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Prevenir problemas de saúde, preservar o ambiente, manter o bem-estar e a qualidade de vida e, de quebra, não estressar no trânsito. Cenário ideal? Não é à toa que a bicicleta ganha cada vez mais adeptos, seja para exercício, passeio ou transporte. O fisiologista Paulo Zogaib, 47, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), defende que o uso regular da bicicleta traz muitos benefícios à saúde ou, como ele prefere dizer, “evita uma série de prejuízos”. “O nosso corpo é feito para fazer atividade física e não para ficar parado. Diferente é o sedentário, não quem faz exercícios”, afirma o médico.Segundo ele, andar de bicicleta reduz o colesterol a pressão arterial, ajuda a controlar o diabetes e diminui o risco de doenças coronarianas, além de contribuir para a redução da obesidade e fortalecer os músculos dos membros inferiores. “A bicicleta é espetacular nesse aspecto, pois não traz lesões para o aparelho locomotor como a corrida. É ela que sustenta o peso corporal”, afirma Zogaib. Para o médico, não há grandes diferenças entre pedalar na rua e na bicicleta ergométrica. “O ciclismo é um exercício mais completo e dinâmico, que estimula outras alterações no organismo. Há diferenças de planos e velocidades. É diferente da carga fixa da ergométrica”, diz. Como em qualquer esporte, a única restrição seria a sobrecarga. Por isso, não é possível uma pessoa que nunca faz exercícios, de uma hora para outra, resolver ir todo dia para o trabalho de bicicleta. “Andar numa rua movimentada é complicado e requer mais agilidade por causa dos carros. Se você pedala com muito sacrifício ou está exausto, o risco aumenta. A confiança é muito importante e a agilidade só se cria com a prática”, diz o médico. Poluição O ciclista, no entanto, pode sofrer os efeitos da poluição provocada pelos carros nas grandes cidades, segundo o ambientalista Jacques Demajorovic, 41, professor da faculdade de Ciências Ambientais do Senac (SP). “Quem faz exercício aeróbico em ambientes poluídos sofre mais com a poluição. O problema se agrava no inverno porque não tem chuva e vento. Deve-se evitar principalmente pedalar ao meio-dia, horário em que a concentração de ozônio fica em altitudes mais baixas”, afirma. Para ele, um ciclista na rua representa um carro a menos no trânsito e, conseqüentemente, menor poluição do ar, que, muitas vezes, expulsa os praticantes de ciclismo para regiões um pouco mais afastadas. “Não tem cabimento o Brasil ser um país de carro e não de pessoas. As cidades são pensadas não para seres humanos, mas para veículos”, afirma o esportista Guilherme Cavallari, que escreveu o “Guia de Trilhas” (ed. Via Natura), com 25 roteiros de bike próximos à Grande São Paulo (www.vianatura.com.br). Transporte O norte-americano Bill Presada, 50, professor de inglês que vive no Brasil há 24 anos, resolveu driblar o trânsito de São Paulo pedalando. Ele optou pela bicicleta como meio de transporte para ir ao trabalho, numa multinacional. “O trânsito era muito caótico para andar de carro e o ônibus demorava muito. Além de ser um bom treino, andar de bicicleta ajuda na minha qualidade de vida”, conta Presada. Com o paletó e a gravata na mochila, o professor pedalava 32 km –de Itapecirica da Serra até a avenida Paulista– para chegar ao trabalho. Segundo ele, o percurso durava cerca de uma hora –o mesmo tempo que ele levaria para chegar de automóvel. “As pessoas sempre me perguntavam se eu não chegava exausto. A resposta é que, depois de fazer um exercício físico pela manhã, eu chegava muito mais relaxado e cheio de energia para trabalhar. É uma arma contra o estresse, não há a tensão de ter ficado parado no trânsito e qualquer desânimo é dissipado na terceira pedalada”, diz Presada, que abandonou depois de alguns anos a carreira de executivo. Mudanças profissionais à parte, ele não deixa sua bicicleta por nada e pedala cerca de mil quilômetros por mês para dar aulas. Segundo ele, optar pela bicicleta como meio