O Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Brasil tem uma meta clara e crucial: alcançar 95% de cobertura vacinal para a maioria dos imunizantes do calendário. Este patamar é cientificamente estabelecido como o mais seguro para assegurar a imunidade de rebanho – a proteção coletiva – contra doenças altamente contagiosas e potencialmente graves, como o sarampo e a poliomielite. No entanto, a realidade recente mostra um desafio significativo, já que nos últimos anos a cobertura vacinal tem se mantido perigosamente em torno de 85%, colocando em risco a saúde pública.

Para o Ministério da Saúde, o sucesso das campanhas de vacinação no Brasil pode ser medido a partir do volume total de doses aplicadas anualmente e da trajetória de cobertura das vacinas mais importantes do calendário infantil, tendo o país alcançado patamares notáveis de imunização entre os anos 2000 e meados da década de 2010.
A aplicação teve o seu pico em 2008, quando foram aplicadas 213 milhões de doses, período marcado por amplas campanhas e pela introdução de novos imunizantes, mas a partir de 2016 houve uma queda gradual e persistente nas coberturas. O piso foi em 2021, quando foram aplicadas 81 milhões de doses de imunizantes.
A baixa cobertura vacinal favoreceu a retomada de doenças antes controladas, como o sarampo, e resultou em surtos de doenças que haviam sido eliminadas, como a coqueluche. Há, ainda, o risco iminente de reintrodução de outras doenças, como a poliomielite (paralisia infantil).
O cenário é de preocupação, pois “traz de volta o risco de aumento da morbimortalidade infantil em decorrência de doenças imunopreveníveis, em razão das baixas coberturas vacinais.”, como alerta a Confederação Nacional dos Municípios (CNM).
O CFM defende a regularização da oferta de vacinas como condição necessária para que o Brasil alcance o percentual de cobertura do PNI. “Para alcançarmos 95% de cobertura, é preciso que todas as vacinas estejam disponíveis nos postos de saúde,” reforça José Hiran da Silva Gallo, presidente do CFM.
Veja, abaixo, como está o índice de cobertura das principais vacinas que fazem parte do PNI (dados de 2024).

Em relatório elaborado pelo Ministério da Saúde, o governo afirma que apesar de o ano de 2024 ter apresentado sinais de recuperação na aplicação de vários imunizantes, “os dados de 2025 estão incompletos e “não permitem antecipar se essa melhora se sustentará até o fechamento do ano, ou se novas variações ocorrerão”.
Hesitação Vacinal: O novo fator de risco
Para além da falta de disponibilidade de doses, especialistas apontam para um desafio crescente: a hesitação vacinal, ou seja, o atraso ou a recusa em se vacinar, mesmo com a vacina acessível.
“A hesitação vacinal tornou-se um dos principais obstáculos para que o Brasil retome as coberturas seguras de 95%. A desinformação e as fake news minam a confiança da população em um programa de imunização que é referência mundial. É fundamental que pais e responsáveis compreendam que a vacinação é um ato de responsabilidade individual e coletiva. Não podemos permitir que o medo infundado reintroduza doenças graves que custaram décadas de esforço para serem controladas.”, defende o conselheiro federal por Pernambuco e Coordenador da Câmara Técnica de Pediatria, Eduardo Jorge Fonseca.
A mobilização social, o combate à desinformação e o foco na repetição de doses são essenciais para que o país volte a ser uma referência em saúde pública e proteja sua população com o nível de cobertura de 95%.