Salvador, 08 de janeiro de 2003. De: Sociedade de Pneumologia da Bahia Para: Cremeb Dr. Jecé Brandão MD Presidente Senhor Presidente Colegas Médicos Parece-me que, com a nova mudança da ordem social deste País, ou seja, a valorização da obstinação, do querer, o poder e o dever de fazer, os olhos abertos para as nossas realidades nos abrem um novo alento para gerar forças e retomarmos o trabalho de reconstrução da nossa profissão. É um desafio para todo médico. De qualquer especialidade, de qualquer função, de qualquer classe social. Somos responsáveis pela mais nobre das profissões porque simplesmente lidamos com a vida. Temos o poder de decidir por ela com as nossas atitudes e por isto temos a maior das responsabilidades. Vejo o médico como um ser mágico, altivo, dedicado, abnegado e que passa por cima dos muitos prazeres da vida, e que não se nega a abdicar dos seus desejos e horas de felicidade para poder fazer alguém mais feliz pelo seu ato. Perguntaria: existe algum profissional que tem o mínimo direito de errar do que o médico? Existe algum profissional que ao mesmo tempo pode executar o papel de pai, conselheiro, irmão, amigo, confidente? Mas às vezes esquecem que somos humanos, que não somos deuses. Esquecem que não somos exceção; temos apenas um caminho mais árduo a cumprir: o de zelar por quem nos deu a sua confiança, o que nos deixa muitas vezes impossibilitados de extravasar os nossos anseios. Infelizmente não estamos sendo reconhecidos pelos nossos atributos, desprovidos de quaisquer vaidades, porém escravos de um juramento pelo qual temos que servir a vida inteira. Olhemos os nossos acertos ao longo da Humanidade. Olhemos quantas coisas boas foram descobertas e quantas vidas puderam e continuam a ser salvas. Olhamos as estatísticas e observamos que a maioria das mortes está relacionada com acidentes de trânsito, guerras, doenças provocadas pelo próprio homem, pelo seu destempero social e que temos trabalhado muito para evitar as suas conseqüências. Fazendo uma análise retrospectiva, aonde chegou o reconhecimento por esta dedicação? Como se encontra o profissional médico? Será que o seu papel tem sido devidamente reconhecido por salários dignos, condições de trabalho adequadas, cargos e funções que só a ele competem podem ser subjugados por outros profissionais que não têm a competência para tal? E os nossos heróis, cientistas, famosos, ou os anônimos do dia-a-dia têm o devido espaço da mídia? Manchetes sensacionalistas que expõem a dignidade de um profissional que não pode exercer o seu ofício por falta de condições adequadas são mais valorizadas. Mas não sejamos pessimistas, sejamos médicos com orgulho, com nobreza. Sejamos alicerces da base de uma pirâmide sólida, que, ao longo da história, se preserva como monumento da humanidade. Vamos pegar carona no vento da mudança. Embriões novos estão surgindo, como a solidificação das entidades médicas, carro-chefe para qualquer projeto, a nova tabela de procedimentos, o CIER, a criação de cooperativas realmente médicas, o projeto de lei nº 25/2002, do senador Geraldo Althoff, que regulamenta o ato médico e define a responsabilidade e a atividade médica no seu justo lugar, a defesa do SUS como direito do povo brasileiro, enfim, várias outras ações. Vamos ter a coragem necessária, o sacrifício total pelo que consideramos de mais importante na missão que escolhemos para direcionar as nossas vidas: A MEDICINA. Colegas, particularmente desejo a todos nós que realmente possamos mudar o rumo da nossa trajetória. Antônio José Pessoa S. Dórea – Presidente da Sociedade de Pneumologia do Estado da Bahia
“Não ao pessimismo, sejamos médicos com orgulho”
14/04/2003 | 03:00