de transporte trouxe mais transformações à sua vida pessoal. “Você sente mais o ambiente e aprecia mais as coisas pequenas da vida. Há muito mais contato humano na bicicleta, mesmo numa cidade dominada pelo carro. E as pessoas correspondem à essa humanização. A bicicleta abre portas, tem uma magia”, diz Presada, que fundou em 1996 a Associação Bike Brasil, para incentivar o uso. Cuidados Principiantes devem começar em ruas tranqüilas até desenvolverem a confiança necessária para enfrentar o trânsito. Foi assim que o gerente de sistemas Willian Jorge Rissato Cruz, 31, deu início à sua paixão pelo ciclismo. Há quatro anos, Cruz comprou uma bicicleta e um capacete num supermercado para relembrar os bons tempos passados sobre sua bicicleta na infância. Começou com passeios curtos no bairro até enfrentar o trânsito das ruas movimentas. Com o tempo, Cruz encontrou outros adeptos e começou a pedalar com ciclistas noturnos, se juntou a um grupo que faz trilhas e até participou de competições de “montain bike”. Um dia, seu carro quebrou e ele resolveu ir ao trabalho de bicicleta. “A endorfina liberada pelo exercício físico faz você ter um dia melhor no trabalho. E só por não ter se estressado em esperar aquele sinal que abriu e fechou três vezes já faz uma diferença enorme”, afirma o gerente, que não consegue tomar banho no escritório, mas usa roupas especiais de ciclista que facilitam a transpiração. “Além disso, quando estou ‘fantasiado’ de ciclista sou mais respeitado pelos motoristas. Eles me interpretam como um atleta em treinamento ou alguém que sabe o que está fazendo. E se sentem mais seguros”, diz. Se não estivesse “fantasiada” de ciclista –com óculos, luvas e capacete-a fabricante de bijuterias Cibele Barroco de Freitas, 38, poderia ter perdido a vida quando um carro fechou seu caminho num cruzamento. Com a queda, o capacete e os óculos ficaram totalmente ralados e, mesmo com o equipamento de proteção, Cibele quebrou três dentes e machucou o pulso. Mesmo assim, ela não deixou de andar de bicicleta. Fã do veículo, ela já pedalou de São Paulo a Parati (RJ) em três dias de viagem e, há dois anos, criou a uma loja virtual com bijuterias de motivos relacionados ao ciclismo. “Tenho carro, mas detesto dirigir. Fico muito estressada”, afirma ela, que, mesmo com o braço enfaixado por conta do recente acidente, não deixou de participar de uma manifestação a favor das bicicletas que aconteceu na avenida Paulista durante a 4ª Jornada Brasileira “Na Cidade Sem o Meu Carro”. O evento, que acontece em várias cidades do mundo em 22 de setembro, tem como objetivo conscientizar a população da importância da redução do uso do automóvel nas metrópoles. Cibele ficou sabendo do evento por meio do site da organização Bicicletada, que promove manifestações pelo uso da bicicleta e de transportes ecologicamente corretos. Veja algumas dicas para andar de bicicleta com cuidado – Não ande na contramão, nem sobre a calçada. Evite acidentes com pedestres – Use capacete, óculos (servem para proteger não só dos raios solares, mas de insetos e poeira) e luvas (são as mãos que tocam primeiro o chão) – Evite pedalar por avenidas, ruas e estradas com grande fluxo, onde circulem caminhões e ônibus – Seja mais visível. Para isso, use roupas claras ou coloridas. Faça uso de sinais de braço para dizer suas intenções aos motoristas – Fique atento com automóveis saindo ou entrando de garagens, veículos dando marcha a ré e pessoas distraídas cruzando a rua – O uso de buzina ou campainha é obrigatório – Pedale pelo bordo direito da via. Se precisar ultrapassar um veículo parado, olhe o trânsito atrás de você usando o retrovisor (também obrigatório), sinalize com o braço e após passar pelo veículo parado retorne imediatamente para o bordo direito da via – Cuidado com portas que se abrem de repente – Ao parar em um semáforo fechado, ocupe o centro da faixa, isto evita de você ficar espremido entre os automóveis e o meio-fio – Seja cortês e gentil no trânsito. Agradeça com gestos