Quem já passou por algum cargo administrativo, sabe que dois anos é um tempo muito curto para promover mudanças numa instituição. A presidente da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia da Bahia (Sogiba), Nilma Antas Neves*, rapidamente entendeu o problema. Por isso, despede-se do posto, em dezembro, com a consciência tranqüila de que fez o que podia. Deixa como saldo um vitorioso congresso da especialidade, realizado em julho, diminuição do índice de inadimplência, investimentos em educação continuada e inserção da Sogiba em discussões de alta relevância social, como aborto e violência contra a mulher. Depois de Cremilda Figueiredo, reeleita conselheira do Cremeb, Nilma é a segunda mulher a presidir a Sogiba. Mesmo relutando a debater questões de gênero, reconhece que o “toque feminino” trouxe vantagens à sociedade. “Não dá para generalizar, mas a mulher é mais organizada, mais detalhista, tende a fazer as coisas com mais perfeição”, compara. Sensível ao empobrecimento da classe médica, ela focou suas ações num lema: oferecer aos ginecologistas e obstetras baianos qualidade a baixo custo. Isto se traduziu na promoção de cursos, seminários e jornadas, na capital e no interior do Estado, a preço de R$ 20. Realizado a cada dois anos, o último congresso da sociedade (o maior de todos os tempos, reunindo cerca de 700 pessoas) cobrou R$ 50 a inscrição. A fórmula? Patrocínio. Deu tão certo que permitiu à diretoria da Sogiba comprar um flat em Ondina, que será alugado aos sócios e a outras entidades a preços menores que os de mercado, diz a presidente. A Sogiba possui cerca de 1300 membros, dos quais apenas 320 estão quites com as mensalidades. Além da sede em Salvador, há núcleos regionais em Feira de Santana, Juazeiro, Valença e Vitória da Conquista. É a maior sociedade de médicos especialistas da Bahia. Na opinião de Nilma, os associados precisam desenvolver a consciência coletiva, sair do comodismo e entender que “a luta não é só de quem está nas diretorias”. Num exercício de autocrítica da sua gestão, revela que gostaria de ter dado mais atenção à defesa profissional, mas ela coincidiu justamente com a elaboração da Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos, documento que considera um avanço, pois trouxe, como diferencial, o respaldo do CFM. VIOLÊNCIA EM DEBATE – Na área social, a Sogiba também contabilizou ganhos. Municia, hoje, vide a quantidade de pareceres que emite, instituições como o Ministério Público Federal e o Estadual, cujo dever maior é zelar pelo bem-estar da comunidade. “Existe uma realidade muito difícil nos serviços, o médico não consegue dominar o ambiente em que trabalha, a instituição é deficiente e ele corre o risco de prestar um atendimento de má qualidade. Por outro lado, constatamos que boa parte das denúncias de erro médico resulta da falta de comunicação com o paciente”, observa Nilma. Em 2002 a Sogiba teve papel de destaque na etapa local de vacinação contra a rubéola. “Ajudamos a elaborar os folhetos informativos da campanha, lançada pelo Ministério da Saúde e regionalizada pela Sesab, e através do nosso jornal incentivamos os médicos a orientarem sua clientela”, lembra. No caso das gestantes, essas também souberam pelos jornais e pela TV de que não precisavam abortar, mas comunicar a gravidez ao posto de saúde mais próximo. O aborto foi, no último biênio, um tema bastante discutido pela Sogiba, seja em Salvador, seja no interior, a exemplo de Juazeiro, onde vários adolescentes e adultos se reuniram num fórum social. Numa parceria com o Cremeb, a entidade organizou, via Comissão de Ética e Defesa Profissional, coordenada pelo médico Adson França Santos, um seminário com a presença do professor Aníbal Faundes (Unicamp e Febrasgo) e do juiz federal Jorge Torres, de Campinas, a fim de debatê-lo. O silêncio que cercava o problema, enfim, foi quebrado. “Detectamos nesse período que os ginecologistas eram pouco ou mal informados e não havia normatização nas condutas. Uma ação que a Sogiba imaginou e conseguiu ver realizada através da Secretaria Estadual de Saúde foi a implementação de um serviço público de atendimento à mulher vítima de violência”, comemora a presidente. Ela se refere ao Iperba, único centro de referência na Bahia onde se pode realizar a interrupção da gestação prevista em lei, sem necessidade de alvará judicial. * Formada em 1987 pela Ufba, onde também cursou Residência e Mestrado, e para a qual entrou como professora concursada em 1992, Nilma Antas Neves é médica do Serviço Estadual de Oncologia (Cican) e membro da Câmara Técnica de Ginecologia do Cremeb. Em dezembro, ela transfere a presidência da Sogiba para o ginecologista Jorge Calabrich.

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