O primeiro dia do IV Fórum Nacional de Ensino Médico do Conselho Federal de Medicina (CFM) provocou reflexões sobre a formação humanística de médicos. O presidente do CFM, Roberto d’Avila, salientou a importância de se estimular os alunos e valorizar as histórias da vida: “o contato com o paciente é essencial para o trabalho médico. A anamnese não pode cair em desuso”. O encontro que ocorre nos dias 15 e 16 de maio, em Brasília, reúne cerca de 80 representantes de entidades médicas.
Para d’Avila, a Medicina não pode ficar refém da tecnologia e de ações apenas terapêuticas sem uma visão mais humana. “Respeitar os valores culturais, as vontades e os desejos do paciente: isso e a verdadeira Medicina”. O presidente do CFM citou o historiador Gregorio Marañón: “é por meio das humanidades que se pode chegar a um conhecimento mais abrangente e preciso da realidade humana”.
Ainda sobre o tema, professores de universidades federais brasileiras expuseram suas experiências de como implementar a humanização na academia. “É um debate essencial para a formação”, defendeu o conselheiro federal Lúcio FlávioGonzaga Silva, professor doutor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e membro da Comissão de Ensino Médico do CFM.
Qualidade – O debate sobre o papel dos diversos atores no Ensino Médico no Brasil teve destaque na programação do IV Fórum. Na conferência de abertura, o professor doutor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Aníbal Gil Lopes, afirmou que o ensino médico envolve rediscutir o sistema de educação como um todo. “Não podemos esperar que os cursos médicos supram tudo aquilo que as etapas anteriores de ensino não alcançaram. É necessário superar as distâncias entre as diferentes áreas do conhecimento”.
Por sua vez, o secretário substituto de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, Fernando Menezes, ponderou sobre o desafio de se formar médicos. Ele destacou as particularidades do Brasil na integração entre a gestão e a formação de profissionais da saúde: “a desconexão entre formação e carreira; o status de especialista é atingido no início da carreira (muito jovem); e fragmentação excessivas do cuidado da saúde”.
Debate – O representante do Ministério da Educação (MEC), professor Henry Campos, destacou o desafio de ampliação e qualificação da assistência médica. Ele citou, como necessária, a ação do MEC de interiorização dos médicos com a abertura de vagas em Medicina e considerou um avanço os critérios estabelecidos recentemente.
No entanto, o estudo Demografia Médica no Brasil patrocinado pelo CFM demonstrou que não são polos de fixação de profissionais. (leia mais sobre a pesquisa) Segundo o vice-presidente do CFM, Carlos Vital, é grande o número de médicos em atividade sem condições de funcionamento. “A abertura de novas escolas ou o aumento no número de vagas nas existentes é uma atitude desprovida de conteúdo prático e de bom senso”.
Como resposta às críticas sobre a qualidade dos cursos, Henry Campos afirmou achar “inevitável caminharmos para avaliação de egressos, contudo que seja feita de uma maneira responsável e madura”.