A Medicina paranaense tem especial motivação para estar integrada aos festejos e atividades alusivos ao Centenário da Imigração Japonesa ao Brasil. Afinal, nos 25 mil registros de profissionais inscritos nestes 50 anos de história do Conselho Regional de Medicina do Paraná, estão presentes cerca de 2 mil descendentes de japoneses, ou 8% do total de toda a categoria. No âmbito brasileiro, os nisseis e sanseis formam um contingente superior a 1,5 milhão. Em setembro próximo, ao prestar homenagem aos médicos pioneiros de origem japonesa em solenidade especial, o CRMPR também vai inaugurar no Espaço Cultural da Casa do Médico a exposição “Arte Nikkei no Centenário da Imigração Japonesa ao Brasil”, que envolve pinturas, esculturas e fotografias. A mostra ficará aberta à visitação até 24 de outubro. Extraindo dados do projeto “Memória da Medicina Paranaense”, que vem sendo desenvolvido pelo Conselho, e também de obras e pesquisas realizadas por descendentes de imigrantes japoneses, a Assessoria de Imprensa do CRMPR começou a lapidar um pouco da história dos pioneiros que seguiram a profissão médica. Uma história que congrega capítulos de dificuldades e adversidades com perseverança e exemplos legítimos de respeito aos ditames hipocráticos. Os personagens são inúmeros, cada qual com a sua importância na construção da Medicina paranaense e no incentivo ao zelo ético e tecno-humanista da profissão. Assim, a alternativa para restaurar esse caminho foi o da ordem cronológica de imigrantes que se formaram em Medicina no Paraná ou que vieram para atuar no Estado. Primeiro a se formar Paulo Otsuka, que “abrasileirou” o prenome Yasaku, foi o primeiro imigrante japonês a se formar em Medicina no Estado – pela antiga Universidade do Paraná, hoje UFPR – em 12 de dezembro de 1940, quando tinha 34 anos de idade. Para chegar até ali, cumpriu uma jornada característica da saga dos imigrantes do país asiático, que se manteve viva depois para cumprir suas missões na prática médica e na atenção à comunidade nipônica que se enraizava no Norte paranaense em meados do século passado. Já em 1941 estava morando e com consultório montado em Bandeirante, cidade então recém-desmembrada de Jacarezinho e localizada a 430 km da Capital. O médico pioneiro inspirou gerações a seguir a profissão, muitos dos quais oriundos das fazendas cafeeiras da região e que foram hospedados em sua casa para complementar os estudos. Casando com a também imigrante japonesa Sizu Hasegawa logo que se estabeleceu em Bandeirantes, o Dr. Paulo teve um casal de filhos, ambos seguindo os seus passos, inclusive a filha Célia, que não se deixou influenciar pela sugestão de seguir a carreira de bioquímica. Célia Otsuka Itikawa formou-se em UFPR em 1977 e fez especialização em Pediatria, atuando até hoje em Londrina. Mais velho, o irmão Nelson Otsuka tinha se formado em dezembro de 1968 pela mesma Federal, especializando-se em ortopedia e traumatologia. Foi o primeiro bolsista do Hospital Italiano de Buenos Aires e fez parte do primeiro grupo de docentes de origem japonesa da UFPR, em 1970, ao lado de Noboru Miyasaki (primeiro nissei da instituição com pós-graduação), Noboru Onishi e Saburo Sugisawa, este nascido no Japão em 1934 e que se formou em Medicina em 1962 no Brasil. Responsável pelo primeiro reimplante microcirúrgico no Estado, o Dr. Nelson aposentou-se em 2003 como professor, mas continua ativo na especialidade em Curitiba, atuando no Hospital XV e Clínica Garibaldi. Disciplina e dedicação Nascido em 27 de fevereiro de 1906 em Hakui, província de Ishikawa, Yasaku Otsuka tinha 19 anos quando desembarcou em São Paulo, em 1926, acompanhado do amigo Ayao Kuguiyama. Como a grande maioria dos imigrantes de seu país, foi trabalhar na lavoura de café. Nessa época, o médico Pedro Parigot de Sousa (cujo filho Pedro Viriato Perigot de Sousa viria a ser transformar em governador do Paraná) tinha terras em Guaiçara e consultório em Lins e estava precisando de um intérprete porque atendia muitos clientes de origem japonesa. A notícia “correu” e Otsuka acabou sendo contratado porque falava também espanhol. Tratado como membro da família, primeiro Otsuka acompanhou o médico quando ele se mudou para São Paulo e, depois, para