A gripe aviária é atualmente destaque na imprensa mundial, sendo motivo de preocupação de população e autoridades do planeta inteiro. A doença é provocada por um vírus, o H5N1, que se aloja principalmente nas aves. Até hoje, a contaminação dos seres humanos é um processo raro e só é possível por meio do contato direto com aves vivas infectadas. A grande preocupação, no entanto, está no fato de que o vírus, que passa por freqüentes mutações, possa se tornar semelhante ao da gripe comum e, portanto, ser facilmente transmissível entre os seres humanos. O que grande parte da população não sabe é que esta iminente pandemia já era esperada e prevista pelos estudiosos. De acordo com a colaboradora da Associação Médica Brasileira (AMB), Nancy Bellei, pesquisadora de vírus respiratórios da Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina, tudo isso faz parte da história natural de um vírus, freqüentemente mutante, causando um surto que não está sob controle. “Nenhum país pode afirmar estar completamente preparado para o controle da gripe aviária, pois é impossível prever como será o vírus no futuro. Se finalmente acontecer a mutação que permitirá sua transmissão entre humanos, ele poderá ser muito diferente do que é hoje. Quem sabe, até, seja menos grave, menos hábil para causar doença tão grave.” São motivos para preocupação De acordo com a especialista, ao contrário de especulações a respeito da data da nova pandemia ou de qual seria o estoque ideal de medicamentos, a maior preocupação neste momento deveria ser a consolidação de um plano de contingência realmente consistente para o enfrentamento à doença. “Como não se sabe exatamente como será o vírus em uma eventual pandemia, não é possível determinar exatamente qual o medicamento ou a dosagem mais indicados. Também é arriscado tentar prever quando a doença chegará ao Brasil, pois não sabemos nem como isso acontecerá. As ocorrências climáticas e o perfil migratório das aves são importantes, mas não são as únicas variáveis. Tudo dependerá também da ação da vigilância não apenas brasileira, mas de países como o Canadá e Estados Unidos, que estarão na rota destas aves antes de sua chegada a nosso território.” É verdade que o Brasil já possui um plano de contingência com etapas preestabelecidas. Mas para a pesquisadora, isso não é suficiente. “É igualmente importante a implantação de um parque nacional de produção de vacinas, que já vem sendo encaminhado. Outro ponto relevante é o treinamento de profissionais de saúde. Aliás, tão ou mais importante que os medicamentos ou as vacinas é ter gente capacitada para lidar com o paciente, seus familiares e com a população em geral.” Não são motivos para preocupação Para se tornar pandemia mundial, o vírus H5N1 ainda terá que sofrer mutações suficientes para que, da mesma forma que o vírus da gripe humana, possa ser transmitido de pessoa para pessoa. Enquanto isso não acontece, e não há meios de saber como, quando e se ocorrerá, é também impossível dizer qual medicação será a mais indicada e em qual dosagem. Nancy alerta, portanto, para o perigo de estocar em casa medicamentos divulgados pela mídia como eficazes contra a gripe aviária. “Mesmo para estes medicamentos usados atualmente nos países com casos da doença, ainda não se determinou a dose ideal. Subdoses geram resistência do vírus, o que já foi comprovado em alguns casos. Saber se uma pessoa que está doente é um caso de gripe aviária é difícil, mesmo nos locais onde ocorrem os surtos em aves. Fazer auto-diagnóstico e auto-medicação é um erro com conseqüências imprevisíveis.” Outra questão que precisa de esclarecimentos diz respeito à ingestão de carne de frango. O vírus H5N1 é muito pouco resistente às altas temperaturas a que a carne é exposta no momento do cozimento. Além disso, apenas por precaução, está proibida, no Brasil, a importação de carne de frango e derivados de países afetados. Fonte: Acontece Comunicação e Notícias