A guilda médica não existe Serafim D. Lanzieri O CRM-MT Conselho Regional de Medicina recebe sempre as informações e críticas feitas a profissionais da Medicina e, eventualmente, a própria atuação da entidade com serenidade e respeito. Como mais uma oportunidade de discussão e esclarecimento, acolhemos a provocação feita pela historiadora Mônica Regina dos Santos, em artigo publicado recentemente neste veículo. A historiadora acusa a existência de guilda médica em nossos dias. Tais corporações existiram na Idade Média e há muito, sim, foram superadas. O CRM é uma autarquia pública federal e tem a função principal de resguardar os interesses sociais ligados ao exercício da Medicina e de distinguir a conduta profissional ética da não ética. Não há sinal de corporativismo. Não é verdadeira a análise que resulta na conclusão de que a categoria médica não é ética e os profissionais sérios são exceções. O contrário é a verdade. Nisso, a Medicina não difere de nenhuma outra profissão. Todavia, há no mercado de trabalho médico especificidades que acarretam problemas como a super exposição do profissional, na maioria das vezes de forma injusta. Um fato dessa conjuntura diz respeito à importância da Medicina para a sociedade. Um segundo é a má qualidade dos serviços em saúde prestados, principalmente na rede pública – fruto da não priorização pelos gestores públicos. O usuário, no geral sem acesso à informação, não tem condições de identificar o responsável quando, por exemplo, não é bem atendido em uma policlínica ou na possibilidade de falta de médico em um pronto socorro. Para a parcela desinformada da população, a culpa é sempre e exclusivamente do médico que embora tenha responsabilidades como profissional está longe de poder responder pela solução de questões estruturais. Do mesmo modo, não podem fazê-lo os advogados em decorrência da morosidade do Judiciário ou os professores pela deficiente qualidade do ensino, entre inúmeros exemplos. Os problemas na Justiça e Educação são tão importantes quanto a Saúde para o cidadão, mas as deficiências nestes setores não merecem – infelizmente – o mesmo espaço na mídia. Esta situação – embora desgaste o médico como profissional e ainda produza leituras errôneas, também serve para que se promova a conscientização da população. O prejuízo causado ao profissional não é compensado, mas à custa dessa realidade há avanços significativos na mobilização da comunidade. Há outros equívocos de análise da historiadora. Não se pode confundir a violência existente em todo o país, como sendo causada por médicos. Também não são os profissionais da Medicina os únicos a apresentar desvios psicológicos e de conduta. Estes casos sequer representam um percentual significativo na categoria. A violência não é restrita a nenhuma faixa social, muito menos a uma categoria de trabalhadores. Profissionais sejam eles de quaisquer áreas, mesmo os violentos, devem ser vistos como vítimas da violência causada por problemas sociais. Os casos envolvendo pessoas de formação intelectual elevada devem chamar a nossa atenção para a amplitude da questão. Não estamos na Idade Média e apesar dos avanços tecnológicos o homem está distante do que desejou para a modernidade: justiça, igualdade e fraternidade. É lamentável, mas esse não é um problema médico. É de toda a sociedade. Com a responsabilidade de contribuir para a mudança nesse quadro, o CRM-MT tem se pautado por uma orientação política baseada na democracia, na articulação com as demais entidades médicas e pela busca constante de envolvimento de outros segmentos sociais organizados. No que diz respeito às irregularidades no exercício profissional, nenhuma denúncia deixa de ser investigada e julgada rigorosamente dentro do estabelecido pela legislação. O médico e as entidades médicas estão conscientes da importância do seu papel na sociedade. O trabalho desenvolvido corresponde a isso. Serafim D. Lanzieri é presidente do CRM-MT- Conselho Regional de Medicina