A Lei dos Transplantes (n. 10.211/2001) acabou com a doação presumida no Brasil, exigindo a autorização da família do doador-cadáver, mesmo que ele tenha manifestado esse desejo em vida. Desde então, muitas campanhas de conscientização e esclarecimento vêm sendo feitas pelo governo e por entidades sociais. Mas muitas pessoas ainda têm dúvidas e temem ser enganadas no momento de autorizar a doação. Daí, a importância da atuação do médico na hora de comunicar a morte encefálica à família do paciente e pedir a sua autorização para a retirada dos órgãos e tecidos. Antes do comunicado oficial, siga os procedimentos médicos e legais para a avaliação do potencial doador e tome os cuidados necessários para garantir a manutenção dos órgãos ou tecidos que poderão ser transplantados. Na hora do comunicado, é fundamental que o médico demonstre segurança e conhecimento da legislação e que seja claro e objetivo. Ele deve explicar que o diagnóstico é irreversível e comunicar quais órgãos poderão ser usados para transplantes. O ideal é que essa conversa seja feita em um ambiente calmo e com todas as pessoas sentadas. Não se esqueça que, por medo ou simples desconhecimento da lei, muitos transplantes não são realizados e muitas vidas deixam de ser salvas. Faça a sua parte. Diagnóstico de morte segue critérios legais No Brasil, a morte encefálica é definida pela Resolução CFM N. 1480/97, que determina os seguintes procedimentos para a constatação do diagnóstico: 1. Identificação e registro hospitalar do paciente; 2. Identificação da causa do coma; 3. Verificação da temperatura do paciente (não pode ser menor que 35 C); 4. Certificação de que o paciente não esteja usando drogas depressoras do Sistema Nervoso Central; 5. Confirmação de que o paciente não esteja em hipotensão arterial. 6. Após essas certificações, o paciente deve ser submetido a dois exames neurológicos que avaliem a integridade do tronco cerebral. 7. Os exames devem ser realizados por dois médicos que não façam parte das equipes de captação e transplante. Um dos médicos deve ser neurologista. 8. O intervalo de tempo entre um exame e outro é definido em relação à idade do paciente (Resolução CFM 1480/97). 9. Após o segundo exame clínico, deve ser realizado outro exame complementar que demonstre: ausência de per-fusão sanguínea cerebral OU ausência de atividade elétrica cerebral OU ausência de atividade metabólica cerebral. 10. Após o diagnóstico da morte encefálica, o médico deve notificar as Centrais de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos (CNCDOs), informando o nome, a idade, a causa da morte e o hospital onde o paciente se encontra internado. Essa notificação é obrigatória, mesmo que a família não autorize a doação (protocolo fornecido pela CNCDO-GO). Agilidade da equipe médica é fundamental Com a aprovação da família para a retirada dos órgãos, a equipe médica deve correr contra o tempo para garantir a retirada dos órgãos e tecidos, que poderão ser transplantados Órgão/tecido Tempo máximo para retirada Tempo máximo preservação extracorpórea Córneas 6 horas após a parada cardíaca 7 dias Coração antes da parada cardíaca 4 a 6 horas Pulmões antes da parada cardíaca 4 a 6 horas Rins até 30 minutos pós parada cardíaca até 48 horas Fígado antes da parada cardíaca 12 a 24 horas Pâncreas antes da parada cardíaca 12 a 24 horas Ossos 6 horas após a parada cardíaca até 5 anos Não podem ser doadores Portadores de insuficiência orgânica que comprometa o funcionamento dos órgãos e tecidos a serem doados Portadores de enfermidades infecto-contagiosas transmissíveis por meio de transplante. Esses exames podem ser feitos pelas próprias equipes de captação Pacientes em sepse ou em insuficiência de múltiplos órgãos e sistemas (IMOS) Portadores de neoplasias malignas, excetuando-se tumor restrito ao sistema nervoso central, carcinoma basocelular e carcinoma de cérvix uterino in situ Doenças degenerativas crônicas e com caráter de transmissibilidade Atenção na manutenção do doador Após a realização dos exames de avaliação e enquanto a família é comunicada sobre a morte encefálica, é fundamental 1. Garantia de acessos vasculares 2. Tratamento de hipotensão 3. Ventilação 4. Controle de hipotermia 5. Reposição de eletrólitos e de bicarbonato de sódio em acidose metabólica / Correção de hiperglicemia com insulina regular / Uso regular de antibióticos profiláticos e terapêuticos / Transfusão de sangue quando necessária e proteção ocular com gase umedecida. Central de Transplantes de Goiás (CNCDO-GO) Av. Anhangüera, 6479, Setor Oeste – HGG – 5 andar – CEP 74043-011 Fone: 62 225-3595 / 9614-7990
Atuação médica é fundamental na doação de órgãos.
15/04/2003 | 03:00