NOTA OFICIAL Em razão das últimas notícias veiculadas na imprensa acerca do atendimento neurocirúrgico nos Hospitais do Estado do Rio de Janeiro e das distorções de declarações prestadas, a Sociedade Brasileira de Neurocirurgia sente-se na obrigação de esclarecer o seguinte: O pouco de qualidade no atendimento neurocirúrgico à população do Rio de Janeiro se deve à aceitação e à submissão que nós, médicos, nos sujeitamos há muitos anos, ao atender pacientes no chão, em macas, em corredores superlotados, em situações subumanas, sem condições de um exame detalhado e um diagnóstico preciso. Nas tentativas desesperadas em salvar vidas improvisamos instrumentos usando raios de bicicleta, borrachinhas de dinheiro e furadeiras domésticas; reaproveitamento de material descartável e talas de papelão; substituição de medicamentos essenciais por outros, operamos com desenhos em substituição a filmes de RX etc. Acostumamo-nos até mesmo a burlar o Código de Ética Médica, nossa lei maior, aceitando trabalhar em serviços tecnicamente deficientes e a realizar cirurgias de alta complexidade sem equipe completa e instrumental adequado para, no fim, vermos se eximirem de culpa os gestores da Saúde e nos incriminarem por tudo isso. A problemática do atendimento médico, e especialmente neurocirúrgico, não se resume a furadeiras “de marcenaria”, improvisadas e esterilizadas fora das normas em voga. A solução desta situação, evidentemente, não se resume na compra de craniótomos como está sendo anunciado pelas autoridades da saúde neste Estado. Também não se resolve concentrando atendimentos em pólos, nem gastando milhões em compra de equipamentos, nem no gasto de mais milhões em construções. A Sociedade Brasileira de Neurocirurgia sempre se posicionou na defesa do SUS, no oferecimento aos hospitais públicos de uma neurocirurgia de qualidade, com médicos qualificados e continuamente atualizados e na defesa dos neurocirurgiões brasileiros. Mas é fundamental criar mecanismos para atrair para o atendimento ao SUS destes médicos neurocirurgiões qualificados, titulados e com experiência, capazes de realizar este atendimento de alta complexidade e a continuamente aperfeiçoar os novos colegas, especialmente nos serviços de emergências. Mas isto jamais se conseguirá oferecendo remunerações aviltantes. Este problema não ocorre apenas no Rio de Janeiro, mas do Rio, por sua importância política, tudo tende a ecoar por todo o Brasil, que se acostumou a receber daqui exemplos de excelência na gestão pública. A SBN tem propostas sérias e exeqüíveis, que têm mostrado resultados excelentes em outras cidades brasileiras e estamos prontos a debatê-las com as autoridades da saúde municipais, estaduais e federais. Isso é possível e o momento pede. São Paulo, 24 de outubro de 2007.
Sociedade Brasileira de Neurocirurgia
