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A Imigração Japonesa no Brasil teve como marco inicial a chegada do navio Kasato Maru no porto de Santos, no dia 18 de junho de 1908. Como parte das celebrações dos cem anos dessa convivência entre brasileiros, japoneses e seus descendentes, a Associação Médica Brasileira (AMB) e a Associação Paulista de Medicina (APM) promovem o Congresso Médico do Centenário Brasil-Japão, a ser realizado nos dias 19 e 20 de junho, no Memorial da América Latina. O Brasil é reputado como a nação com a maior população japonesa fora do Japão, contando com cerca de 1,5 milhão de descendentes nipônicos. Deste total, acredita-se que 14 mil são médicos. Muitos compõem a programação do Congresso, onde discutirão a formação, especialização, a educação médica continuada, o intercâmbio médico Brasil-Japão e a influência cultural na saúde. O Congresso será distribuído em quatro módulos: A Medicina Japonesa; A Contribuição dos Japoneses e seus Descendentes à Medicina Brasileira; Intercâmbios Brasil-Japão na Área da Medicina; e A Saúde da Comunidade Nipo-Brasileira: no Japão e no Brasil. Este último módulo merece destaque por tratar das diferenças entre costumes, clima e tradição, e questionar como e em que situações elas modificam a prevalência das doenças nas populações e sua qualidade de vida. ALIMENTAÇÃO E DOENÇAS Um dos organizadores do Congresso e também secretário geral da APM, dr. Ruy Tanigawa, explica que os japoneses mantiveram durante milênios um hábito de se alimentar de verduras, legumes, cereais e carnes de peixes; e, ao migrarem para o Brasil, esta dieta foi modificada, incorporando carne bovina, leite e seus derivados – alimentos normalmente associados à obesidade, síndrome metabólica e infarto do miocárdio. Além disso, na década de 80 tem início o fluxo inverso com o Movimento dos Trabalhadores Brasileiros no Japão; só a mudança brusca de ambiente já deixa o imigrante suscetível a desenvolver distúrbios psicológicos. O dr. Décio Nakagawa, vice-presidente do Centro de Reabilitação Psicosocial em Guarulhos da Beneficência Nipo Brasileira de São Paulo e vice-presidente do Instituto de Solidariedade Educacional e Cultural (ISEC), será o palestrante responsável por explicar o impacto das diferenças culturais sobre a saúde mental, abordando o lado dos brasileiros que trabalham no Japão. “A década de 90 é um momento que tem um pico; aumentou muito o número de brasileiros que foram para o Japão, a diferença de cultura era um fator determinante e muitos adoeceram mentalmente. Posteriormente, os outros que partiram já tinham alguma formação, alguma orientação sobre o país; e, com isso, a eclosão de quadros de doenças teve declínio”. O assunto conseqüências da presença de trabalhadores brasileiros no Japão será debatido ainda pela psicóloga e diretora do Centro de Informação e Apoio ao Trabalhador no Exterior (CIATE), dra. Kyoko Nakagawa, que declara que esta dificuldade de adaptação afeta também as crianças, que sofrem atrasos no desenvolvimento cognitivo e afetivo. “As pessoas acabam classificando este atraso de desenvolvimento como deficiência mental, autismo, hiperatividade… São diagnósticos precoces e que merecem uma avaliação cuidadosa levando em consideração a situação sui generis em que se encontram as crianças”, explica. SÍNDROME DO REGRESSO O dr. Décio Nakagawa abordará o que chama de “Síndrome de Regresso”, série de sintomas observados em pessoas que voltaram ao Brasil após um período trabalhando no Japão. A Síndrome é caracterizada por dispersão do pensamento, distanciamento afetivo, aumento da sensibilidade às diferenças – comparação a todo momento da realidade dos dois países, tendência auto-destrutiva e vontade de retomar a viagem por qualquer motivo ou dificuldade encontrada após o retorno. DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS Há também estudos que não apontam diferenças de prevalência de doenças entre a população japonesa que vive no Japão e os japoneses e seus descendentes que vivem no Brasil. Acreditava-se que a população japonesa tinha menos artrite reumatóide do que os ocidentais e que isto poderia ser devido a diferenças ambientais além do genético. Com o objetivo de avaliar se havia diferença da prevalência da doença em população japonesa que havia migrado para o Brasil, com condições climáticas e de hábitos de vida diferentes, em 1987 foi realizado um estudo para avaliar a freqüência da artrite reumatóide na comunidade de japoneses no município de Mogi das Cruzes, utilizando método de pesquisa semelhante ao realizado no Japão. “Nesse estudo, que foi realizado em parceria com pesquisadores japoneses, a prevalência da artrite reumatóide em uma amostra constituída por 2996 japoneses e seus descendentes habitantes do município de Mogi das Cruzes, foi de 0,20% de artrite reumatóide definida e 0,20 de artrite reumatóide provável. Estes resultados foram semelhantes aos encontrados em estudos realizados no Japão utilizando método de pesquisa semelhante. Embora tenha sido um estudo em uma amostra relativamente pequena, concluímos que as diferenças nas condições climáticas, de fatores infecciosos e de hábitos alimentares não parecem modificar significativamente a prevalência da doença na população de japoneses que migrou do Japão para o Brasil, assim como seus descendentes.”, explica a dra. Emília Sato, Coordenadora do Curso de Pós-graduação em Reumatologia da UNIFESP, sobre pesquisa que será apresentada no Congresso de Medicina. Outra crença agora desmitificada é a de que, devido ao consumo de iodo extremamente alto no Japão, haveria incidências díspares de doenças tiroidianas entre os dois países. Um estudo realizado em Bauru mostra que não há muitas diferenças entre os dois países. Esse estudo, aliás, será apresentado pela dra. Luiza Matsumura, Coordenadora do Núcleo de Pesquisas “Tiróide e gravidez” do Departamento de Obstetrícia e Disciplina de Endocrinologia da Universidade federal de São Paulo. Além desses temas, o módulo referente à saúde nipo-brasileira no Brasil e no Japão, conta com palestras sobre a Doença Kawasaki, problema infantil descoberto no Japão que se tratado incorretamente pode provocar eventos cardíacos, com o dr. Pedro Sakane, Coordenador Clínico do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da FMUSP; sobre a evolução da saúde nas colônias japonesas, com o membro do Conselho Executivo da Sociedade Internacional de Aterosclerose, dr. Emílio Moriguchi; Diabetes na comunidade japonesa, com a professora da nutrição da USP, Sandra Vivolo; prevalência do HIV, com a dra. Luiza Harunari, pediatra e sanitarista; dificuldades no manejo de doenças que acometem os brasileiros que moram no Japão, com a dra. Lucy Ito, Diretora Executiva Adjunta da Associação Brasil-Japão de Pesquisadores e Pesquisadora da FMUSP; diagnóstico precoce de câncer gástrico, com o dr. Roberto Massaru, mestre em gastrocirurgia pela FMUSP; câncer de cólon, com o colonoscopista do Laboratório Fleury e do Hospital SBC, dr. Nalson Miyajima; e com o dr. Itiro Shirakawa, que também falará sobre a relação da migração com a saúde mental e a prevalência de depressão e ansiedade nos brasileiros que trabalham no Japão. Fonte: APM

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