Curitiba, onde passou a trabalhar de dia e estudar à noite. Concluiu o ginásio no Colégio Iguaçu e, em 1935, como ainda não era obrigatório o científico, foi aprovado para cursar Medicina da Universidade do Paraná, que era paga. O esforço empreendido pelo então estudante, que passou em primeiro lugar na turma, levou o Dr. Parigot de Sousa a solicitar uma bolsa de estudos ao então governador Manoel Ribas. Este garantiu que o Estado franquearia o curso, desde que o acadêmico mantivesse as primeiras notas e não perdesse nenhum ano. Assim se cumpriu e ele se formou médico em 1940. Seu colega de turma e também japonês de origem, Shozo Kawase, acabaria se formando em 1941, seguindo Assai, também no interior, onde exerceu a profissão sem ter se registrado no Conselho de Medicina, constituído em 1958, mas que fortaleceu o seu cadastro nos anos seguintes. O Dr. Paulo Otsuka registrou-se somente em 1965 e obteve o CRM n.º 1681. Sem o registro do Dr. Shozo, o Conselho de Paraná tem em seu histórico 13 médicos naturais do Japão, sendo que o Dr. Toshio Igarashi, hoje com 82 anos e morando em Londrina, foi o primeiro que se inscreveu, em outubro de 1961, recebendo o número 1087. Ele tinha se formado em dezembro de 1960 pela Federal do Paraná. O Dr. Paulo Otsuka dedicou-se no início da carreira a atender principalmente a colônia japonesa que ocupava a Fazenda Nomura, multinacional em Bandeirante. Ajudou a fundar e presidiu o primeiro clube dos imigrantes na região. Cultura, disciplina e dedicação foram os seus lemas ao longo da carreira de Medicina, por mais de 40 anos. Ele faleceu em junho de 1986, aos 80 anos, quando ainda mantinha rotina de contato com pacientes. Sua esposa, D. Sizu, tem 87 anos e reside na Capital com o filho médico. A neta, a artista plástica Renata Otsuka – filha do Dr. Nelson Otsuka -, é uma das participantes da exposição que destaca a Arte Nikkei no CRMPR. O sacerdócio aos 83 anos O Dr. Isami Morita é o mais longevo entre os imigrantes japoneses que se formaram em Medicina e se registraram no CRMPR. Ele tem 83 anos, completados em abril, e reside no centro de Paranaguá, litoral do Estado, onde mantém seu consultório e cumpre diariamente jornada de trabalho. Sua trajetória também é de muita luta e perseverança. Migrou para o Brasil com a família quando tinha sete anos. Foi parar numa fazenda de pequena cidade do Norte paranaense, onde concluiu o primeiro e o segundo graus tendo de percorrer todos os dias 12 km. Formou-se em dezembro de 1955 pela UFPR e, antes de deixar a Capital para se dedicar à carreira no interior, ajudou a fundar a Sociedade Cultural Nipo-Brasileira Glória, de integração e apoio aos integrantes da Colônia. Está desde 1960 no litoral paranaense, tendo sido agraciado há poucos anos com o Diploma de Mérito Ético-Profissional do CRM, pelos 50 anos de trabalho com conduta exemplar. A Dra. Yakiho Matsuura Sato, 86 anos, reside em Londrina e é a médica mais antiga entre as descendentes. Ela se formou em dezembro de 1952, inscrevendo-se no Conselho em 1960, quando recebeu o número 844. Contribuição à Medicina brasileira Nos dias 19 e 20 de junho último, ocorreu em São Paulo o Congresso Médico do Centenário Brasil-Japão, em iniciativa da Associação Médica Brasileira, CFM, Associação Paulista de Medicina e Associação Médica Japonesa. Foi uma oportunidade ímpar na análise do modelo assistencial japonês, da contribuição dos japoneses e seus descendentes à Medicina brasileira, o intercâmbio entre os dois países na área e a condição de saúde da comunidade nipo-brasileira no Japão e no Brasil. Também foi o ponto de partida para a criação de uma associação para congregar os médicos de descendência japonesa que atuam no Brasil. A entidade, com nome a ser definido, será um braço da AMB. Representantes do Paraná tiveram participação efetiva na apresentação de um dos módulos do Congresso, o de contribuição dos japoneses e seus descendentes à medicina brasileira, que foi aberto pelo ex-ministro da Saúde do governo Sarney, Seigo Tsuzuki. Ele apresentou um pouco da história dos médicos japoneses que pioneiramente desbravaram regiões afastadas dos grandes centros urbanos para atender os imigrantes. Os profissionais ofereciam um pouco mais de