Laboratório localizado no bairro de Tejipió pagava entre R$ 130 e R$ 200 a pessoas que vendiam o próprio sangue e participavam de testes de medicamentos Um laboratório que aliciava pessoas para participarem de testes de medicamentos e venderem o próprio sangue foi descoberto ontem pela Vigilância Sanitária Estadual (VSE), informada da denúncia pelo Jornal do Commercio. A Farmalink, localizada na Avenida Falcão de Lacerda, 387, em Tejipió, Zona Oeste do Recife, estaria utilizando como cobaias humanas, moradores das redondezas e de Jaboatão dos Guararapes, onde a empresa tem uma filial. Um valor entre R$ 130 e R$ 200 era pago aos que se submetiam aos exames, dependendo do tipo de medicação testada. A denúncia anônima foi feita ontem pela manhã à Rádio Jornal. Por volta das 8h30, havia uma fila com cerca de 30 pessoas na portaria do laboratório. Moradores e comerciantes das imediações afirmam que o movimento no local é grande e freqüente. A reportagem do JC conversou pela manhã com duas funcionárias da Farmalink, que não quiseram identificar-se. Questionadas sobre como seria possível doar sangue, elas informaram que o serviço estava suspenso. “O prédio está em reforma e não sabemos quando vai voltar a funcionar. A única maneira de você agendar um horário é dando seu telefone e nós damos o retorno”, disse a mulher. Ao perguntarmos o número do telefone do laboratório, a mesma funcionária alegou que os aparelhos estavam quebrados. Cerca de meia hora depois, quatro fiscais da VSE chegaram ao prédio. Eles esperaram aproximadamente 20 minutos para serem recebidos. Enquanto aguardavam, muita fumaça podia ser vista saindo pelos fundos do terreno. Após a inspeção, os fiscais confirmaram que os funcionários do laboratório tentaram ocultar provas da atividade. Documentos, tubos de ensaio e equipamentos de laboratório foram queimados. Tudo foi registrado em fotografias que serão anexadas a um relatório preparado pela VSE. Ainda segundo a Vigilância Sanitária, a empresa estava com duas licenças de funcionamento vencidas. Nenhuma, entretando, autorizava o estabelecimento a realizar coleta de sangue. “Encontramos seringas, pedaços de algodão sujos de sangue, tubos de ensaio e outros materiais usados em coleta de sangue. São vestígios importantes. A alegação dos funcionários é que esse era um laboratório desativado”, disse o inspetor da VSE Gilvan Alcoforado. Dois dos aliciados ratificaram as denúncias. Para a estudante Jane Smith, foram oferecidas duas parcelas de R$ 140 para servir de cobaia no teste de um medicamento genérico, o qual ela não soube explicar para que servia. “O procedimento era o seguinte: você ia lá, se internava por um dia e eles tiravam seu sangue antes de tomar o remédio. Depois, você tirava outra amostra para ver a reação. Só não participei porque fui reprovada no teste de altura e peso. Disseram que eu tinha de perder quatro quilos para participar e que podia aparecer em qualquer época do ano”, detalhou. O convite aconteceu há duas semanas. O missionário católico Pedro Paulo dos Santos, 44 anos, também foi abordado por mulheres em frente ao laboratório há duas semanas. “Me ofereceram de R$ 150 a R$ 200 para participar de uma pesquisa farmacêutica. Perguntei se não era perigoso e elas disseram que tinha um seguro de vida para quem aceitasse. Achei um absurdo fazerem isso com a saúde de seres humanos”. SDS vai investigar laboratório Um relatório sobre a inspeção no local, elaborado por fiscais da Vigilância Sanitária, será entregue à Secretaria de Defesa Social para que seja instaurado inquérito policial A Vigilância Sanitária Estadual (VSE) vai encaminhar o caso do laboratório que aliciava doadores de sangue para a Secretaria de Defesa Social do Estado (SDS). Um relatório sobre a inspeção de ontem no local está sendo preparado pela VSE e será entregue ainda hoje ao gabinete da Secretaria Estadual de Saúde (SES), órgão à qual é vinculada. O gabinete deverá entregar o documento à SDS para que seja instaurado inquérito policial. Um dos indícios da atividade encontrados no prédio é uma listagem com nomes de possíveis participantes de experimentos com remédios. O material deverá integrar o relatório a ser levado para a SDS. Os proprietários da Farmalink têm até hoje para apresentar algum tipo de defesa à VSE. As alegações dos suspeitos também serão adicionadas ao relatório. No entanto, a empresa vai sofrer processo administrativo sanitário por estar com as licenças de funcionamento vencidas. Também será aplicada multa que varia de R$ 2 mil a R$ 1,5 milhão. Segundo o diretor da VSE, Jaime Brito, o laboratório não tinha licença sanitária para atuar como ponto de coleta de sangue. “Eles estavam licenciados como indústria de medicamentos, mas não exerciam a atividade desde 1999. Também pediram autorização para importar remédios em 2003, mas ela venceu em fevereiro deste ano”, afirmou. Brito não soube precisar há quanto tempo a Farmalink fazia coleta de sangue. “Não encontramos nenhuma atividade no momento da inspeção, mas os fiscais que estiveram lá não conseguiram entrar em contato com o responsável. Nenhum dos funcionários presentes deu informações.” A VSE retornará à empresa hoje para autuá-la por encontrar-se em situação irregular junto ao órgão estadual. A punição vai desde advertência à interdição. A multa vai depender de agravantes verificados pelos fiscais. Entre as possíveis complicações que podem pesar contra a empresa, estão a tentativa de ocultar provas e dificultar o acesso da Vigilância Sanitária ao estabelecimento. “As precárias condições de funcionamento também contribuem, já que o local estava em reforma, com poeira e sujeira. Outro fato que teremos que investigar é se houve danos à saúde da população por causa dos testes com remédios”, acrescentou Jaime Brito. SILÊNCIO – Até as 14h de ontem, nenhum empregado ou responsável pela Farmalink quis conversar com a imprensa do lado de fora da empresa. Após a vistoria da VSE, seis mulheres saíram do prédio sem comentar a denúncia. A reportagem do JC também tentou falar por telefone com os responsáveis pela Farmalink, mas as ligações não foram atendidas até o fechamento desta edição. Em 21 de março de 2001, foi sancionada a Lei Federal 10.205, que estabelece a Política Nacional de Sangue, Componentes e Hemoderivados. A lei deixa clara a proibição de remuneração de doadores e comercialização da coleta. Da Assessoria de Imprensa do Cremepe. Com Informações do Jornal do Commercio.
Clínica alicia doador de sangue
10/11/2004 | 02:00