quando lhe cederem passagem ou lhe beneficiarem no trânsito Fonte: www.bikemagazine.com.br Bicicleta é apontada como opção para humanizar o trânsito O país vive uma carnificina no trânsito”, afirma Renato Boareto, diretor do Departamento de Mobilidade Urbana da Secretaria Nacional de Transporte e Mobilidade Urbana, que contabiliza cerca de 30 mil mortes e 320 mil feridos em acidentes de trânsito por ano no Brasil. Desses, 120 mil adquirem uma deficiência permanente. “São números de guerra.” Ele é um dos responsáveis pela execução do “Programa Brasileiro de Mobilidade por Bicicleta – Bicicleta Brasil”, lançado há dois meses pelo Ministério das Cidades, que tem como objetivo inserir e ampliar o transporte por meio da bicicleta como forma de deslocamento urbano, promover sua integração aos sistemas de transportes coletivos, estimular os governos municipais lançarem sistemas cicloviários e um conjunto de ações que garantam a segurança de ciclistas nos deslocamentos urbanos. “Observamos que hoje, em cidades grandes e pequenas, as pessoas estão utilizando muito a bicicleta como meio de transporte mesmo sem ter estruturas eficientes. Precisamos orientar e capacitar os municípios para que haja uma política de incorporação da bicicleta nos planos de mobilidade. A abordagem é humanizar o trânsito”, diz Boareto. Segundo ele, o Brasil tem apenas cerca de 600 quilômetros de ciclovias construídas. De acordo com levantamentos da Associação Nacional de Transportes Públicos (www.antp.org.br), a bicicleta é responsável por 7,4% dos deslocamentos urbanos. São 250 mil viagens por dia para uma frota de 50 milhões de bicicletas –o dobro do número de automóveis–, cujo crescimento dobrou nos últimos dez anos. Para o arquiteto e urbanista Sérgio Bianco, 57, coordenador do Comissão de Circulação e Urbanismo da ANTP, é preciso agregar valores às viagens do ciclista. “Hoje em dia ainda há muito preconceito. O ciclista é visto como um louco. Precisamos de novos paradigmas comportamentais”, afirma Bianco. Há dois anos sem carro e adepto da bicicleta como meio de transporte, o arquiteto acredita que é preciso muito mais que ciclovias para se chegar a uma sistema cicloviário ideal. Ciclovias As ciclovias (pistas com separações físicas) precisam ser integradas com ciclofaixas (pistas com separações visuais) e áreas de circulação partilhadas com outros veículos, sinalizadas com placas, semáforos e no asfalto. Um ponto fundamental é a integração com outros meios de transporte coletivos (trens, metrôs e ônibus) por meio de bicicletários (estacionamentos para bicicletas) instalados nos terminais. A instalação de paraciclos (lugar para prender bicicletas) em escolas, universidades e prédios públicos também ajudam a propagar a cultura da bicicleta. Bianco também defende a criação de uma cartilha de pilotagem defensiva. “Pilotagem defensiva é ter absoluta consciência que a bicicleta é o meio de transporte mais vulnerável no trânsito. Um exemplo de bicicletário bem-sucedido é o da estação da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) de Mauá (SP), que abriga cerca de mil bicicletas por dia. São Paulo tem 23 km de ciclovias construídas dos 300 km planejados. Muitas delas são subutilizadas, como a que liga o largo da batata à avenida Pedroso de Morais, na região oeste da cidade. “Não adianta fazer uma ciclovia ligando o nada ao lugar nenhum. É preciso criar trajetos objetivos para o ciclista. Seria muito fácil fazer um caminho sinalizado para ciclistas do Metrô Vila Mariana até o parque Ibirapuera, por exemplo”, afirma Bianco. Segundo o presidente da ONG Associação Bike Brasil, Bill Presada, é muito importante incorporar a bicicleta ao fluxo normal do trânsito. “Não quero e não preciso ser segregado do trânsito. Temos uma lei que diz que a bicicleta é um veículo. Tenho que ter meu espaço na via. Só precisamos ser respeitados”, afirma Presada. Conheça algumas experiências de utilização da bicicleta no mundo – Na Europa, 30% dos trajetos curtos menos de 3 km são