O médico, profissional que tem por finalidade a complexa e singular função de cuidar, aliviar e curar os sofrimentos humanos, necessita como ninguém de condição material, ambiental e psicológica adequadas para que possa cumprir com qualidade este papel junto à sua comunidade. Esta, por sua vez, face à crescente elevação da cultura da cidadania e direitos humanos, tem se tornado cada vez mais exigente nas suas necessidades de saúde. É bom que seja assim! Somos hoje uma nação democratizada e, para que esta condição se consolide e aprofunde, o culto e exercício de princípios promotores da eqüidade social são fundamentais. Em paralelo a esta crescente demanda de qualidade no atendimento por parte da sociedade, o médico também sofre enorme pressão dos compradores do seu trabalho, dos setores público e privado, provocando um achatamento das remunerações sem precedentes. Preocupado com estas constatações e desejando conhecer racionalmente a profundidade desta situação, o Cremeb patrocinou pesquisa sobre as condições de trabalho e saúde dos médicos que atuam na cidade de Salvador, coordenada pelo médico e epidemiologista Carlito Lopes Sobrinho, assunto que, pela notória importância, resultou em seu tema de tese de Doutorado, apresentada à Famed/Ufba. Neste número, o Jornal do Cremeb explicita os resultados obtidos nessa pesquisa, na esperança de que possa estar contribuindo para que os gestores da assistência à saúde e o Movimento Médico formulem políticas regeneradoras, sempre em busca do aperfeiçoamento do binômio médico-paciente, razão de ser da medicina. Além disso, Cremeb, ABM e Sindimed estarão promovendo, ainda no primeiro semestre deste ano, o II Congresso Baiano sobre Remuneração e Trabalho Médico. Queremos, novamente, estabelecer democrática e civilizadamente o diálogo entre os vários atores da assistência à saúde: poder político, gestores públicos e privados, representantes de planos e operadoras de saúde e entidades médicas. O objetivo essencial será a realização de diagnósticos realistas sobre o estado atual deste fundamental segmento, para fins de aperfeiçoamento contínuo que resulte em melhora dos índices de saúde e qualidade de vida do nosso povo. De outro lado, como se sabe, os sucessivos governos do Estado da Bahia vêm implementando mudanças que consistem em permitir que o gerenciamento da saúde pública seja executado pela iniciativa privada, as denominadas Organizações Sociais. Queremos, com a experiência vivida, coletar dados que nos informem sobre os resultados desta iniciativa: o que a terceirização representou para a qualidade da assistência à população, qual o nível de satisfação destes usuários, o que significou para as condições materiais, remuneratórias e trabalhistas dos médicos? Temos como objetivo saber quem ganhou ou perdeu com esta inovação. Portanto, convidamos todos os médicos a comparecerem a este evento, que será o fórum adequado para expormos livremente, sem receios, nossas insatisfações, denúncias, aplausos, opiniões, sugestões de mudanças, etc.
O futuro do trabalho
07/04/2005 | 03:00