A criação de uma carreira de Estado para o médico do Sistema Único de Saúde (SUS) foi defendida durante o II Fórum do Médico Jovem, realizado em Recife (PE), nos dias 8 e 9 deste mês. No segundo dia do encontro, o tema foi colocado em discussão, contando com o apoio dos participantes do evento, após apresentações realizadas pelo presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Carlos Vital Tavares Corrêa Lima, e pelo conselheiro Luiz Antonio Accioly, representante de Rondônia na autarquia.
Para Carlos Vital, cabe ao Governo Federal a implementação desta proposta. Inclusive, ele defende que a responsabilidade pela remuneração dos profissionais seja assumida pela União de forma prioritária. “Essa é solução para a interiorização dos médicos e da Medicina”, ressaltou o presidente do CFM, para quem as propostas em tramitação no Congresso Nacional, em especial as Propostas de Emenda Constitucional 454/2009 e 46/2013, devem ser monitoradas pela categoria.
De acordo com o conselheiro Luiz Antonio Accioly, que conhece bem a realidade do exercício da medicina na Região Norte, a criação dessa carreira deve ainda estar atenta às peculiaridades de área de difícil provimento. Questões como problemas de acesso e de falta de infraestrutura devem ser contempladas como forma de assegurar a atratividade aos profissionais e a capacidade de estimular sua permanência em municípios com este perfil.
Formação médica – Ainda no segundo dia, o II Fórum dedicou espaço à analise de questões, como: as demandas atuais dos médicos residentes; a confusão da residência médica como processo de ensino e assistencial; a visão da preceptoria sob o olhar do residente; a fiscalização do Programa Mais Médicos; os dados da demografia médica no País; e os conteúdos de ética e bioética nos programas de residência; entre outras. Os debates, que contaram com bom nível de participação, devem ter continuidade no próximo encontro, previsto para acontecer em Florianópolis (SC), em data a ser definida.
Na sequência, Arthur Danila, Marcelo Barbisan e Beatriz Costa, presidente atual e ex-presidentes da Associação Nacional dos Médicos Residentes (ANMR), respectivamente, destacaram a importância desse processo e chamaram a atenção para a responsabilidade do preceptor no preparo dos futuros especialistas, bem como paras as dificuldades encontradas e para os direitos dos profissionais em formação. A preocupação comum é que este grupo conte com um “padrão ouro”, capaz de oferecer à população uma assistência de qualidade.
Acompanhamento – Outro assunto colocado em perspectiva no II Fórum foi a fiscalização dos programas de Residência Médica. A professora Maria do Patrocínio Tenório Nunes ressaltou a importância de aspectos, como projeto pedagógico, perfil dos educadores e responsabilidades de residentes e professores na formação, na análise e avaliação dos cursos.
Esse entendimento ganhou eco na fala do conselheiro Alceu José Peixoto Pimentel, que trouxe informações sobre o número de médicos existentes no Brasil, na qual ele questiona a necessidade de aumento desta população no contexto atual. Por sua vez, Francisco Arsego, secretário-Executivo da Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM), dedicou sua exposição aos possíveis impactos que a Lei do Mais Médicos trará sobre a formação de novos especialistas. Os participantes expressaram grande preocupação com respeito a prejuízos ao exercício da medicina dentro de padrões de qualidade.
Ética e bioética – Finalmente, foi aberto espaço para discussão sobre o ensino da ética e da bioética nas escolas médicas. O psiquiatra Leonardo Luz, conselheiro federal pelo Estado do Piauí, defendeu o reforço do conhecimento destes conteúdos pelos estudantes de Medicina. Por sua vez, Silvio Sandro Alves Rodrigues, presidente do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe), colocou em perspectiva o emprego dos saberes adquiridos na lida com dilemas que se impõem no cotidiano, como a reprodução assistida e terminalidade da vida.
A mesma preocupação com a aplicabilidade da ética e da bioética na relação entre médicos com os pacientes e a sociedade foi destacada pelo professor Dirceu Bartolomeu Greco, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que conduziu a plateia numa viagem ao redor de objetivos, conceitos e fundamentação da ética e da bioética aplicadas à Medicina.
No encerramento das atividades, o coordenador da Comissão do Médico Jovem do CFM, conselheiro José Hiran da Silva Gallo, elogiou a qualidade das apresentações e dos debates. “Acredito que cumprimos nosso objetivo”, enalteceu, ao garantir que nas próximas edições os organizadores permanecerão atentos para que os eventos atendam a todas as expectativas geradas.