RAQUEL ROFFÉ Pela primeira vez o Nordeste sedia um Congresso Brasileiro de Bioética. Recife, pólo avançado da ciência e da tecnologia merece receber profissionais e estudantes de todas as áreas para esse evento que ocorrerá entre os dias 13 e 15 de maio próximos, no Mar Hotel, sob o tema Bioética e Cidadania. Trata-se a Bioética de um estudo e reflexão sobre os limites éticos a serem impostos à aplicação dos avanços científicos e tecnológicos na vida dos seres vivos e na natureza. A necessidade desse controle ético é algo que vem preocupando não somente pesquisadores da área de saúde, cientistas em geral, juristas, filósofos, psicólogos mas todos aqueles que velam pela boa qualidade da vida e do meio ambiente, com respeito às diferenças culturais e morais. A preocupação com a questão da cidadania leva a Bioética a discutir também as questões políticas sobre a prioridade na alocação de recursos, mesmo escassos, para programas ou projetos governamentais que possam diminuir as desigualdades e, conseqüentemente, as injustiças, bem assim, formas de tornar o ser humano menos vulnerável a instrumentos de exploração como a corrupção, o analfabetismo e outras formas igualmente cruéis de injustiças. São inúmeras as novidades no campo da ciência que se propõem a intervir na vida dos seres humanos: são as questões de início de vida, final de vida, transplantes, doações de órgãos, no âmbito da biologia e da genética – a clonagem, células tronco, embriões. São também muitas as questões que dizem respeito aos benefícios ou malefícios na utilização imediata das informações cujas pesquisas ainda não se deram por concluídas ou cujo resultado não se sabe se servirá para a felicidade do ser humano. Vale ressaltar que a Bioética está atenta para a utilização dos novos conhecimentos para fins egoístas, de vaidades, ou para efeito da aquisição de capital. Face a uma sociedade já tão vulnerável ao poder, à violência, ao fácil rompimento das relações interpessoais, ao desemprego e falta de perspectivas para os mais carentes são indispensáveis ações em defesa da dignidade humana. Por tudo isso, é grande a importância da discussão sobre o valor de uma ciência livre mas eticamente responsável. Uma espécie de salvaguarda para o ser humano como indivíduo ou em sociedade. O VI Congresso Mundial realizado em novembro de 2002 em Brasília sob o tema: “Poder e Injustiça”, foi um grande sucesso em termos de expositores, público e debates. Grandes nomes de todas as áreas do conhecimento humano debateram temas como: Bioética: poder e injustiça, genética, clonagem, células tronco, embriões e ética, bioética e pesquisa com seres humanos, bioética feminista e maternidade/paternidade, bioética e final de vida, pluralismo moral e fundamentação religiosa, biodireito, ética profissional, dignidade humana e outros. Também aqui no Recife os debates contarão com figuras das mais renomadas, nacional e internacionalmente, das diversas áreas do conhecimento científico, o que fará do evento um fórum memorável para todos que dele participarem. Raquel Roffé é advogada e membro da coordenação do V Congresso Brasileiro de Bioética. – www.bioetica.zor.org Da Assessoria de Imprensa do Cremepe. Publicado no Jornal do Commercio de 06.05.2004
ARTIGO: Bioética e cidadania
07/05/2004 | 03:00