
Décadas: estudos sobre o tema começaram no século passado
De acordo com relatório da Harvard Medical Association (EUA), a morte cerebral, ao contrário do coma, é a expressão clínica de um dano encefálico total e irreparável, irreversível e definitivo. “O indivíduo não tem personalidade nem memória, e não pode sentir fome, sede ou emoções; ele também não consegue respirar nem manter a temperatura corporal sem auxílio de máquinas. As células mortas começam a se decompor, e as enzimas liberadas se agridem e se destroem, iniciando um processo inexorável”, explica o professor italiano de bioética Antonio Puca, em artigo publicado na revista Bioethikos, do Centro Universitário São Camilo.
A definição da morte encefálica passou a ser debatida entre a classe médica após a década de 1950, quando surgiram os aparelhos capazes de prolongar a vida artificialmente. Os primeiros estudos foram realizados pelos franceses Mollaret e Goudon, que em 1959 descreveram 23 pacientes em coma profundo, sem reação nem atividade de tronco encefálico, cuja atividade cardíaca se mantinha com suporte respiratório. No entanto, uma definição de morte cerebral só foi dada em 1968, pela Harvard Medical Association.
Um mês após o primeiro transplante de coração, em 1967 na África do Sul, foi criado, sob a coordenação do anestesista Henry Knowles Beeker, um grupo de pesquisa da Faculdade de Medicina de Harvard para estabelecer os critérios da morte cerebral.
Em 1968, o Journal of the American Medical Association (Jama) publicou um artigo de autoria desse grupo reconhecendo o critério da morte cerebral, passando do conceito de morte fundado no coração ao baseado no cérebro. “Trata-se de uma evolução ainda maior quando se considera que a morte cerebral é a condição essencial para a coleta de órgãos”, argumenta o professor Antonio Puca.
Os critérios estabelecidos em 1968 foram atualizados em 1981 por proposição da President’s Commission for the Study of Ethical Problems, que definiu dois critérios de morte: cessação irreversível da função respiratória e circulatória e cessação irreversível de todas as funções do encéfalo, incluindo o tronco.