Nos dias 20 e 21 de agosto, a Associação Médica Brasileira (AMB) organizou, com apoio da Associação Médica Mundial e da Associação Médica de Brasília, Seminário Internacional de Resiliência Médica.
O Brasil foi escolhido, pela WMA, como o primeiro país para sediar discussões sobre o tema. “O que nos faz resilientes? Por que alguns perdem essa característica? O objetivo desse seminário é definir o conceito de resiliência em Medicina, identificar as características e estratégias que possibilitem ao médico ser forte em situações adversas”, disse José Luiz Gomes do Amaral, presidente da AMB, durante a cerimônia de abertura do evento.
Segundo Dana Hanson, presidente da WMA, existe um déficit de 4 milhões de profissionais de saúde no mundo, resultando em crise de acesso ao atendimento de qualidade. “Estamos aqui para reconhecer e aprender com médicos resilientes. Dessa forma, poderemos ajudar outros a também seguir em frente”.
Foram convidados dois palestrantes internacionais: Michael Myers e Derek Puddester. Myers é professor de psiquiatria clínica, especialista em saúde do médico, diretor de Treinamento no departamento de Psiquiatria e Ciências Comportamental na State University of New York (SUNY). Puddester é professor associado de Medicina na University of Ottawa e trabalha com o desenvolvimento clínico e suporte educacional para estudantes de Medicina e médicos no Canadá.
No dia 20, foram apresentados três módulos. Durante o primeiro foi debatido o que é resiliência e o que significa para os médicos. Para Puddester, ser resiliente é a capacidade do indivíduo de cultivar forças para, positivamente, superar os desafios da vida. Myers abordou o tema por meio da definição de estresse e como ele pode afetar os médicos. “Na Medicina, somos curadores feridos. O que nos atrai para a profissão também pode provocar a nossa destruição e colocar-nos em risco, sobretudo, de muitas doenças mentais”.
O intuito do módulo dois foi ensinar aos presentes como identificar os que precisam de ajuda. Puddester apresentou o programa da Universidade de Ottawa voltado para promover o bem-estar dos estudantes, residentes e médicos ligados à instituição. Na mesma linha de pensamento, Myers reforçou a necessidade de acompanhamento dos transtornos de humor. Segundo dados do palestrante, entre 250 e 400 médicos suicidam-se por ano nos Estados Unidos. Depois dos acidentes, é a causa que mais mata entre os estudantes de Medicina.
O dia foi encerrado com palestras sobre o ciclo de intervenção e reabilitação. Puddester apresentou como funcionam os sistema de prevenção primária, secundária e terciária. Myers falou sobre quanto o estigma, sobretudo das doenças mentais, pode afetar a vida do médico e impedi-lo de buscar ajuda. “Muito do estigma é introjeção social apesar do conhecimento médico, há um resíduo cultural que ainda vê a doença mental como loucura, inadequação, fraqueza moral, esquisitice ou violência. Esse comportamento prejudica a busca por ajuda”.
No sábado, os palestrantes apresentaram maneiras de promover a prevenção. Puddester destacou o site www.ephysicianhealth.com e o vídeo que ele produziu sobre resiliência, Carpe Diem. Myers relatou que nos últimos anos têm crescido o número de publicações sobre saúde do médico.
Na segunda parte da manhã, os palestrantes organizaram dinâmicas de grupo entre os participantes. Após as
apresentações dos resultados dos debates, Dana Hanson, presidente da WMA; José Luiz Gomes do Amaral, presidente da AMB; e Roberto d´Avila, presidente do CFM, compuseram a mesa de encerramento.
“Espero que o evento tenha sido proveitoso para todos. Alguns objetivos foram atingidos e outros não. Precisamos explorar a riqueza do contexto e encarar a situação daqui para frente”, falou Hanson.
Para d´Avila o seminário mostrou que é preciso fazer algo e não esperar que se resolva sozinha. “Temos de desenvolver mecanismos para não ficarmos reféns de situações que fomos incapazes de reconhecer e dar a devida atenção. Coloco o CFM à disposição para que, em conjunto à AMB, possa ser criado um grupo ou comissão para discutir o tema. É chegada a hora de fazer algo”, disse o presidente do CFM.
“Esse projeto marca um a necessidade de mudança em termos de ambiente de trabalho, pois, caso contrário, a profissão será esvaziada. Também é uma oportunidade de levar o que aconteceu durante esses dois dias a muitos outros. A semente foi lançada por boas mãos e plantada em terra fértil. Esperamos que, em breve, nasça uma árvore”, finalizou José Gomes do Amaral.
Fonte: AMB