A luta de combate ao acidente com escalpelamento que ainda ocorre nos rios, furos e igarapés da Amazônia, principalmente no Pará, com destaque acentuado na Ilha do Marajó, ganhou mais um grupo aliado nesta quinta-feira: os mestres carpinteiros, que são responsáveis pela construção de pequenas e médias embarcações, que são os meios de transportes diários em 63% dos municípios paraenses.

Na ocasião, os mestres carpinteiros tiveram a oportunidade de conhecer de perto o drama vivido por crianças e mulheres, vítimas de acidentes com escalpelamento, e tomaram conhecimento sobre o que está sendo feito para a erradicação do problema que este ano já fez seis vítimas ribeirinhas, as quais recebem tratamento adequado na Santa Casa de Misericórdia do Pará, em Belém.
Neste encontro estiveram presentes, também, representantes do Governo do Estado, por meio da Sespa; Marinha do Brasil, através da Capitania dos Portos; Universidade Federal do Pará (UFPa) e Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro). Todos apresentaram propostas para que a erradicação do escalpelamento seja uma realidade , principalmente nos Estados do Pará e Amapá, onde ocorrem a maioria dos acidentes, que é provocado pelo eixo descoberto dos motores de embarcações.
O Departamento de Engenharia Naval da UFPa, através do engenheiro naval Kao Yung Ho, apresentou cinco propostas para serem colocadas em ação, visando colaborar com a erradicação do escalpelamento. Mestres carpinteiros também apresentaram propostas que farão parte de um documento que vai ser elaborado pela Sespa em parceria com vários órgãos e instituições federal, estadual e municipais.
A Capitania dos Portos admite que, embora a Marinha do Brasil faça fiscalizações permanentes nos rios da Amazônia, para combater também os acidentes por escalpelamento, há muitas embarcações na clandestinidade e por isso trafegando sem a cobertura do eixo do motor, o que provoca os acidentes.
Conhecido no município de Abaetetuba como mestre “Bola”, Moisés Moraes dos Santos disse que seu pai trabalhava na construção naval e que herdou a profissão, já tendo construído inúmeras embarcações que trafegam nos rios, furos e igarapés do município e de outros cujo transporte fluvial se faz necessário. Ele ficou entusiasmado com a parceria já existente no combate aos acidentes por escalpelamento e se comprometeu a ajudar no que for possível para que a erradicação dos acidentes se torne realidade. Lembrou que Abaetetuba é comporto por mais de 70 ilhas, onde o principal meio de transporte é o barco.
Advertindo para o perigo, mestre Bola revelou que 360 rabetas – pequenas embarcações – transportam diariamente estudantes para as escolas, com a grande maioria apresentando o eixo do motor descoberto, o que classificou ele como “um grande perigo” em Abaetetuba. Por isso, pediu ele que a Marinha e os órgãos competentes que buscam a erradicação dos acidentes por escalpelamento exijam que as prefeituras municipais, que contratem embarcações para transporte de estudantes, só assinem contratos com proprietários que tiverem os eixos de suas embarcações cobertos conforme determina uma Lei Federal.
Dione Cunha, diretora de Políticas de Atenção Integral à Saúde da Sespa, disse que “temos resultados bons e ruins, porque muita gente ainda não obedece ao que é determinado”. Mas chamou a atenção dos mestres para que eles ajudem a tratar a causa. “A conseqüência já está sendo tratada”, lembrou. Enquanto isso, o médico do trabalho Hélio Vitor, da Fundacentro, sugeriu que seja feito um cadastro dos mestres carpinteiros, para que eles comuniquem a Capitania dos Portos sobre para quem constroem embarcações, para que este meio de transporte saia da clandestinidade e cumpram o que é determinado por Lei.
Foto de José Pantoja (Ascom/Sespa).
Fonte: Sespa.