No ano em que o câncer de mama tornou-se a forma mais comum deste tipo de doença no mundo, a produção de mamografias de rastreamento realizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em mulheres com entre 50 e 69 anos teve uma queda de 41% em relação a 2019. A informação foi apurada por meio do Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde do Brasil (CNES) e do Instituto Nacional de Câncer (Inca).
Números divulgados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) referentes a dezembro de 2020 mostram que o câncer de mama ultrapassou o de pulmão como a forma mais diagnosticada da doença no mundo. No Brasil, porém, o rastreamento desse tipo de câncer caiu de 2,6 milhões de mamografias feitas em 2019 para 1,5 milhão em 2020, indica o Inca.
O Conselho Federal de Medicina (CFM) identificou que, entre janeiro e setembro de 2021, o CNES registrou a aprovação de 2 milhões de mamografias bilaterais de rastreamento, sendo 48% (999,9 mil) delas na região Sudeste, que abriga 42% da população brasileira. O Nordeste e o Sul respondem, respectivamente, por 25% e 19%, enquanto as regiões Centro-Oeste e Norte realizaram 4% e 3% desses exames, nessa ordem.
Nos primeiros nove meses de 2021 foram realizadas 500 mil mamografias de rastreamento a mais do que em todo o ano de 2020, retornando à taxa média dos anos anteriores. Como em outras áreas da medicina, a queda no número de exames tem como causa as dificuldades impostas pela covid-19. Muitas pacientes postergaram as consultas e os serviços limitaram o número de atendimentos para priorizarem os casos de contaminação pelo coronavirus.
“Os números indicam que a limitação de serviços eletivos durante o primeiro ano de pandemia levou à queda do diagnóstico de doenças, como o câncer de mama, e que é preciso ampliar a cobertura de exames de rastreamento em mulheres que tenham a partir de 40 anos”, afirma Ademar Augusto, coordenador da Câmara Técnica de Ginecologia e Obstetrícia do CFM.
Prevenção e hábitos saudáveis podem ajudar

Ademar: pandemia influenciou o atendimento
“Incentivar as mulheres a buscar acompanhamento médico para detecção e controle do câncer de mama é primordial. Porém, também é necessário que o sistema de saúde comporte a demanda e disponibilize exames, equipes e tratamento sufi cientes. Não ter um mamógrafo ou retardar o início do tratamento é, em muitos casos, a perda de uma única chance”, alerta o ginecologista Ademar Augusto, conselheiro federal pelo Amazonas.
O CFM identificou que o SUS possui 4,9 mil mamógrafos em uso no País, sendo 900 com estereotaxia. A região Norte é a que tem menor disponibilidade: 294 mamógrafos, 59 dos quais com estereotaxia. Por sua vez, o Sudeste tem 2.294 equipamentos, sendo 373 com recurso de precisão disponível. As regiões Sul e Centro-Oeste têm, nessa ordem, 788 (156 com estereotaxia) e 431 (90). No Nordeste o SUS possui em uso 1.110 mamógrafos (222 com estereotaxia), de acordo com os dados disponibilizados pelo CNES até setembro deste ano.
De acordo com a OMS, “nas últimas duas décadas, o número total de pessoas diagnosticadas com câncer quase dobrou, passando de cerca de 10 milhões, em 2000, para 19,3 milhões, em 2020. Hoje, uma em cada cinco pessoas em todo o mundo desenvolverá câncer durante a vida. As projeções sugerem que o número de pessoas diagnosticadas com câncer aumentará ainda mais nos próximos anos, e será quase 50% maior em 2040 do que em 2020”.
O conselheiro destaca que diagnóstico e tratamento precoces reduzem a mortalidade por câncer de mama. Por outro lado, o tabagismo, o uso excessivo de álcool, a alimentação não saudável e o sedentarismo ou a prática insuficiente de atividade física potencializam o risco de desenvolver a doença. “Promover saúde é uma necessidade urgente”, alerta Ademar.
Pesquisa da Coordenação de Prevenção e Vigilância do Inca indica que “cerca de 13% dos casos de câncer de mama em 2020 no Brasil (aproximadamente 8 mil ocorrências) poderiam ser evitados pela redução de fatores de risco relacionados ao estilo de vida, em especial a inatividade física”.