e o sistema imunológico. Há uma nova área na medicina, a psiconeuroendrocrinoimunologia, para estudar melhor a questão”, diz o dermatologista Cid Yazigi Sabbag, presidente do Centro Brasileiro de Psoríase. Segundo Yoshiaki Ohki, diretor científico da Associação Brasileira de Medicina Psicossomática, sabe-se que os corticóides produzidos em momentos de estresse diminuem a defesa imunológica. Para ele, quem está saudável do ponto de vista emocional também está do ponto de vista orgânico. No caso do engenheiro Eduardo Griebler, 42, o estresse teve papel fundamental. No primeiro surto de psoríase, aos 18 anos, ele prestava vestibular. “A doença começou lentamente, mas foi aumentando ao longo dos últimos 20 anos”, conta. Para ajudá-lo a enfrentar a doença, sua mulher, Deborah Martinez Griebler, criou uma associação de portadores de psoríase. “Ainda existe muita propaganda enganosa e desconhecimento da população.” Aliás, a falta de conhecimento gera preconceito. Mais um motivo para a importância dos grupos de apoio. “Nesses encontros, as pessoas conhecem outras histórias e aprendem a conviver melhor com a própria doença”, diz a psicóloga Adriana de Melo Lima, que atende pacientes com psoríase na Unifesp. Veja quais são as doenças auto-imunes mais comuns Artrite reumatóide: o alvo de ataque são os tecidos que revestem as articulações. Os principais sintomas são dores nas juntas, inchaço e sensação de rigidez nas articulações pela manhã. Atinge principalmente os dedos das mãos, punhos, joelhos, tornozelos e pés. A dor é simétrica, acomete os membros do lado direito e esquerdo. Esclerose múltipla: o sistema imunológico causa lesões neurológicas graves e progressivas. Ao longo do tempo, a pessoa tem problemas de coordenação motora, redução da capacidade de visão e alterações na percepção sensorial. Entre outros sintomas, estão a sensação de cansaço, fraqueza nas pernas e problemas de memória. Esclerodermia: os danos acometem as células que produzem o colágeno, substância que torna a pele elástica e que também está presente nas articulações. A doença atinge ainda pulmão, esôfago e rins. Entre os sintomas, estão o endurecimento da pele, aumento da sensibilidade dos dedos ao frio associado a dor e mudança em sua coloração (podem ficar brancos, azuis ou vermelhos). Diabetes mellitus: é conhecida por diabete juvenil ou do tipo 1, pois seu diagnóstico ocorre na infância. É causada pela destruição auto-imune das células do pâncreas que secretam insulina. Sinais de alerta: sede excessiva, desejo freqüente de urinar, ganho de peso e cansaço. Doença de Graves e tireoidite de Hashimoto: doenças auto-imunes da tireóide que causam sintomas distintos. Na doença de Grave, os anticorpos causam o hipertireoidismo, que deixa o paciente mais ansioso, com palpitações e tremor nas mãos, redução de peso e dificuldade de concentração. Na tireoidite de Hashimoto, a destruição na glândula tireóide causa o hipotireoidismo. Sintomas: cansaço, intolerância ao frio, depressão, ganho de peso, constipação e fraqueza. Lúpus eritematoso: erupções avermelhadas se desenvolvem na face durante a doença. Pode atingir vários órgãos, incluindo o sistema nervoso central, os rins e o coração. Entre os sintomas, estão dor nas juntas, sensação de cansaço, anemia, rachadura na pele após exposição ao sol e depressão. Psoríase: provoca alteração na multiplicação das células da pele, que se inflama. Surgem, então, placas avermelhadas principalmente no cotovelo, no joelho, no couro cabeludo e nas costas. Vitiligo: provoca dano na produção de melanina, pigmento que dá cor à pele. O resultado disso são manchas brancas na superfície da pele, que podem aumentar com o tempo. Em alguns casos, ocorre estabilização. Síndrome de Sjögren: o sitema imunológico provoca alterações nas glândulas lacrimais e salivares e nas mucosas do nariz, da vagina e do pulmão. Como conseqüência, o organismo parece secar. Sintomas: sensação de secura, redução da saliva, cansaço e inflamação pulmonar. Doenças crônicas intestinais: as células de defesa se voltam contra o intestino, deixando a pessoa mais suscetível a inflamações. Sintomas: