Começa hoje (21/06), no Rio Grande do Sul, a fase clínica do maior estudo com células-tronco adultas já realizado no mundo e financiado pelo Ministério da Saúde. O primeiro procedimento no estado será realizado, a partir das 14h, no Hospital São Lucas, da Pontifícia Universidade Católica (PUC-RS), pela equipe liderada pelo professor Luiz Carlos Bodanese. No último dia 10, o estudo, que vai envolver 33 instituições e 1,2 mil pacientes em nove estados e no Distrito Federal, teve início simultaneamente no Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia. A partir de hoje, os outros centros colaboradores do Estudo Multicêntrico Randomizado de Terapia Celular em Cardiopatias também começam as pesquisas. Um estudo randomizado funciona da seguinte maneira: os voluntários são divididos em dois grupos. A metade recebe células-tronco e a outra parcela, o tratamento mais moderno para sua patologia. O estudo sobre a eficácia de células- tronco adultas em portadores de cardiopatias dividiu os 1,2 mil voluntários selecionados em quatro grupos, com 300 pessoas cada, de acordo com a doença cardíaca. Os quatro grupos foram subdivididos em um grupo controle e outro de teste, mas apenas os pacientes selecionados aleatoriamente para o grupo de teste receberão agora o implante de células-tronco. No final do período, os dois grupos serão comparados. O paciente gaúcho, portador de cardiomiopatia dilatada, será submetido a uma punção da medula óssea para retirada das células que se encontram no interior do osso da bacia. Depois, esse material será tratado e preparado para ser reinjetado. Caso o paciente seja um dos selecionados para receber células-tronco, elas serão injetadas. Do contrário, o material será congelado para utilização futura e uma solução placebo será utilizada. Em qualquer das alternativas, serão assegurados ao doente que participa do estudo as melhores condições de tratamento, incluindo medicação e acompanhamento médico. Perguntas e respostas O que são células-tronco e como elas podem ser usadas em tratamentos médicos? A utilização de células-tronco (CT) na medicina representa a possibilidade de tratamento para grande número de doenças que atingem a população. Pesquisas demonstram que elas têm potencial ilimitado de auto-renovação e capacidade de originar linhagens celulares com diferentes funções. Por isso, podem recompor tecidos danificados. Os cientistas acreditam que células-tronco podem ajudar a tratar várias doenças, como o mal de Parkinson, o câncer e problemas cardíacos sérios. Existem dois tipos de células-tronco: as extraídas de tecidos maduros de adultos e crianças ou as retiradas de embriões. Células retiradas de tecidos maduros, como a medula óssea, são mais especializadas e dão origem a apenas alguns tecidos do corpo. Por outro lado, as retiradas de embriões têm maior versatilidade. As células-tronco que serão utilizadas no estudo promovido pelo Ministério da Saúde são retiradas de tecidos maduros do próprio paciente. Como é feito o transplante cardíaco de células-tronco a partir da medula óssea do próprio paciente (autólogo)? Por punção, são retirados entre 50ml e 100ml da medula, da crista ilíaca (bacia) do paciente. Esse material passa por um processo de separação, em que são isoladas células mononucleares (em geral, entre 100 milhões e 600 milhões). Dessas, calcula-se que uma em cada 100 mil seja célula-tronco. Elas são introduzidas por cateter na região afetada. A quantidade é pequena. Mas, uma vez que as CT encontram um ambiente adequado, é o suficiente para recuperar vasos e tecidos atingidos por infarto agudo do miocárdio, doença isquêmica crônica do coração, cardiomiopatia dilatada e cardiopatia chagásica – objetos do estudo. Com isso, as CT aumentam a capacidade de contração do coração, tornando o tecido muscular uma bomba mais eficiente, devolvendo a possibilidade de o paciente realizar tarefas cotidianas. Por que foram escolhidos esses quatro campos de pesquisa? Porque eles cobrem as doenças mais freqüentes. Ficam de fora do estudo, praticamente, apenas as cardiopatias que decorrem de defeitos valvares. Essas quatro cardiopatias evoluem quase sempre para a insuficiência cardíaca (há 4 milhões de pessoas nessa condição, hoje, no Brasil) e acabam conduzindo o paciente para a fila de transplantes. Por outro lado, o arsenal de medicamentos não reverte o problema – apenas estabiliza o quadro. Quais os benefícios da terapia celular para a cura de cardiopatias? Para o paciente, a maior vantagem é a recuperação da qualidade de vida e a diminuição do número de reinternações. O tempo de recuperação é curto – 72 horas no hospital depois do procedimento e de dois a três meses, para observação de resultados. Com o transplante autólogo de células-tronco, também são eliminados os riscos de rejeição. Para o SUS, a maior vantagem é a queda drástica no valor do tratamento – reduzido em pelo menos dez vezes, quando comparado, por exemplo, ao custo de uma cirurgia de transplante. O SUS gastou, em 2003, R$ 500 milhões com consultas, internações, cirurgias e transplantes cardíacos. Se a pesquisa for bem-sucedida, será possível salvar 200 mil vidas em três anos e reduzir o custo do tratamento desses pacientes em aproximadamente R$ 37 milhões por mês. O processo é seguro? Se o tratamento se mostrar eficiente, em quanto tempo os usuários do SUS serão beneficiados? A primeira preocupação foi garantir a segurança do método. Até hoje, não houve qualquer relato de arritmia, rejeição, inflamação, aparecimento de tumores nos pacientes submetidos a esse tipo de terapia. Hoje, os cientistas estão preocupados em aferir a sua eficiência. Uma vez atestada, calcula-se que, pelo grande número de instituições públicas e privadas envolvidas na pesquisa, logo a técnica será disseminada por todo o país e estará acessível a todos que precisem dela. O investimento de um hospital para implantar a técnica será bastante pequeno (em torno de R$ 50 mil), o que tornará o tratamento ainda mais acessível. Fonte: Agência Saúde
Células-tronco: RS inicia etapa clínica do maior estudo do mundo para tratar doenças cardíacas
21/06/2005 | 03:00