Na manhã desta terça-feira (5), o 1º Fórum de Nutrologia do CFM foi realizado na sede do Conselho Federal de Medicina. A primeira mesa do evento, intitulada “O papel da nutrologia no enfrentamento das demandas do século”, abordou temas como transplante de microbiota e a relação da nutrologia com o envelhecimento e a oncologia. Os debates foram moderados por Eline Soriano, professora titular do Centro Universitário CESMAC-AL, e secretariados por Francis Vinicius Fontes de Lima, presidente da Câmara Técnica de Nutrologia do CREMESE.
Envelhecimento – A primeira palestra foi ministrada pelo coordenador do departamento de geriatria da ABRAB, Nelson Lucif Júnior, e tratou da relação entre dieta, nutrientes e longevidade. Segundo o geriatra, há forte correlação entre a restrição calórica e a prevenção de diversas enfermidades crônicas. “Conforme aumenta o índice glicêmico, maior a mortalidade por todas as causas”, enfatizou. Foi destacado que o aumento de peso na vida adulta – mesmo em níveis modestos – está associado ao risco elevado de doenças cardiovasculares, obesidade, osteoartrite e câncer, além da queda na qualidade de vida. 
Sobre os alimentos e sua relação com a longevidade, a apresentação foi rica em exemplos. O consumo excessivo de carboidratos, especialmente os de alto índice glicêmico, está associado ao desenvolvimento de doenças metabólicas, como o diabetes tipo 2. É crucial evitar bebidas açucaradas, que elevam a glicemia e proporcionam baixa saciedade. Em relação às proteínas, o consumo frequente de carne vermelha, especialmente a processada, foi criticado devido à sua ligação com o aumento das doenças cardiovasculares. Por outro lado, as carnes magras, como aves e peixes, são benéficas para a massa muscular e a longevidade. A ingestão adequada de frutas, legumes e vegetais contribui para a saúde física e mental, além de aumentar a expectativa de vida.
O palestrante enfatizou que a restrição calórica é uma medida preventiva contra males como as doenças neurodegenerativas, cardiovasculares, renais, cânceres e diabetes, impactando positivamente os diferentes tipos de envelhecimento. “O excesso de calorias desfavorece a longevidade e a qualidade de vida. A nutrologia pode melhorar a expectativa de vida daqueles que aderem a uma alimentação saudável”, destacou.
Transplante de microbiota – A segunda palestra, ministrada pelo diretor acadêmico da NETEP, Guilherme Teixeira de Araújo, abordou o histórico, as indicações, a eficácia e os desafios do transplante de microbiota fecal (TMF). A técnica é utilizada principalmente no tratamento da infecção recorrente por Clostridium difficile e tem ganhado destaque nos últimos anos, especialmente com o avanço de estudos sobre o microbioma humano.
O palestrante ressaltou que, apesar da infecção recorrente por C. difficile ser a única indicação formal para TMF, outras aplicações estão sob investigação. Ele enfatizou a necessidade de aderir estritamente ao protocolo – incluindo o preparo intestinal e o uso prévio de antibióticos – para assegurar a eficácia da terapia.
“Existem algumas outras doenças que podem ter um potencial de se beneficiar desse tipo de terapia, como doenças inflamatórias intestinais e a colonização por bactérias multirresistentes. A administração por colonoscopia é mais eficaz, e tanto faz as fezes estarem frescas ou congeladas, ambas são efetivas. É uma terapia segura, com poucos eventos adversos associados, desde que a gente siga o protocolo corretamente”, sintetizou.
Oncologia – A coordenadora da Comissão de Suporte Nutricional do Hospital Felício Rocho/MG, Simone Silvestre, abordou a importância do cuidado nutricional no tratamento de pacientes oncológicos, destacando que a nutrologia vai além da prescrição alimentar, sendo uma forma de acolhimento e suporte emocional. Ela alertou que a perda de peso, muitas vezes presente já antes do diagnóstico, está fortemente associada a pior prognóstico, menor resposta imunológica e maior risco de morte. Destacou que boa parte dos pacientes já chega desnutrida ao diagnóstico e que muitos sequer têm essa condição reconhecida ou acompanhada adequadamente.
Além das dificuldades impostas pelo próprio tumor e pelos efeitos colaterais do tratamento, práticas alimentares inadequadas e crendices populares agravam ainda mais o quadro nutricional. A especialista defendeu que a alimentação do paciente oncológico deve ser hipercalórica e hiperproteica, com suplementação oral ou enteral conforme a necessidade. Ressaltou, ainda, a necessidade de adaptar estratégias alimentares aos sintomas e efeitos adversos do tratamento, com medidas específicas para cada tipo de intercorrência.
Por fim, Simone Silvestre reforçou que manter o equilíbrio nutricional é essencial para preservar a resposta imunológica e garantir que o paciente consiga suportar as terapias propostas. “23% das pessoas que estão com câncer morrem por desnutrição, mortes que poderiam ser evitadas. Isso é um problema que eu considero de saúde para todos nós tomarmos conta. Não só os nutrólogos, mas todos os médicos. Precisamos prestar atenção em quantas milhares e milhares de vidas a gente pode salvar com essas medidas”, concluiu.