
Retrato real: as ações de outubro tentaram suprir as lacunas surgidas com a “fuga” dos pacientes das consultas
Receio da Covid-19 afastou pacientes de consultas e exames, dificultando diagnóstico precoce da doença
Há quase duas décadas, o mês de outubro reúne esforços para combater o câncer de mama no Brasil. O Outubro Rosa busca conscientizar a sociedade para a prevenção e o diagnóstico precoce dessa doença, sendo a principal campanha mundial para conter o avanço nas estatísticas de morbidade e mortalidade no País. Em 2020, a ação ganha ainda mais importância em meio à pandemia, conforme apontam especialistas.
Florentino Cardoso, coordenador da Câmara Técnica de Oncologia (CTO) do Conselho Federal de Medicina (CFM), alerta para o prejuízo à prevenção e detecção precoce do câncer de mama em tempos de Covid-19. Segundo ele, de maneira compreensível, as pessoas deixaram de procurar os serviços de saúde por medo da contaminação pelo novo coronavírus e em respeito às restrições determinadas pelas autoridades para reduzir o contato social.
Ele afirma que, por conta da não realização de consultas e exames periódicos, vários diagnósticos deixaram de ocorrer, provocando retardo na identificação da doença. “Quando há esse retardo, a consequência natural é detectar o câncer em estágios mais avançados, o que reduz as chances de cura. O ideal é que se localize o tumor antes que ele seja palpável, e se tem diagnóstico feito precocemente a chance de cura é de quase 100%, quando tratado adequadamente”, disse Cardoso.
Exames – Essa perspectiva dá ainda maior relevância às ações do chamado Outubro Rosa. “É preciso chamar atenção da população, das autoridades e dos serviços de saúde para que as mulheres façam os exames seguindo orientações médicas, para prevenção e diagnóstico precoce. Recomenda-se mamografia anual às mulheres a partir dos 40 anos de idade”, afirmou o conselheiro.
Neste ano, o Ministério da Saúde lançou campanha com o slogan “Cuidado com as mamas, carinho com seu corpo”. O órgão reforçou que, mesmo com a pandemia da Covid-19, o Sistema Único de Saúde (SUS) continua com atendimento e oferta de tratamento adequado às pacientes.
Por sua vez, a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) promoveu o movimento de conscientização “Quanto antes melhor”, que sugere às mulheres a adoção de um estilo de vida saudável no dia a dia, com a prática de atividades físicas e boa alimentação para evitar doenças, como o câncer de mama.
“Essas atitudes auxiliam porque entre os fatores de risco estão os genéticos e os relacionados a estilo de vida e atividade física. A obesidade é um fator importante de atenção para as mulheres; aquelas sedentárias e obesas normalmente têm mais câncer de mama”, comenta Florentino Cardoso. O coordenador da CTO-CFM destaca ainda que, quando o câncer é confirmado, o tratamento é multidisciplinar e depende do estágio da doença.
Ação começou nos EUA
O Outubro Rosa foi criado na última década do século XX, nos Estados Unidos, pela Fundação Susan G. Komen for the Cure, em um movimento global de conscientização para o controle do câncer de mama. O laço cor-de-rosa foi lançado pela instituição e distribuído aos participantes da primeira Corrida pela Cura, realizada em 1990, em Nova York. Desde então, a prova ocorre anualmente na cidade.
No Brasil, o primeiro sinal do envolvimento com a campanha foi em 2002, quando o Obelisco do Ibirapuera, em São Paulo, foi iluminado com luzes cor- -de-rosa. Depois, diversas entidades relacionadas ao câncer de mama começaram a iluminar monumentos em diferentes cidades, e a simbologia do gesto foi crescendo.
O mês de outubro passou a ser dedicado a ações para conscientização, divulgação de informações, maior acesso a serviços de diagnóstico e de tratamento para então contribuir com a redução da mortalidade. Oficialmente, o Outubro Rosa foi instituído pela Lei nº 13.733/18. A cada ano, mais pessoas e entidades se envolvem com a divulgação da campanha para lembrar que é momento de fazer o rastreamento para a detecção precoce do câncer de mama.
Para saber mais sobre câncer, acesse: www.inca.gov.br.