tranqüilidade aos imigrantes que, padecendo com doenças como tuberculose e outras tropicais, não conseguiam ser atendidos pelos médicos brasileiros por causa da barreira do idioma. Na homenagem aos que ajudaram a formar as comunidades médicas de São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul e Pará, o ex-presidente da Sociedade Paranaense de Ortopedia e Traumatologia, Eduardo Hayashi – 30 anos de formado e pai de Giselle, residente de Ortopedia -, ressaltou que dos cerca de 17 mil médicos ativos no Estado, cerca de 1,3 mil são descendentes. Ele apresentou o relato histórico-documental do Dr. Paulo Otsuka, primeiro japonês a se formar em Medicina no Paraná, e também o depoimento em áudio e vídeo no idioma japonês do Dr. Isami Morita, o terceiro a se formar e que continua ativo na profissão aos 83 anos, atuando em Paranaguá. O lado empreendedor dos pioneiros, com a construção de unidades hospitalares, teve a participação do Dr. Saburo Sugisawa, que apresentou aspectos do Universitário Santa Casa e do Sugisawa, fundado por ele e que leva o seu nome, ambos de Curitiba. No destaque de contribuição ao desenvolvimento de pesquisas científicas nas faculdades de Medicina, o Paraná foi representado pelo Dr. Sérgio Ossamu Ioshii, presidente da Unimed Curitiba. Embora reconhecendo o potencial da estrutura docente e de pesquisas de São Paulo, ele destacou que a Universidade Federal do Paraná conta hoje com 14 professores “nikkeis” e que a PUCPR tem outros 10. Exposição e homenagem aos pioneiros japoneses no CRMPR No ano do seu Jubileu de Ouro, o Conselho Regional de Medicina do Paraná está presente aos festejos comemorativos do centenário da imigração japonesa ao Brasil, em reconhecimento à contribuição dada por este povo à sociedade brasileira, especialmente àqueles que se dedicaram ou dedicam à Medicina. Neste segundo semestre, o CRMPR estará envolvido em atividades culturais que resgatam um pouco da arte e da história da medicina paranaense retratada por pioneiros japoneses e seus descendentes. Além de apoiar a exposição múltipla “Arte Nikkei no Centenário da Imigração Japonesa ao Brasil”, aberta em 2 de julho e que ficará aberta à visitação no Memorial de Curitiba até 7 de setembro, a Casa do Médico abrigará em seu Espaço Cultural a mesma mostra no período de 15 de setembro a 24 de outubro. A abertura da exposição na Sede do Conselho de Medicina será marcada por solenidade especial alusiva ao Centenário Nacional da Imigração Japonesa, com destaque ainda para a apresentação do grupo Wakaba de taiko (tambor japonês) e a homenagem do CRMPR aos médicos pioneiros de origem japonesa, deferência que alcança de modo geral quase 2 mil profissionais que exerceram ou ainda exercem a atividade no Estado, significativa parcela dedicando-se à Pediatria ou Ginecologia e Obstetrícia. A exposição A mostra múltipla no Espaço Cultural será aberta às 19h30 de 15 de setembro, em iniciativa conjunta da Associação Cultural e Beneficente Nipo-Brasileira de Curitiba e o Conselho de Medicina do Paraná. Estarão expostas obras de pintura dos artistas Adelina Nishiyama, Akiko Mileo, Cláudio Seto, Julia Ishida, Marcos Kimura e Sandra Hiromoto; esculturas de Carol Chuman, Celso Setogutte, Claudine Watanabe, Eliza Maruyama, Renata Otsuka e Yumie Murakami; e fotografias de Chuniti Kawamura, Roger Noguti e Shigueo Murakami. Tradição ou ruptura O resultado de uma visita à Arte Nikkei no Centenário é a sensação de evolução ou revolução, de relacionamento íntimo com a cultura dos antepassados, mas também de ousadia. Tradição ou ruptura, os nikkei não são japoneses, ao contrário do imaginário coletivo. E vivem esta alternância e complementariedade, entre ou opostos e compostos, reação e interação. A mostra pretende enaltecer o arrojo dos primeiros imigrantes não apenas repassando as páginas da história, mas também por meio da conquista da modernidade pela nova geração “nikkei”. Uma conquista que prova a plena integração e irmanação da comunidade “nikkei” à sociedade brasileira, bem como o valor de uma cultura caracterizada pelo esforço individual inserido no coletivo, princípios que norteiam a Medicina e o exercício ético da profissão. A exposição traz obras de quinze artistas nipo-brasileiros