Dois meses depois do primeiro óbito o laudo do Instituto Médico-Legal confirmou: 10 pessoas morreram em Goiás em decorrência da ingestão do Celobar, contraste radiológico produzido pelo laboratório Enila Indústria e Comércio de Produtos Químicos e Farmacêuticos, do Rio de Janeiro. O caso foi um dos mais surpreendentes e espantosos dos últimos tempos. Originalmente feito à base de sulfato de bário, o Celobar era um dos principais medicamentos ingeridos por pacientes que precisavam fazer exames de raio-x. “O problema”, diz Erso Guimarães, presidente do Cremego, “é que foram encontrados resíduos de carbonato e de sulfeto de bário em sua composição, que são altamente tóxicos.” Menos de uma semana após o primeiro caso (20 de maio), o Cremego recomendou a não utilização de qualquer produto que contivesse bário. “Encaminhamos ofícios para todas as empresas e pessoas jurídicas registradas no Conselho”, informa. O ofício foi co-assinado pelo Sindicato das Clínicas Radiológicas (Sindimagem), que acatou à sugestão do Cremego. “Por enquanto, mesmo dois meses depois, a recomendação continua valendo. Só iremos retirá-la quando a Anvisa se posicionar objetivamente a respeito dos outros compostos que utilizam bário”, enfatiza Erso. O Conselho tem insistentemente se comunicado com a SVISA e a Anvisa para a liberação de medicamento à base de sulfato de bário, mas não recebeu ainda resposta a essas solicitações. PROIBIÇÃO A recomendação do CRM, no entanto, não significa que todas as clínicas e laboratórios da cidade tenham banido o medicamentos à base de sulfato de bário. “O Cremego não tem ação fiscalizadora sobre produtos e medicamentos e, por isso, não pode proibir o uso. Essa é uma função da Vigilância Sanitária”, afirma o presidente da entidade. Por outro lado, embora tenha interditado o laboratório Enila e proibido o uso do Celobar e de um lote do Bariogel, outro medicamento usado como contraste radiológico, a Vigilância Sanitária ainda não apresentara o laudo final sobre o caso, até o fechamento desta edição. No entanto, laudo do laboratório de química da UFG sobre o lote nº 3040068 do Celobar, entregue ao Cremego, indicou a presença de sulfeto de cálcio e carbonato de bário no produto. Este foi encontrado na proporção de 12,37 gramas em cada 100 gramas do medicamento. Também o Instituto Médico-Legal (IML) de Goiás confirmou a morte de 10 pessoas por intoxicação pelo contraste. Foram examinadas as vísceras de 11 vítimas com suspeita de morte por uso da substância e a presença de bário foi confirmada nos tecidos de 10 delas. Acredita-se que o Enila tentava sintetizar sulfato de bário, um produto radiopaco que passa pelo tubo digestivo sem ser absorvido e é eliminado juntamente com as fezes, a partir de sulfeto e carbonato de bário. Dessa forma, o laboratório conseguiria reduzir os custos de produção do Celobar. “Pode ter sido uma irresponsabilidade do laboratório farmacêutico, que colocou em risco a vida de muita gente e abalou a confiança das pessoas nos exames de contraste. Além disso, o fato prejudicou um grande número de pacientes que necessitava de uma complementação diagnóstica, que passou a não ser feita. A classe médica também perdeu, porque a população ficou com receio de realizar procedimentos indicados pelos profissionais”, enumera o presidente do Cremego. Ele ainda frisa que “nenhum desses casos foi provocado pelos médicos, que não tiveram qualquer interferência, direta ou indireta, pela contaminação do produto”.

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