Os recentes acontecimentos envolvendo gestores, prestadores e entidades, criaram na área de saúde uma tensão que poderia acabar em grave dano para a assistência à população de nosso Estado. Nada que um diálogo prévio não pudesse ter evitado. Ficou evidente que sem uma política de recursos humanos que contemple de forma justa o trabalho médico, as atuais regras do jogo não podem ser trocadas. Para manter a qualidade do atendimento, principalmente no que concerne à urgência, não há ainda, melhor alternativa que o trabalho prestado pelas Cooperativas Médicas. Não se trata aqui de defender o modelo mais legal, de acordo com as normas públicas, respaldadas ou não pela legislação brasileira, e sim de garantir a quem necessita um bom atendimento. A opção pelo bom senso, exercida pelas partes, selou com a serenidade necessária um clima que poderia ter assumido repercussões catastróficas. Uma lição, entretanto, emerge sobre a realidade dos fatos: não se pode jogar sobre a classe médica a responsabilidade das conseqüências que a má gestão vem trazendo há muito tempo no campo da assistência médica à população capixaba. Não se trata de individualizar a responsabilidade inerente ao tema, mas sim, demonstrar que a estrutura como um todo tem que ser reformulada, modernizada, agilizada, para que os preceitos que norteiam a política assistencial do SUS sejam atendidos em sua plenitude. Para que isto ocorra, pode ter certeza o governo, que nós médicos, tanto como entidades, servidores, cooperativas, estamos prontos para oferecer nossa colaboração, como sempre fizemos, desde que chamados ao diálogo, em busca de um horizonte mais promissor para a saúde no Espírito Santo. A responsabilidade que obriga o CRM de cumprir o dever de fiscalizar o trabalho médico não lhe deu outra opção que a de sair em defesa de seus quadros, quando injustamente acusados de responsáveis, mesmo que de forma indireta, da impossibilidade de investimento na área assistencial da Secretaria de Estado da Saúde. Fomos ameaçados de danos por omissão de socorro à população, quando na verdade o poder público já tinha aberto mão de parte de nossos serviços e apontava para a mesma atitude em relação a outros, também, fundamentais. Corremos o sério risco de sermos acusados de gerar uma crise, cuja gênese tem origem longa, não nos cabendo em absoluto a responsabilidade pela mesma. Assim agimos, porque é nossa obrigação faze-lo, não nos restando o direito da confortável omissão perante as aflições que afetam a classe médica. Celso Murad Presidente do CRM-ES
A hora de repensar
08/07/2003 | 00:00