Os médicos do Espírito Santo deram um passo definitivo para a implantação da Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos, CBHPM. Eles definiram o preço mínimo de R$ 42,00 para as consultas médicas feitas por meio de operadoras de saúde. A decisão foi tomada numa Assembléia Geral Extraordinária dos Médicos onde aconteceu a apresentação do relatório elaborado pela Comissão Estadual de Implantação da CBHPM. A assembléia foi convocada pelo Conselho Regional de Medicina do Espírito Santo, CRM-ES, a Associação Médica do Espírito Santo, AMES, e o Sindicato dos Médicos do Espírito Santo, SIMES, e realizada no último dia 15 de junho no cerimonial Le Buffet, em Jardim Camburi, Vitória. Além da questão do preço das consultas, os médicos discutiram outras propostas que serão implantadas gradativamente. O objetivo é de que até dezembro deste ano a Classificação esteja toda implantada. Segundo o presidente do CRM-ES, Dr. Saulo Ribeiro do Val, este é um sonho de toda a classe médica. “Nós já estamos trabalhando nisso há algum tempo e convocamos esta assembléia para sentir dos médicos capixabas se apóiam este sonho, esta idéia e a partir daí, só a partir daí, o Conselho vai realizar uma plenária para aprovar as resoluções desta assembléia e implantar a tabela na medida do possível. Teremos que ter tempo, nada vai ser feito de maneira intempestiva. Nós vamos programar algumas coisas hoje e esperamos que até primeiro de janeiro de 2005 a Classificação Hierarquizada esteja implantada de maneira definitiva e total”, disse o presidente. Ele enfatizou que de maneira nenhuma se quer fazer uma pressão muito grande. “Este é um sonho dos médicos e queremos saber a opinião deles, acho que todos estão ansiosos por uma remuneração melhor, por uma medicina de melhor qualidade, e acreditamos que a implantação da CBHPM vai ser uma resposta a todos os nossos anseios neste momento”, reforçou Dr. Saulo. Para o secretário-geral do CRM-ES, Dr. Celso Murad, fazer a implantação da CBHPM de forma gradativa é a forma mais fácil, mais precisa de se conseguir um bom resultado. “É preciso que as operadoras de saúde tenham tempo para se adequarem aos novos valores. O principal fator de mudança que a classe médica vai ter com a implantação da CBHPM é o valor que os médicos vão dar ao seu trabalho. Será um preço justo para o trabalho da classe. Nós vamos parar de vender nosso trabalho por um preço estipulado pelas operadoras. Cabe a nós agora quantificarmos nosso salário. Esta Classificação é uma restauração da dignidade da atividade profissional do médico. Com esta dignidade restabelecida nós poderemos ter uma perspectiva melhor de condições de trabalho”, salientou Dr. Celso. O presidente da Comissão de Implantação da CBHPM e também presidente da Associação Médica do Espírito Santo (AMES), Dr. Hélio Barroso dos Reis, enalteceu o evento. “Esta assembléia geral talvez seja um marco histórico neste início de milênio. Nós, da comissão, sugerimos um cronograma paulatino para a implantação da CBHPM. Entendemos que dez anos de defasagem financeira não pode ser resolvido de uma hora para outra. O que a comissão propõe é que seja uma implantação gradual. A primeira proposta a ser resolvida é quanto ao preço da consulta, a implantação do código da consulta. A segunda etapa são os procedimentos médicos e a terceira etapa são os procedimentos que envolvem maquinário, SADT, laboratório e etc. Nossa idéia é implantar a tabela por inteiro até dezembro deste ano. Vale lembrar que há 10 meses estamos negociando com as operadoras que compram os serviços médicos e nada foi resolvido. Tentamos dialogar em alto nível com as operadoras, mas não foi entendido assim e infelizmente só se está conseguindo quando se vai para o confronto. Isso nós não queríamos”, lamenta. Na opinião do presidente do Sindicato dos Médicos do Espírito Santo (SIMES), Dr. Fernando Chiabai, o dia 15 de junho realmente é um marco na medicina do Espírito Santo. “Vamos, finalmente, estabelecer um preço mínimo para nossos serviços. Passamos um ano negociando com as operadoras de saúde, fomos tolerantes e exaustivos no diálogo, e agora estabelecemos um preço mínimo de R$ 42,00 pela consulta. Este preço foi definido há um ano, portanto já está defasado. Mas para que a negociação não seja demorada e se implante de vez esta Classificação estamos mantendo este preço já defasado”, esclarece Dr. Chiabai. Mas e o que diz as operadoras? Afinal, seus dirigentes também são médicos e sabem que a situação não pode continuar como está. O presidente da Cooperativa Unimed Vitória, Dr. Alexandre Ruschi, disse que como médico entende que esta é uma remuneração que repõe a perda que os médicos tiveram ao longo de tantos anos, uma remuneração justa, e que recupera minimamente a consulta médica como ato médico prioritário, principal. “Mas como presidente da Cooperativa Unimed Vitória digo que a cooperativa trabalha com divisão de sobra, rateio anual com antecipação mensal das sobras, de forma que os cooperados recebem a sua produção em função do que sobra no final do mês. A Unimed sempre remunerou melhor a consulta exatamente porque o seu perfil de remuneração é o que sobra no final do exercício. Mas vamos acatar a decisão da assembléia e ver o que pode ser negociado”, disse ele. Para o Dr. Walter Dalla Bernardina, do plano São Bernardo Saúde, é perceptível a necessidade de reajuste nos honorários médicos, mas que tem que se valorizar mais o trabalho dos médicos. “A gente tem que valorizar mais os honorários, o serviço médico. É um serviço manual, de você pegar o cliente e examinar, de fazer uma cirurgia, tudo isso está sendo desvalorizado. A classe médica valorizou, há muito tempo, as máquinas, os exames complementares e os procedimentos de alto custo. E é isso que está inviabilizando a medicina. Os exames complementares são o que pesam num plano de saúde e não as consultas. Tem que haver uma inversão. Valorizar a consulta médica e só pedir os exames complementares realmente necessários. Acho perfeitamente possível um aumento nos preços das consultas. Não sei se estes R$ 42,00 serão suportados pelos planos, tem que ver o impacto nos custos dos planos. Vamos fazer estes estudos e ver a possibilidade de pagar. Uma coisa é fato. Há uma necessidade de reajuste porque os preços são aviltantes, indignos com a profissão. Mas vamos ter que esperar as operadoras de maior porte como Unimed e Bradesco Saúde se pronunciarem porque elas é que estão em poder da maior fatia no mercado”, explicou Dr. Walter
Médicos vão à Assembléia Geral e dizem “sim” para CBHPM
20/07/2004 | 03:00