da terceira e quarta gerações e retrata a convivência entre japoneses, descendentes e brasileiros, imigrantes de outras etnias e descendentes na terra do “em se plantando tudo dá”. A mostra é uma realização da Associação Cultural e Beneficente Nipo-Brasileira de Curitiba e tem o apoio do Conselho Regional de Medicina do Paraná e da Fundação Cultural de Curitiba. As muitas faces da arte nikkei A espiritualidade e o apuro formal são marcantes nas obras dos irmãos Shigueo e Yumie Murakami. Na fotografia e na cerâmica repercutem os ecos da filosofia zen-budista. Similar repercussão é sentida nos objetos de Celso Setogutte, para quem o espaço tem função importante, assim como a busca da forma exata. A delicadeza e paciência orientais transparecem na escultura de Renata Otsuka. Embora seu tema seja cristão, a forma é definitivamente oriental. Outros trazem a marca da dupla identidade, como Eliza Maruyama. A artista propõe um tema lúdico ao mesmo tempo ligado à tradição japonesa – os koinobori, as carpas do Festival dos Meninos. Claudine Watanabe faz uma releitura do ready made numa versão pós-moderna com toques japoneses. Na linha do registro histórico, Marcos Kimura presta homenagem aos pioneiros imigrantes japoneses que desembarcaram em Florianópolis, com elementos da paisagem local, compondo um antropofagismo visual. Para Chuniti Kawamura o forte é o flagrante cotidiano, influenciado pelo trabalho de fotojornalismo. Os temas da fluidez e mobilidade atraem Júlia Ishida, Cláudio Seto e Roger Noguti. Julia questiona a mobilidade e a imobilidade, num jogo conceitual entre opostos em que não existem contrários, e sim complementos. Cláudio Seto volta-se ao abstracionismo, à maneira de Mabe, sem o rigor da linha japonesa. Roger faz pesquisas com o tema da água dentro do ambiente da fotografia digital. No quarto grupo detectamos traços característicos do ocidente. O cotidiano doméstico é o tema de Adelina Nishimura e Akiko Mileo. Para a primeira, a rotina pode ser plástica, mas tem uma conclusão perversa. Akiko retoma tradições, não de antepassados míticos, mas da infância, em que os elementos marcantes são os da religiosidade. As fotografias de cenas urbanas com interferência da arte pop de Sandra Hiromoto poderiam levar o espectador a imaginar ícones conhecidos da arte de massa. Porém através de sua paleta de cores, a artista traz um efeito de familiaridade e afetividade, ao retratar as grandes cidades. Já Carol Chuman, busca o efeito oposto, o da estranheza. Do interior de um vaso brota a deterioração, ou quem sabe, a possibilidade de vida. Curiosidade O primeiro nipo-brasileiro a obter diploma de “doutor” na Universidade do Paraná foi Key Imaguire, filho do pioneiro do navio Kasato Maru, Yaichi Imaguri, e de Matsue Imaguire, imigrante da terceira leva. A formatura ocorreu em 1939. Pesquisa realizada pelo CRMPR indica que os descendentes de japoneses representam hoje cerca de 8% do contingente de médicos inscritos no Conselho do Paraná. Ao mesmo tempo, os “nikkeis” já são cerca de 12% entre os registrados no Conselho de Odontologia. História da imigração A imigração no Brasil teve início em novembro de 1808, quando D. João VI promulgou a lei que permitia a posse de terras por estrangeiros. Contudo, as condições para isso somente começaram a ser criadas em 1870. Entre os japoneses, os primeiros imigrantes somente chegariam quase 40 anos depois. O primeiro grupo de 791 pessoas deixou Kobe em abril de 1908, a bordo do navio Kasato Maru, que atracou no Porto de Santos em 18 de junho daquele ano. Os imigrantes foram acolhidos inicialmente em sua maioria nas lavouras de São Paulo. No Paraná havia muita resistência aos asiáticos, tanto que os três primeiros somente chegaram em abril de 1909. A colônia inaugural foi a Cacatu, instalada em Antonina, no litoral, em 1917. A comunidade foi bastante oprimida, especialmente durante e logo após a Segunda Guerra. A partir de 1958, coincidindo com a passagem pelo Paraná do Príncipe do Japão, Mikasa, irmão do Imperador Irohito, houve grande ascensão cultural e socioeconômica da comunidade japonesa, que contribuiu em muito para o desenvolvimento do Norte do Estado. Fonte: CRM-PR

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