Não é nenhum bicho-de-sete-cabeças, mas está para a adolescência como o bicho-papão para a infância. “Na minha primeira consulta ginecológica fiquei com muita vergonha. Durante a conversa inicial, preferi que minha mãe ficasse ao meu lado. Mas, na hora do exame, já me sentia à vontade e consegui fazê-lo sozinha”, conta Bárbara Almeida de 17 anos. Não há dúvidas de que o nervosismo, a ansiedade e o medo sejam sintomas comuns na primeira ida ao ginecologista. Mas com o desenvolvimento biológico, a menina (ou mesmo mulher) precisa conhecer melhor o seu corpo. Orientação com relação ao início da vida sexual e das mudanças que acontecem depois da menstruação, além da prevenção das doenças ginecológicas e sexualmente transmissíveis são os principais objetivo dessa primeira consulta. Definitivamente, não há uma idade correta para a primeira ida ao ginecologista. “A adolescente deve ir ao especialista em casos de distúrbios menstruais (ciclos irregulares, fortes dores, coceiras, corrimentos) e assim que iniciarem suas vidas sexuais”, reforça o ginecologista Sebastião Teixeira. Já para a médica Daniella Castellotti, a primeira menstruação marca o início das visitas. “A prática é importante para criar um vínculo seguro entre o médico e a paciente e orientá-la com relação a sua sexualidade, as doenças sexualmente transmissíveis (DST) e a gravidez, já que muitas meninas começam suas vidas sexuais precocemente”, explica. A atitude até parece precipitada, mas, de acordo com números do Ministério da Saúde, só em 2003, mais de um milhão de adolescentes (entre 14 e 16) foram mães. Nesse primeiro contato, o diálogo é o mais importante. A data da primeira menstruação, eventuais relações sexuais e hábitos cotidianos de higiene são os tópicos da conversa. “Se não houver alguma queixa de saúde, na primeira consulta, o médico deve ganhar a confiança da paciente. Além da conversa informal, o especialista deve fazer exames médicos de rotina (pressão arterial, examinar pulmões, tireóide e fígado) e, caso necessário, examinar externamente os genitais, sem esquecer de detalhar todos os procedimentos”, recomenda. “É importante respeitar o recato da adolescente”, continua. “Muitas vezes, as preocupações das meninas começam ainda na sala de espera. Algumas querem que a mãe entre, outras preferem que ela aguarde do lado de fora e outras ainda, que a mãe entre, mas se retire em um determinado momento da consulta”, conta Daniella Castellotti. Nesse ponto, os especialistas são unânimes: a adolescente é quem decide se a mãe deve participar ou não da consulta. “Na maioria das vezes, as meninas mais novas preferem a companhia das mães. Com o tempo, elas começam a marcar as consultas sozinhas”, esclarece Teixeira, que acredita ser importante reservar um tempo da consulta para uma conversa particular. Mas a importância da primeira visita ao ginecologista não se resume a orientação sexual. Muitas vezes, o profissional descobre pequenos distúrbios que se não tratados, no início, podem trazer grandes complicações. O caso da estudante Natália Rodrigues, de 15 anos, é um bom exemplo. “Menstruei aos 10 anos. Depois de uns três anos, percebi que meu rosto estava com muitas espinhas e pêlo. Fui ao dermatologista e ele me encaminhou ao ginecologista”, relembra a estudante. “Com os exames, a médica descobriu que eu estava com excesso de hormônio masculino causado por um pequeno tumor e me indicou um tratamento que durou seis meses”, comemora. Amanda Valença também foi levada ao ginecologista por distúrbios de saúde. “Estava com problemas no ovário. No início, alguns exames doeram um pouco. Hoje sei a importância do acompanhamento desse profissional e foi regularmente uma vez por ano”. Por sinal, pouca gente sabe, mas, muitas vezes, até meninas de pouca idade precisam visitar o ginecologista. Até os dois anos, a principal queixa é a aderência dos pequenos lábios. Entre dois e sete anos é freqüente o pediatra pedir uma avaliação do ginecologista por corrimento vaginal de repetição. A partir dos sete ou oito anos, quando a menina já tem uma noção maior de higiene, as queixas principais são o aparecimento de fungos e a menstruação precoce. “Nessa idade, algumas meninas não querem tomar banho com suas mãe e não fazem uma boa higienização no genital. Como a região dos grandes e pequenos lábios é rica em glândulas sebáceas, o acúmulo de secreções pode provocar o aparecimento de fungos, bactérias e, conseqüentemente, corrimentos”, explica Teixeira. Com a menstruação, as dúvidas passam a enfocar a irregularidade do ciclo menstrual, cólicas e hemorragia. “Durante os primeiros dois anos de menstruação é normal haver afastamentos de ciclos, dores menstruais e um fluxo mais intenso. Em caso de dúvidas, vá ao especialista”, diz Teixeira. Quando as meninas começam a namorar, as dúvidas sobre sexualidade e anticoncepção são as mais freqüentes. Nesse ponto vale a pena lembrar que a pílula do dia seguinte não pode ser usada como um método anticoncepcional. “Irregularidades no ciclo, hemorragias e náuseas são os problemas imediatos. Além disso, se não for tomada 12 horas depois da relação não impede 100% a gravidez”, garante o ginecologista. Curiosidade sexual leva meninos ao urologista “Quando fiz 16 anos, resolvi procurar a orientação de um urologista. No começo fiquei com vergonha, mas depois de uma conversa informal me senti à vontade”, conta o adolescente de 17 anos, Fernando de Andrade. “A importância dessa primeira consulta é conhecer melhor as mudanças que estão acontecendo no nosso corpo e tirar as eventuais dúvidas sexuais”, continua. “Tenho vergonha de conversar sobre sexo com meus pais por isso me sinto mais à vontade com um profissional. Orientação sexual e doenças sexualmente transmissíveis foram o tema da minha primeira ida ao urologista”, completa o estudante de 15 anos, H.J. Para o urologista Misael Wanderley, o adolescente deve procurar o urologista assim que iniciar a atividade sexual. “É importante saber os perigos das doenças sexuais e da gravidez indesejada”, explica. “Na primeira consulta, a orientação é o mais importante. O exame físico é superficial e o toque retal, normalmente, é feito por homens a partir dos quarenta anos (prevenção de problemas prostáticos)”, continua. “O exame da genitália tem a função de observar o correto desenvolvimento do órgão e prever distúrbios que podem levar, inclusive, a infertilidade”, completa o urologista Rodrigo Pagani. Os principais problemas sexuais dessa faixa etária são: fimose (hipertrofia do prepúcio), varicocele, orquite (inflamação dos testículos) e as postites fúngicas. A vantagem da ida ao urologista na adolescência é que se esses distúrbios forem descobertos logo no início podem não trazer conseqüências tão sérias. A varicocele é um bom exemplo. “Essa doença se caracteriza pela presença de varizes no escroto e pode provocar a atrofia testicular e até a infertilidade”, explica o especialista Misael Wanderley. Para se ter idéia, de acordo com um estudo feito pela Universidade Federal de São Paulo com 300 adolescentes, 50% deles tinham tinham varicocele. Desses, 40% possuíam problemas de fertilidade. “Os garotos devem checar se um testículo é maior do que o outro, ou se há diminuição dos mesmos, ou ainda se existem nódulos ou aumento no volume do escroto”, ensina Pagani. As doenças sexualmente transmissíveis (DST), principalmente a gonorréia, também são comuns nessa idade. Da Assesoria de Imprensa do Cremepe. Cm Informações do Jornal do Commercio.
Ginecologista não é bicho-papão
14/05/2004 | 03:00