feitos de carro. Neste espaço, a bicicleta é mais rápida e pode substituir o automóvel – Em Dublin (Irlanda), 11% têm a bicicleta como o principal meio para ir ao trabalho – A Suécia é um país frio, mas 33% de todo o deslocamento realizado em Västerãs (115 mil habitantes) é feito por bicicleta – A Suíça não é um país plano, mesmo assim, a bicicleta é utilizada em 23% dos deslocamentos em Basiléia, com 230 mil habitantes – Dinamarca e Holanda, países planos, lideram a utilização da bicicleta na Europa com 958 e 1.019 quilômetros percorridos por habitante, respectivamente, a cada ano – Em Redmond, noroeste dos EUA, os ônibus urbanos têm espaço para transportar duas bicicletas. Até mesmo os paramédicos a utilizam – No Rio Grande do Sul, a Federação Gaúcha de Ciclismo cadastra as bicicletas dos seus associados. O registro é baseado na cópia da nota fiscal, marca, modelo e pelo número impresso no quadro do veículo. Essa medida vêm evitando a recompra de bicicletas roubadas. Repórter narra experiência de andar um mês de bicicleta por SP MARCOS DÁVILA da Folha de São Paulo Um mês de bicicleta, todos os dias, por São Paulo. Assim, quase fui roubado, freei a um milímetro de um pedestre, achei que seria esmagado por ônibus ou carros pelo menos três vezes e tive que andar 2 km com um pneu furado –sem contar as inúmeras vezes que a correia soltou e tive de botar a mão na graxa. Ainda assim, vale a pena pedalar nas ruas da cidade só pela sensação de liberdade, de chegar de um lugar ao outro pelas próprias pernas e não gastar nada mais além de água. Minha aventura quase acabou antes mesmo de começar. No primeiro dia de trabalho com a bicicleta, tentaram levá-la de mim. Depois de vir um segurança, a pessoa fugiu e ganhei a bicicleta de novo. Depois disso tive que suar para convencer um estacionamento a aceitar minha bicicleta. Esse é um dos grandes problemas do ciclista urbano: pouquíssimos estacionamentos vão aceitar sua bicicleta. Praticamente não existem bicicletários e paraciclos na cidade. Dica: se for prender sua bicicleta num poste –e isso vai ser inevitável alguma hora– não economize na corrente. “Ninguém respeita bicicleta nessa cidade”, disse um motoboy depois de ver um carro fechar minha passagem num cruzamento. O chavão do motoboy solidário realmente faz sentido, ainda mais se somado com outro lugar comum: “dirigir em São Paulo é estressante”. Não espere grande amizade nos motoristas, principalmente dos que estão dirigindo ônibus. Mas é impressionante como um sorriso ou um “bom dia” na janela do carro sempre deixa os motoristas mais calmos. E, a exemplo do motoboy, outros motoristas expressaram simpatia com acenos e sorrisos de dentro dos carros. É verdade que o momento mais estressante de toda a experiência foi quando um cidadão passou de carro pela esquerda e gritou alguma bobagem no meu ouvido. Um tipo de brincadeira boba, mas que desconcentra o ciclista e pode levar tudo a perder. Mesmo sendo proibido pelo Código de Trânsito, andar na calçada, na contramão e furar o sinal vermelho é o hábito da maior parte dos ciclistas que anda por São Paulo. E, como não existe fiscalização, a tentação de violar a lei é realmente grande. Quase atropelei um pedestre a única vez que, por distração, passei no sinal o vermelho. O melhor passeio de bicicleta foi, sem dúvida, no centro da cidade nas primeiras horas da manhã, durante o final de semana. Sem pedestres e carros, é possível pedalar tranqüilamente e observar que o centro ainda é um dos lugares mais bonitos de São Paulo. O pior foi o centro durante a semana. Os pedestres invadem a pista a toda hora. Caos. Não custa nada avisar: está fora de cogitação usar cachecol quando for pedalar. Ele pode se desprender do pescoço e enganchar na roda traseira. Foi o que aconteceu com este pateta. Mais uma hora com a mão na graxa, mas um sorrisinho no rosto. Da Assessoria de Imprensa do Cremepe. Com Informações da Folha de São Paulo. Foto: Folha de São Paulo.

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