Publicado no(a): – Em: 23/8/2004 Dizia um antigo morador de minha terra que a doença humilha. Os males do corpo colocam o Homem de joelhos, o colocam dependente, à mercê, a doença transforma o Homem num pedinte. Também em minha terra, é habitual que políticos oportunistas, ainda hoje, nestes tempos cibernéticos, se valham da fragilidade dos pacientes doentes do corpo e carentes de todo o resto para servirem como intermediários do acesso ao Sistema de Saúde que não consegue atender a todos com a qualidade mínima e necessária requerida por um ser humano em uma situação de fragilidade. Não somente em Rondônia, mas também em outros rincões, se tornou modismo as indicações de políticos profissionais para ocupar cargos na esfera da Saúde. Na busca de votos vale todo e qualquer tipo de assistencialismo e quiçá, conluios com os fornecedores e corruptores que estão sempre disponíveis, convidativos, em plantão permanente. A Carta Magna diz que a Saúde é um direito de todos e um dever do Estado. Claro está até para os mais alienados que, até o momento presente, o Estado se encontra inadimplente. Está atrasado em suas obrigações e, diferentemente do cidadão comum, não paga multas e nem fica “sujo” no SPC e nem no SERASA. O Sistema Único de Saúde – SUS – criado e elaborado para atender as demandas da Saúde e para proporcionar aos brasileiros o acesso igualitário e digno acabou por se tornar um pesadelo, motivo de chacotas em programas da mídia televisiva e a “última coisa” a qual o cidadão comum deseja recorrer em caso de uma necessidade. Para fugir do SUS, a classe média brasileira recorre aos planos e seguros saúde. Além de arcar com despesas de educação para fugir das depauperadas escolas públicas e despesas com segurança para se proteger da epidemia de violência que assola os quatro cantos do país. Ao tentar escapar desse castigo chamado SUS, muitas vezes o cidadão “escapa da panela e cai na caçarola”. Foge para armadilhas. O tentador marketing dos chamados planos de saúde oferece lençóis limpos, colchões macios, ambiente climatizado e profissionais sorridentes e atenciosos para recebê-lo em instalações iluminadas e alegres, adornadas com flores e odores primaveris. Um cadastro simples e um contrato habilitam o cidadão para ser usuário de um plano de saúde e, superadas as carências, advêm uma infinidade de papéis, um interminável vai e vem e uma de burocracia para autorizar este ou aquele procedimento. São muitos os atrativos e as facilidades para a adesão e, habitualmente, são outras tantas as dificuldades para a obtenção de benefícios. As operadoras de planos de saúde nada mais fazem do que uma intermediação de serviços médicos e hospitalares para consumidores que recorrem a tais serviços como alternativa ao SUS, ou “SUSTO”, como ouço com freqüência. E, no Brasil, são quase 40 milhões de clientes que tem o privilégio de poder pagar um plano de saúde.Uma clientela significativa. Uma formidável fonte de lucros, sujeita, como todo e qualquer negócio, a alguns riscos. De longa data sabemos que o emprego da tecnologia na Saúde quase sempre aumenta os custos, ao contrário de uma indústria convencional onde o emprego de tecnologia redunda em economia e contenção de despesas. Para compensar o aumento de custos, se lançou mão de um artifício bastante simples e cínico: congelar o valor dos honorários médicos. E assim, o valor da consulta médica não tem aumento há 10 anos. A mobilização de entidades médicas e o boicote a algumas seguradoras são uma resposta muito mais do que justa a uma situação insuportável na qual os honorários dos profissionais médicos são a válvula que é fechada, a estratégia de resultados imediatos, para que as seguradoras continuem usufruindo lucros da corretagem que é feita no trabalho dos médicos. Outrossim, a implantação da Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos, CBHPM, vem normatizar as distorções impostas aos honorários médicos que têm sido aviltados ao longo de vários anos por planos de saúde predadores. Conquanto o SUS não apresente um padrão de atendimento com dignidade aceitável para todos os brasileiros, a alternativa é administrar a ganância das seguradoras e contemplar usuários com serviços decentes e os profissionais com honorários dignos. O que se espera é que as cooperativas médicas, as quais tem como seus donos os próprios médicos, implantem, de imediato, sem pestanejar, a CBHPM, pois os beneficiados serão, certamente, os mesmos médicos que precisam de honorários justos.
Fugindo para as armadilhas
08/09/2004 | 03:00