diarréia crônica, dor abdominal, náusea, cansaço, perda de peso, úlceras e dor nas articulações. Doença celiáca: o dano é no intestino grosso e interfere na absorção de vitaminas. O paciente fica proibido de consumir glúten. Sintomas: dor e inchaço abdominal, diarréia crônica, perda de peso, anemia, gases, perda óssea, cansaço, depressão e dor nas articulações. Fontes: Emília Sato (reumatologista da Unifesp) e Maria Fernanda Barca (endocrinologista do HC) Saiba como é o ataque às doenças auto-imunes O tratamento mais moderno é feito com drogas biológicas -ou os chamados bloqueadores do TNF (fator de necrose tumoral, na sigla em inglês, substância que, quando produzida pelo sistema imunológico desregulado, causa problemas de auto-imunidade). Já disponível no Brasil, o medicamento tem se mostrado eficaz contra artrite reumatóide e algumas doenças inflamatórias intestinais. “O único problema é o custo, que é alto”, diz o reumatologista e imunologista Morton Scheinberg. Há ainda uma variedade de analgésicos, antiinflamatórios e corticóides eficientes no controle da dor e das inflamações e outras drogas que aumentam a qualidade de vida dos pacientes. No caso de lúpus, por exemplo, as mudanças foram radicais nos últimos dez anos, aproximadamente. “A mortalidade da doença, que pode afetar pele, articulações, coração e cérebro, hoje é menor que 5%. Além de compreender de forma mais clara as complicações provocadas pela doença, temos exames laboratoriais, antibióticos e anti-hipertensivos mais eficientes”, diz Scheinberg. Dependendo da doença, pode-se recorrer também aos medicamentos moduladores, que modificam a resposta imunológica. Um exemplo de sucesso é a substância cloroquina, eficiente para lúpus. Há também os imunossupressores, que inibem a proliferação das células do sistema imunológico que causam a doença. São eficientes, porém merecem atenção. “Afinal não se pode bloquear totalmente a ação de células de defesa que podem ser requisitadas para outras funções”, diz a imunologista Myrthes Toledo Barros, do Hospital das Clínicas. Mesmo os corticóides, que em altas doses funcionam como imunossupressores, são usados de forma criteriosa. A longo prazo, podem provocar catarata, diabetes, osteoporose e atrofia muscular, entre outros problemas. “Esse tipo de droga, bastante usado para psoríase, é considerado obsoleto. Os retinóides, derivados da vitamina A, mostraram-se melhores e livres de efeitos colaterais”, diz o dermatologista Cid Yazigi Sabbag. Mas, para o futuro, a grande boa nova pode estar nas células-tronco, como mostrou uma experiência realizada na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da USP. Segundo o médico e coordenador do estudo, Júlio César Voltarelli, o objetivo da cirurgia é “desligar” o sistema de defesa defeituoso do organismo dos pacientes e refazê-lo por meio de um transplante de células-tronco, que são capazes de assumir a função dos mais diversos tecidos. Dos 22 pacientes com lúpus e esclerose múltipla que se submeteram à técnica, 16 se recuperaram bem, diz o pesquisador. Como ainda é experimental, os médicos não demonstram tanto entusiasmo. Para Scheinberg, que também testou a técnica em um paciente, é preciso saber que o índice de mortalidade é alto. Além disso, em sua opinião, como os pacientes também recebem altas doses de imunossupressores no tratamento, ainda não se sabe ao certo se o sucesso foi cirúrgico ou clínico. Por fim, é importante salientar que a ação dos grupos de apoio, além de fisioterapia, prática de exercícios físicos supervisionados e acupuntura, são tratamentos complementares de sucesso. Aliás, no caso de uma doença que gera tanta insegurança no paciente, o apoio da família e dos amigos é muito valioso para a sua recuperação. Da Assessoria de Imprensa do Cremepe. Com informações do Equilíbrio on Line.

Aviso de Privacidade
Nós usamos cookies para melhorar sua experiência de navegação no portal. Ao utilizar o Portal Médico, você concorda com a política de monitoramento de cookies. Para ter mais informações sobre como isso é feito, acesse Política de cookies. Se você concorda, clique em ACEITO.