Os ministros da Saúde, Humberto Costa, e da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, anunciam hoje novos investimentos em pesquisas com células-tronco embrionárias e adultas, derivadas da medula óssea, de cordões umbilicais e de outros tecidos. Juntas, as duas pastas investirão R$ 11 milhões no projeto. O edital, que será lançado hoje, às 10h, durante cerimônia na Câmara dos Deputados, vai ai selecionar instituições interessadas em participar das pesquisas. O objetivo principal do estudo é verificar o potencial de uso terapêutico das células-tronco. Mas o governo também pretende ampliar o conhecimento dos sistemas biológicos, otimizar o uso da infra-estrutura de pesquisa já instalada no país para desenvolvimento de temas relevantes para a medicina e investir na formação de pessoal capacitado nessas áreas de pesquisa. Do total a ser aplicado, uma parcela equivalente a R$ 8 milhões deve ser desembolsada ainda este ano. O Ministério da Saúde vai destinar R$ 5,5 milhões para a pesquisa. Os recursos serão usados para custear as chamadas pesquisas básica (experimentações in vitro), em fase pré-clínica (experimentos com animais) e clínica (experimentos em seres humanos). No total, o prazo de conclusão dos trabalhos não deve superar 24 meses. A publicação do edital já estava prevista antes da aprovação da Lei de Biossegurança, porém englobava apenas experimentos com células-tronco adultas e de cordão umbilical. Agora, com a aprovação e sanção da nova Lei, as verbas também poderão financiar estudos com células de embriões, desde que cumpridas as exigências legais. Para a realização de estudos com células-tronco embrionárias, a Lei de Biossegurança exige o cumprimento de algumas condições. Uma delas diz que os embriões só poderão ser usados por meio de doação, com o consentimento dos pais, e precisam estar congelados há mais de três anos.. Não serão permitidos o comércio desses embriões, nem sua produção e manipulação genética. Está vetada, também, a clonagem humana. Os estudos in vitro devem pesquisar, entre outros aspectos, como as células-tronco se transformam em tecidos, como elas podem ser isoladas e induzidas para que sejam utilizadas para fins terapêuticos e como se expandem. Os testes com animais (pesquisa pré-clínica) e seres humanos (pesquisa clínica) abrangem estudos com o sistema nervoso (acidente vascular cerebral, lesões raqui-medulares, doenças neuro-degenerativas, paralisia cerebral e retinopatias), sistema cardiovascular, sistemas endócrino, digestório, respiratório, locomotor e outras patologias, como doenças auto-imunes, genéticas e lesões de pele. Os cientistas acreditam que mais do que uma aplicação terapêutica, a principal contribuição das células-tronco embrionárias será o conhecimento do mecanismo de diferenciação celular, chamado de transdiferenciação. As células-tronco são capazes de se transformar nos mais variados tecidos do organismo. Além do embrião, elas são encontradas no organismo adulto e no sangue do cordão umbilical. As células-tronco embrionárias são as que possuem potencial para se transformar em qualquer outro tipo de célula do corpo humano. O Ministério da Saúde pretende utilizar o potencial de transformação das células-tronco para o tratamento de uma série de doenças e também na reconstituição de tecidos, de pele, de ossos e de dentes. Para distribuição dos recursos e escolha dos centros que receberão o financiamento, serão observados critérios regionais. No mínimo 30% das verbas serão destinadas a regiões menos desenvolvidas do país como Norte, Nordeste e Centro-Oeste. País aposta na terapia celular para doenças cardíacas O Ministério da Saúde já investe em terapia celular. Em fevereiro, foi anunciado o início do maior estudo com células-tronco adultas para tratamento de cardiopatias já realizado no mundo. O objetivo é verificar a viabilidade da substituição dos tratamentos tradicionais de cardíacos pela nova terapia. Serão investidos R$ 13 milhões para o tratamento de 1,2 mil pacientes com problemas do coração. A pesquisa patrocinada pelo Ministério da Saúde envolve grupos de portadores de quatro diferentes doenças: infarto agudo do miocárdio, doença isquêmica crônica do coração, cardiomiopatia dilatada e cardiopatia chagásica. Os 1,2 mil pacientes avaliados serão divididos em grupos, com 300 pessoas cada, de acordo com o tipo de doença cardíaca. Em cada um dos grupos, a metade receberá o tratamento tradicional e a outra será submetida à terapia celular. Nesse caso, cada paciente receberá células-tronco de sua própria medula óssea. Os outros terão acesso ao tratamento convencional, com os melhores recursos farmacológicos ou cirúrgicos disponíveis. Se for comprovada a efetividade do uso das células-tronco no tratamento de doenças cardíacas, isso pode significar uma redução de cerca R$ 37 milhões por mês nos gastos do Sistema Único de Saúde (SUS). Fonte: Agência Saúde
Brasil terá novos investimentos em pesquisa com células-tronco
20/04/2005 | 03:00