O Ministério da Saúde lançou campanha para estimular a doação de órgãos para transplantes com o objetivo de pedir às pessoas que manifestem a vontade de ser um doador aos familiares e lembrar que a participação da família é fundamental para que os transplantes sejam realizados. Afinal, somente os familiares podem autorizar a retirada de órgãos, ainda que o paciente tenha formalizado a autorização previamente. A campanha também lembrará aos médicos que eles desempenham papel importante, pois são os primeiros a identificar um potencial doador e ajudar a agilizar o processo. Caso de Arthur O menino Arthur, do Rio de Janeiro, tem hipoplasia das cavidades esquerdas, agravada por um canal com aorta filiforme (1,5 mm) e válvula tricúspide com vazamento. Sua única chance é um transplante. Arthur tentou Norwood aos 4 dias de vida (16 de novembro de 2005). Aos 7 dias, Arthur colocou um stentno canal arterial. Em 04 de dezembro, foi criada uma instituição chamada DoeAção (www.doeacao.com.br), que busca contribuir para promover a cultura de salvar vidas pela doação de órgãos. A construção da iniciativa foi motivada pela difícil realidade de seu pai, Rafael Paim, e familiares em buscar superar a possibilidade de Arthur não conseguir um doador compatível de coração. Desde que nasceu, Arthur aguarda no pós-operatório infantil que apareça um doador para salvar sua vida e a desinformação tem em muito o atrapalhado. Em 15 de janeiro deste ano, foi realizada uma caminhada pela doação de órgãos para bebês receptores que dependem da ação dos médicos para apoiar às famílias na decisão de doação. O evento contou com a participação de pelo menos 550 apoiadores, que usavam a camisa do DoeAção e teve estimativa de que mais de mil pessoas estivessem envolvidas. Nesta data, foram distribuídas mais de 3600 cartas escritas pelo pai de Arthur, na qual explica o problema de desinformação com relação a este assunto. Desinformação A desinformação tem sido o principal obstáculo para bebês receptores de órgãos. O caso de Arthur é um exemplo. Ele precisa do coração de um doador com morte encefálica ou sua equivalente morte por anencefalia. As duas estão previstas na estrutura da Justiça e da Saúde do país. O CFM recebeu delegação do Congresso Nacional para regulamentar a lei e assim o fez, com a “Autorização ética do uso de órgãos e/ou tecidos de anencéfalos para transplante, mediante autorização prévia dos pais”, texto retirado da Resolução CFM n.º 1752/04. O Ministério da Saúde, em 09 de dezembro, reforçou a legitimidade do CFM e disparou um movimento para preparar as centrais de transplantes para a doação de órgãos e/ou tecidos de anencéfalos. Algumas bases legais estão disponíveis no site www.doeacao.com.br e no 0800-2828131, tais como: Lei 9434-97: Dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento e dá outras providências. Resolução CFM n.º 1.152/04: Autorização ética do uso de órgãos e/ou tecidos de anencéfalos para transplante, mediante autorização prévia dos pais. Resolução CFM n.º 1.480/91: Sobre a caracterização da morte encefálica. Portaria MS n.º 1.752/05: Determina a constituição de Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante em todos os hospitais públicos, privados e filantrópicos com mais de 80 leitos. Comunicação Secretaria de Atenção à Saúde: Concede autorização para a doação de órgãos de anencéfalos. As informações e ações são fundamentais. Médicos e hospitais precisam ou poderiam: – esclarecer as dúvidas das famílias que podem ser doadoras; – prover informações para que decidam sobre a doação de forma consciente e adequada; – informar as centrais de transplante sobre potenciais doadores; – promover a cultura da doação, desmistificar e demonstrar a simplicidade da doação; – ter preparação e palavras para o apoio emocional necessário às famílias; – ter estrutura para informar sobre a doação (as centrais realizam a coleta e transporte do órgão e não o hospital); – pedir que criem comissões de doação nos Hospitais nos quais trabalham, como manda a resolução 1752/05 MS; – pedir que coloquem a doação na formação básica dos médicos, em especial, sobre como falar com a população; – montar treinamento internos; – conversar com a centrais para tirar dúvidas; – incentivar outros médicos ao ato de apoio à salvação de vidas pela doação. Solidariedade A idéia de que a doação de órgãos prolonga a vida está registrada na história pessoal de Zilda Arns, médica, fundadora e coordenadora da Pastoral da Criança. Há dois anos, ela teve que enfrentar a dor da morte da filha de 30 anos, Sílvia, em um acidente de carro. Depois de Silvia passar seis dias em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), o médico que a acompanhava avisou à família que a moça já não respondia aos estímulos e tinha tido morte cerebral. “Eu me lembrei naquele momento que minha filha havia dito, ainda novinha, logo que tirou a carteira de motorista, que não entendia porque muitas famílias se negavam a doar órgãos de parentes”, conta Zilda. Seguindo a vontade de Silvia, a mãe assinou o termo de consentimento, para a retirada de nove órgãos – entre eles, córneas, rins, coração e fígado: “Um ato como esse não apaga a dor da perda de uma filha, mas traz um conforto muito grande em saber que o desejo dela foi cumprido”, conta Zilda. Ela acredita que são especialmente abençoados aqueles que têm seus órgãos doados: “Suas vidas são prolongadas pela vida e pelo bem-estar de outras pessoas”. É justamente esse sentimento que motiva as pessoas a doarem órgãos de seus familiares. “Estudos conduzidos por psicólogos comprovam que muitas famílias sentem conforto ao saber que a perda de um parente pode ser parcialmente compensada ao beneficiar outras pessoas”, explica Roberto Schlindwein, coordenador do Sistema Nacional de Transplantes (SNT), do ministério: “Queremos, nessa campanha, associar a doação e o transplante de órgãos com uma idéia positiva.” Por outro lado, a falta de informação contribui para que muitas famílias deixem de doar. Algumas argumentam que têm medo que a retirada dos órgãos ocorra com o paciente ainda vivo. Mas os procedimentos adotados pelos médicos antes da cirurgia são claros: a doação só ocorre após o diagnóstico de morte cerebral, obtido com dois exames clínicos feitos por dois médicos, sendo um neurologista, em um intervalo mínimo de seis horas, seguindo o protocolo do Conselho Federal de Medicina. Fonte: CRM-PR
Doação de órgãos – papel importante dos médicos
13/02/2006 | 02:00